O primeiro-ministro grego Alexis Tsipras acusou Portugal e Espanha de terem conduzido uma conspiração para derrubar o seu governo, adianta a Reuters.
Num discurso dirigido aos membros do seu partido, Tsipras acusou os dois países de terem tornado difíceis as negociações com a União Europeia, que levaram à extensão do programa de resgate por mais quatro meses. “Descobrimos que existem eixos de poder que se opõem a nós, conduzidos pelos governos de Portugal e Espanha e que, por razões políticas óbvias, tentaram destruir as negociações”, referiu este sábado.
“O plano deles era e é desgastar, derrubar ou fazer o nosso governo render-se incondicionalmente antes que o nosso trabalho comece a dar frutos e antes que o exemplo grego afete outros países”, disse. “E principalmente antes das eleições em Espanha”, acrescentou.
No mesmo discurso, Tsipras rejeitou também as críticas de que Atenas encenou um recuo para garantir a extensão do resgate, dizendo que a raiva sentida pelos conservadores alemães é um sinal de que o governo grego conseguiu algumas concessões.
Na entrevista publicada este sábado no Expresso, Passos Coelho recusa que Portugal tenha sido o mais duro do euro contra a posição do novo Governo da Grécia nas negociações do Eurogrupo. “Houve seguramente países muito mais preocupados com as condições em que se haveria de começar esta conversa com a Grécia do que o Governo português”.
Passos entende, aliás, que a Grécia tem muito caminho difícil pela frente.“Posso expressar o desejo de que a Grécia se mantenha no euro e resista a esta prova difícil, que é importante para toda a União Europeia”, diz, recusando porém dizer se confia que o Governo de Tsipras consiga cumprir as condições estabelecidas pela troika. “Até hoje a única coisa que se passou foi isso: a extensão do empréstimo e também do programa”.
Admitindo não ter ainda falado pessoalmente com o líder do Syriza, o primeiro-ministro português admitiu que falará com o Alexis Tsipras no próximo Conselho Europeu, a meio de março.
As notícias sobre as posições duras assumidas por Portugal e Espanha no Eurogrupo )que acabou por dar luz verde à extensão do programa grego e do empréstimo da troika) começaram por sair na televisão grega e foram comentadas pelo próprio Yanis Varoufakis na conferência de imprensa final: “Eu comprometi-me a dizer a verdade, mas também há uma coisa chamada boas maneiras. Foi claro na reunião que os ministros de Espanha e Portugal que são motivados pelas prerrogativas políticas deles, eu respeito isso. O importante é termos uma conversa sensível sobre como a Grécia — e também Portugal — podem crescer e pagar as suas dívidas. Para fazer isto tenho que manter uma boa relação com a minha colega. Permitam-me, assim, que não continue esta conversa a este ponto.”
No dia seguinte, já depois do ministro espanhol ter dito que não esteve contra o acordo, a ministra Maria Luís Albuquerque fez declarações à TVI dizendo-se satisfeita com o acordo alcançado e negou que tenha feito oposição ao entendimento que consagrou a extensão do financiamento da Grécia durante quatro meses. “Não sugeri a alteração de uma vírgula” ao texto, “a minha intervenção foi construtiva”, afirmou Maria Luís Albuquerque, acrescentando que apenas defendeu que os “procedimentos habituais” fossem seguidos nesta situação.