“Está tudo bem, obrigado por nada”, escreveu Diana Hemingway, uma prostituta transsexual australiana, no Twitter. A acompanhar, deixou uma fotografia sua na praia onde se apresenta numa pose descomplexada e com um sorriso evidente. Não parece querer que sintam pena dela. No fim da mensagem, deixa a hashtag #FacesOfProstitution.

É o mais recente fenómeno nas redes sociais, em que várias trabalhadoras da indústria sexual da Austrália publicaram fotografias suas. O propósito era provar que aquelas eram as verdadeiras caras das prostitutas daquele país: felizes, saudáveis e sorridentes.

Tudo começou quando a Mamamia, uma revista feminina australiana, republicou um texto assinado por uma ativista norte-americana contra a escravatura sexual. O artigo surgiu a propósito do 25º aniversário do filme Pretty Woman (em Portugal, “Um sonho de mulher”). A história fala de um empresário que recorre aos serviços de uma prostituta. Os dois, sem contarem com isso, acabam por se apaixonar um pelo outro.

Laila Mickelwait, autora do texto, argumenta que o filme onde Richard Gere contracena com Julia Roberts retrata a prostituição como “glamorosa e romântica”, e que já conheceu várias mulheres que começaram a prostituir-se depois de verem este filme. O texto concluía dizendo que “o sorriso cheio de dentes da Julia Roberts não é a cara da prostituição. A verdadeira cara da prostituição é a cara de Maria, que é mesmo uma prostituta na Europa de Leste”, aludindo a uma fotografia de uma prostituta ucraniana viciada em droga. O retrato em questão foi um dos premiados pelo World Press Photo, em 2012.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A reação que agora está a dar que falar na Austrália partiu de Tilly Lawless, uma prostituta de 21 anos de Sydney. Em declarações à BBC, disse que o artigo em causa “generalizava os trabalhadores sexuais” e “retratava toda a prostituição como má”. No Instagram, Lawless define-se simplesmente como “Estudante universitária. Futura advogada. Ativista. Filha, irmã, trabalhadora sexual. Não preciso que me salvem”.

Não demorou pouco até outras prostitutas se juntassem a Lawless:

“*inspiração funda* a minha #FacesofProstitution. Sou mãe, esposa, feminista e trabalhadora sexual. Nada disto me define por si só”

“Sou uma prostituta que ama os seus pais e eles amam-me! Divertimo-nos sempre que podemos! #FacesOfProstitution”

“Vejam quão falsamente feliz pareço. Tenho nojo de mim própria, salvem-me!”

 

Prostituição é legal na Austrália

A prostituição é legal em toda a Austrália, embora haja diferenças entre os seus seis estados. Em metade destes, os bordéis são ilegais e a prostituição não é regulada. Nos outros, o contrário é regra.

Porém, a situação não será perfeita. Num artigo de opinião de 2011 no jornal de Melbourn “The Age”, escreveu-se que havia à data cerca de “400 bordeis ilegais em Victoria, quatro vezes mais do que o número daqueles que são legais”. O texto argumenta também que a regulação da prostituição não resultou em maior segurança, referindo que “um estudo de 1998 apontou que 40% dos clientes não usam preservativo”.