O congresso do PSD em Espinho, este fim de semana, é uma oportunidade para o partido iniciar um novo ciclo – marcado por uma “oposição mais agressiva” a António Costa – que já poderia ter começado após as Presidenciais. A opinião é de Paulo Rangel, que, em entrevista ao Público, diz que o partido tem necessidade de uma “agenda reformista” e de “aparecer com mais rostos” que “poupem o próprio líder a uma intervenção quase diária”.

“Depois do processo eleitoral, houve um período de adaptação a um novo ciclo político cujo processo foi bastante crispado e tenso. A partir do momento em que está tudo digerido — e penso que o ciclo final foi a eleição do Presidente da República —, o partido já teve tempo de se adaptar e devíamos já estar num postura mais interventiva e agressiva, uma oposição mais forte em vários domínios”, afirma Paulo Rangel.

Compreendo que tivesse havido uma certa inércia, mas a partir do momento em que se fechou o novo ciclo político, o PSD já devia estar, pelo menos em alguns nichos, a fazer oposição mais ativa, porque o país precisa dessa oposição.”

O eurodeputado do PSD pressiona Passos Coelho a combater um “Orçamento [do PS] que é globalmente mau” e um governo de António Costa que “trabalha na política das meias-tintas – dão uma coisa aqui, dão outra coisa ali. Negoceiam aqui, negoceiam ali”. Para Rangel, o “país precisa de um rumo claro” porque “esta política que o Orçamento contém vai ter efeitos nefastos para os portugueses”.

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Paulo Rangel salienta, contudo, que Passos Coelho tem condições para continuar na liderança do PSD. “Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Mário Soares perderam eleições e ninguém se lembrou de os pôr em causa. No caso de Passos Coelho, até ganhou as eleições…”, afirma.

O que o PSD precisa é de uma “agenda reformista” – “que até tem que ver com uma certa autocrítica sobre aquilo que foram os nossos últimos quatro anos e meio” – e de “rostos novos” que “poupem o próprio líder a uma intervenção quase diária”.

E que pessoas podem ser essas? “Pessoas que têm uma história no PSD recente, ou que não têm estado tão envolvidas politicamente e há ainda outras que têm de ser recuperadas”, diz Paulo Rangel.

Aquilo de que o PSD não pode depender é de apoios do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. “A variável presidencial é uma variável independente. O PSD não deve pedir, nem esperar nada do Presidente. O Presidente tem de fazer aquilo que lhe compete. Não temos de esperar nada do Presidente. Nem nós, nem o PS”, diz Paulo Rangel.

Paulo Rangel afirmou, ainda, quando questionado se admite uma candidatura à liderança do PSD em 2017 que não está “a pensar nisso”.

Há muita gente para isso. Nós precisamos neste momento de mais porta-vozes, de mais quadros, agora de eventuais candidatos a líder não temos falta. Há gente com valor para isso.”

E Rui Rio seria um bom líder? “Claro que sim”, diz Rangel do antigo presidente da câmara do Porto que já anunciou que não estará no Congresso para não arriscar ser visto como um “elemento central” do evento. “Vou ao congresso dizer o que penso. Se outros acham que não devem ir, é um problema deles“, atirou Paulo Rangel.