Especialistas defendem que a placa tectónica indiana, que se desloca continuamente para norte, deslizou mais um pouco sob a placa eurasiática, provocando o violento sismo no Nepal, que fez milhares de mortos e poderá ter deslocado Katmandu alguns metros.

“Este tremor de terra não foi uma surpresa, porque estamos numa zona de colisão” entre a placa tectónica indiana e a placa eurasiática”, explicou Yann Klinger, diretor de investigação do Centro Nacional de Investigação Científica francês (CNRS), especialista na tectónica das placas, citado pela agência de notícias francesa, AFP.

Segundo Klinger, “a placa indiana desloca-se para norte à razão de quatro centímetros por ano” e desses quatro, dois centímetros situam-se precisamente ao nível da cadeia montanhosa dos Himalaias.

Juntamente com colegas de outros países, Klinger estuda há vários anos os sismos antigos ocorridos numa parte dos Himalaias, com o objetivo de construir “um ciclo sísmico” e prever com que periodicidade poderá registar-se um novo sismo. O seu estudo revisto será ser em breve publicado.

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“Nós calculámos que isso poderá ocorrer de cerca de 700 em 700 anos” e que a zona afetada este fim de semana “se partiu provavelmente pela última vez em 1344 — portanto, estava na altura”, acrescentou o especialista.

“Tínhamos visto que a secção que acaba de se quebrar atingira um nível de carga provavelmente próximo da rutura”, precisou.

O sismo de magnitude 7,8 na escala de Richter foi provocado pela abertura de uma grande falha, que gerou ondas ainda mais fortes por se ter dado muito rapidamente. O epicentro do sismo situou-se a cerca de 80 quilómetros de Katmandu.

James Jackson, especialista em tectónica da Universidade de Cambridge, concluiu, com base na análise das ondas sísmicas registadas após o tremor de terra, que “a zona em torno de Katmandu, a capital do Nepal, deslizou provavelmente cerca de três metros para sul”.

A região de Katmandu também se elevou cerca de 50 centímetros, enquanto no norte, houve uma área que baixou 50 centímetros, assegurou.

Em contrapartida, apesar de o Evereste (8.848 metros) ter sentido a atividade sísmica, o que desencadeou avalanches, isso não deverá ter alterado a sua altura, considera James Jackson.

“Está demasiado longe” do epicentro do sismo, “não foi verdadeiramente afetado”, acrescentou.

A medição das ondas mas também os sensores instalados no Nepal permitirão ter uma ideia mais precisa da nova cartografia do país. E os satélites permitirão também ver a deformação da crosta terrestre.

De acordo com diversos especialistas cujas reações foram divulgadas pelo Science Media Centre, as réplicas do sismo ocorrido no passado sábado, 25 de abril, vão continuar.

“As réplicas deverão diminuir de intensidade com o tempo, mas poderão ainda ser sentidas durante várias semanas”, sustentou Ian Main, professor de sismologia na Universidade de Edimburgo.

Sandy Steacy, responsável da Escola de Ciências Físicas da Universidade de Adelaide, considera “provável” que haja “várias réplicas de magnitude 5 e talvez algumas de magnitude 6 ou mais”.

“O sismo aumentou a pressão sobre os segmentos vizinhos da falha ou das falhas adjacentes e elas são mais propensas a quebrar”, apontou Marc Allen, do departamento de Ciências da Terra da Universidade de Durham.

Segundo Allen, poderá haver outros tremores de terra na região nos próximos meses.

Yann Klinger concorda, afirmando: “A placa indiana nunca para. Esta região continuará a ter fortes sismos”.