A plataforma de associações que está a organizar a participação portuguesa na manifestação ibérica de sábado, pelo encerramento da central nuclear de Almaraz, Cáceres (Espanha), tem já confirmadas mais de 400 pessoas de vários pontos do país.

“Estamos bastante otimistas e expectantes com a participação portuguesa nesta manifestação, que vai ser, de longe, a maior presença portuguesa em manifestações do género. Neste momento, temos confirmadas mais de 400 pessoas e até sábado certamente que mais irão”, disse à agência Lusa Nuno Sequeira, da organização ambientalista Quercus.

Segundo o representante, este é um sinal “muito claro” de que a sociedade portuguesa está mobilizada em torno da questão do nuclear e da central de Almaraz, em concreto. “Há efetivamente um interesse crescente em torno da central nuclear e dos perigos que esta representa”, afirmou.

O ambientalista adiantou ainda que há também “um sinal muito forte” dirigido ao executivo português: “O Governo deve perceber que a sociedade está cada vez mais unida à volta desta questão e que exige que sejam tomadas medidas junto do Governo espanhol para que o interesse e a segurança nacionais sejam defendidos”.

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Em declarações à Lusa, o eurodeputado Carlos Zorrinho (PS) disse que a manifestação pelo encerramento da central nuclear de Almaraz é inteiramente justificada. “É uma ação cívica inteiramente justificada, tendo em conta o facto de a central estar a operar para além do seu período de vida útil, ter reportado recentemente diversos incidentes de funcionamento e constituir, por isso, um risco efetivo para as populações de Espanha e Portugal, bem como para o rio Tejo”, apontou.

O eurodeputado explicou que situações similares têm ocorrido noutras centrais nucleares europeias, com forte reação cívica, e adiantou que 66% das centrais a operar na Europa já ultrapassaram o seu período de vida de referência.

A eurodeputada Marisa Matias (BE) espera que a manifestação de sábado seja um sinal inequívoco de que as populações de ambos os lados da fronteira querem o encerramento deste equipamento. “Urge fechar Almaraz. Esta central nunca deveria ter existido, já ultrapassou o seu tempo de vida em 2010 e o Governo do Estado espanhol ainda quer prolongar o seu funcionamento até 2030”, recordou.

Marisa Matias sublinhou que, no âmbito da sua atividade de deputada europeia, acompanhou de perto o acidente da central nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, na sequência de um forte sismo, com milhares de mortos e desaparecidos. “É um cenário que ninguém pode querer ver repetir-se, nem que seja por uma ínfima probabilidade, muito menos quando essa probabilidade não é assim tão improvável”, referiu.

Também o deputado português do PAN está confiante no crescendo que o movimento antinuclear está a tomar. “Sabemos que o próximo Governo espanhol terá que levar em conta a vontade de um cada vez maior número de cidadãos, de ambos os lados da fronteira, para desmantelar esta e outras centrais nucleares que se encontram obsoletas e representam um perigo real e iminente para as pessoas e para o equilíbrio dos territórios”, afirmou.

André Silva disse que é “incompreensível” que o Governo português não se empenhe o mínimo em trabalhar para uma Europa sem nuclear e baseada numa rede de energias renováveis e limpas.

“Continuamos sem compreender quais os motivos que ainda não levaram os ministros do Ambiente e da Economia a reunir-se com os seus homólogos espanhóis para defender os interesses dos portugueses e dos nossos ecossistemas”, sublinhou.

A funcionar desde o início da década de 1980, a central está situada junto ao Tejo e faz fronteira com os distritos portugueses de Castelo Branco e Portalegre, sendo Vila Velha de Ródão a primeira povoação portuguesa banhada pelo Tejo depois de o rio entrar em Portugal.

Em fevereiro, partidos e associações portugueses expressaram a sua preocupação depois de notícias de que inspetores do Conselho de Segurança Nuclear espanhol tinham alertado para “falhas no sistema de arrefecimento de serviços essenciais” da central.