A dívida de Pedro Passos Coelho à Segurança Social continua a marcar a agenda mediática e politica. Agora, foi a vez de Pedro Santana Lopes e António Vitorino se pronunciaram sobre a questão, que entretanto já se transformou num pingue-pongue de acusações entre PSD e PS. Os dois, apesar das diferentes cores políticas que vestem, concordaram num ponto: o primeiro-ministro deve um “pedido desculpa aos portugueses”.

No programa Edição da Noite, na SIC Notícias, Pedro Santana Lopes foi o primeiro a lançar os dados. Apesar de sublinhar que “houve manifestamente uma falha que o primeiro-ministro deve clarificar”, o antigo líder do PSD fez questão de lembrar que nos idos de 2000 – período em que Passos Coelho acumulou uma dívida à Segurança Social – “a sobreposição de regimes” tornava a tarefa de quem queria regularizar a situação contributiva “complexa”. Agora, “se a falha existiu, só há duas atitudes: ou pede desculpas ou assume as consequências”, defendeu Santana Lopes.

Também António Vitorino, ex-ministro da Presidência de António Guterres, afinou pelo mesmo diapasão: “Esta era uma boa ocasião para pedir desculpas aos portugueses, não outras”. Além disso, defendeu o socialista, “o caso está a ser mal gerido a nível político (…). É um erro permitir que hoje haja uma dúvida sobre, mesmo tendo pago a dívida já prescrita, se pagou tudo ou se não se pagou tudo, porque isso mantém em lume brando a questão”, sublinhou o socialista referindo-se à notícia do Público, que revelou que, afinal, Passos Coelho não terá pago a totalidade do montante em falta.

A polémica que envolveu Passos Coelho mereceu um contra-ataque de alguns representantes do PSD que recuperaram uma notícia do extinto jornal Tal & Qual sobre um alegado incumprimento fiscal de António Costa – notícia, entretanto, já desmentida pelo próprio. Os comentadores também concordaram em descrever esta sucessão de polémicas como o arranque da campanha eleitoral – já se ouve o rufar dos tambores de guerra, ou, nos termos em que António Vitorino colocou, “vão ser sete meses longos e penosos de campanha eleitoral muito desagradável” que vão deixar o país “esgotado”.

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Mas, se é verdade que a corrida a São Bento já começou, a campanha “pré-presidencial”, essa, volta e meia parece reaquecer – foi isso que aconteceu quando o nome de Manuela Ferreira Leite surgiu para agitar as águas e parece ter sido essa agora a intenção de Santana Lopes que, a propósito da polémica da Passos, decidiu dedicar uma alfinetada ao outro “pré-canditado”, Marcelo Rebelo de Sousa:

“Sabe que todos se enganam. Até um ilustre professor de direito que costuma falar ao domingo se enganou redondamente quando disse que uma dívida prescrita não pode ser paga. Mas aí também há um significado político: se tivesse sido perguntado se Passos Coelho, na entrevista ao Expresso, no sábado, mantinha a mesma opinião presidencial do próprio, ele provavelmente tinha vazado mais a bílis. Passos Coelho manteve [a opinião] e como não lhe foi perguntado ele descarregou a bílis toda para ver se despacha Passos Coelho e a questão presidencial”, afirmou Santana Lopes, para depois clarificar que se estava mesmo a referir a Marcelo.

As sondagens e a polémica de António Costa

A entrevista do primeiro-ministro ao Expresso serviu, também, para fazer a ponte para os resultados das últimas sondagens que dão conta que, coligados, PSD e CDS têm hipótese de vencer as eleições. Desafiado a responder sobre uma eventual coligação entre sociais-democratas e democratas-cristãos, Santana Lopes sublinhou que não via a coligação como uma “fatalidade”, ainda que neste momento seja “praticamente certa” – até porque “ir sozinho para o mar é complicado”, lembrou o ex-presidente da Câmara de Lisboa.

Apesar disso, Pedro Santana Lopes recordou o episódio em que ele e Paulo Portas “estiveram quase a coligar-se” para correrem juntos a Lisboa para, no final, Portas roer a corda com um “cartaz no Marquês que dizia ‘Eu fico'”. Talvez em jeito de prenúncio, Santana lembrou: “O PSD ganhou sem o CDS. Se tivesse ido com o CDS tinha ido buscar os votos à esquerda?”.

Em relação a uma outra polémica que marcou a última semana, as palavras de António Costa sobre o estado do país, António Vitorino definiu o tom: ainda que o país esteja “obviamente diferente”, foi uma declaração “imprudente e infeliz”, defendeu o socialista. Ainda assim, o Governo também não ficou bem na fotografia quando tentou transformar as palavras de Costa num “debate sobre o caráter”.

E, neste ponto, Santana Lopes e Vitorino voltaram a concordar: a campanha eleitoral e a política portuguesa devem ter mais elevação. Foi o antigo primeiro-ministro que deixou o mote: “Como é que o PSD goza tanto com António Costa? Estão a caricaturar algo que deveria ser tomado pelo seu lado sério. Se isto continua assim pelo ano fora, eu não sei onde vai parar tanta gracinha. É melhor que nos deixemos de carnavais e passemos a assuntos sérios“, defendeu Santana Lopes.