Luís Marques Mendes aconselhou este domingo Pedro Passos Coelho a formar um Governo com nomes fortes para não ser tão facilmente derrubado e admitiu que se a esquerda vier a formar Governo após uma moção de censura ao programa da coligação isso será um autêntico Euromilhões para a direita.
“Passos devia surpreender com um grande governo nas figuras. Tem que ter um governo forte, de qualidade. Não pode ter um governo pífio, de segundas linhas, até para condicionar o adversário. Se as pessoas virem um governo forte, consideram ainda mais absurdo derrubar um bom governo”, disse na SIC o comentador e ex-líder do PSD, convicto que o Presidente dará posse ao líder do PSD.
Segundo Mendes, a polémica sobre quem deve ser primeiro-ministro, se Passos ou Costa, “não é uma questão ideológica, mas de respeito pelos eleitores”. “As pessoas sentem-se traídas, enganadas no seu voto. Há muita gente a ter a sensação que é batota. Parece que ganha um e quem vai é o outro”, defendeu. “Do ponto de vista formal, pode ter razão, mas do ponto de vista político as pessoas vão pensar que quis derrubar um Governo pela ambição do poder, porque queria ser primeiro-ministro”.
O ex-líder do PSD lembrou que já houve dois governos minoritários mais pequenos: o de Cavaco em 1985 com 82 deputados e o de José Sócrates em 2009 com 97 deputados. A coligação tem 107 deputados.
Mendes está convicto que o Presidente “vai fazer aquilo que tem sido normal em Portugal e indigitar Passos, mesmo que Costa apresente um eventual Governo à esquerda”. “O pior é a seguir”, avisou. Se esse Governo for derrubado com uma moção de rejeição do programa de Governo, será “a primeira vez em 41 anos” que um Governo saído das eleições é chumbado.
E, aí, o PS pode pagar um preço alto, “um suicídio”, como pagou em 1987 quando ajudou a derrubar o Governo minoritário de Cavaco e só conseguiu voltar ao poder oito anos depois. “Se isso acontecer, se for para a oposição, sai-lhe o Euromilhões, porque quando houver eleições a coligação vai ter uma maioria absolutíssima”, defendeu Mendes, considerando que nos últimos dias “a coligação tem andado aos bonés”.
Por outro lado, Mendes aconselhou Cavaco a exigir por escrito três condições a um eventual Governo de esquerda liderado por António Costa, uma vez que a hipótese de manter um Governo em gestão seria “um disparate”.
“Vai ter que impor condições fortíssimas. Costa vai ter que governar limitado e há um precedente. Há 11 anos, Jorge Sampaio fez isso com Santana Lopes”, lembrou. Essas três condições são honrar os compromissos com a UE e a NATO, estabilidade (acordo assinado pelos líderes do PS, PCP e BE) e “condições orçamentais concretas e não retóricas”.
Sem isso, do exterior “olhava-se para Portugal e pensava-se: ‘Isso é uma coligação ou uma manta de retalhos? Era a gargalhada!”, disse Mendes.
“Cavaco podia não gostar, dar voltas na cadeira porque isso lhe faz uma comichão de outro mundo, mas havia uma responsabilização”, acrescentou.