A equipa de Donald Trump que está a preparar a transição com a administração de Obama tem estado, nos últimos dias, em convulsão. Com a demissão de Mike Rogers, o responsável pelas questões de segurança no núcleo de Trump, o processo de transição ficou temporariamente bloqueado. Antes, já Chris Christie, que liderava a equipa responsável pelos contactos com a presidência atual, tinha sido afastado, e substituído pelo próprio vice-presidente eleito, Mike Pence. Agora, segundo o New York Times, há líderes dos aliados internacionais dos EUA que estão a tentar telefonar para a Trump Tower para contactar Donald Trump. O processo está a ser baseado no improviso, escreve o jornal nova-iorquino.
Os jornais americanos falam em pelo menos mais quatro afastamentos dentro da equipa de Trump. De acordo com fontes ouvidas pelo Washington Post, nos últimos dias saíram da equipa Richard H. Bagger (diretor-executivo da equipa de transição), William J. Palatucci (do conselho-geral da equipa de transição) e Kevin O’Connor (responsável pela transição no Departamento de Justiça). O New York Times acrescenta que Matthew Freedman, que estava responsável pela transição no Conselho de Segurança Nacional, também foi afastado.
As mudanças nos cargos de topo da equipa de transição deixaram o processo temporariamente bloqueado, mas, como avança o Wall Street Journal, o vice-Presidente eleito, Mike Pence, já assinou os documentos necessários, pelo que já está oficialmente a liderar o processo. A primeira ação de Pence à frente da equipa de transição foi precisamente o afastamento de todos os lobistas do núcleo de Trump. Para Chris Collins, responsável pelas relações da equipa de Trump com o Congresso, “as coisas estão a avançar muito bem”. Citado pelo Wall Street Journal, sublinha: “Estamos a avançar passo a passo”.
A novela familiar que Jared Kushner não perdoou
A onda de saídas de elementos da equipa de Trump foi descrita por fontes ouvidas pelo New York Times como uma “purga orquestrada por Jared Kushner”, genro de Donald Trump e um dos homens fortes do próximo presidente dos EUA. Segundo o jornal, Kushner está a afastar da equipa do sogro todas as pessoas com relações a Chris Christie, o primeiro a ser retirado.
A má relação entre Jared Kushner e Chris Christie remonta a 2005, altura em que Christie era procurador no estado de New Jersey e Charles Kushner, pai de Jared, era o líder dos negócios da família. Foi precisamente uma espécie de telenovela familiar que, depois de ganhar proporções consideráveis, levou à tensão vivida hoje no caminho de Trump para a Casa Branca. Para evitar que a sua irmã, Esther, testemunhasse contra ele num processo familiar, Charles Kushner contratou uma prostituta para seduzir o seu cunhado. A ideia era filmar o encontro e enviar as imagens para a sua irmã, para poder chantagear o casal. O estratagema acabou por correr mal, e foi o próprio Charles a ser apanhado com a prostituta. O procurador Chris Christie foi o responsável pela acusação, e mandou o pai Kushner para a cadeia, ficando o filho Jared responsável pelos negócios familiares.
Está sim, é da Trump Tower?
Entretanto, enquanto a equipa de Trump vai sofrendo baixas e acumulando polémicas, há líderes internacionais a tentar perceber como vão ser as relações entre os EUA e o resto do mundo. Mas, com um processo tumultuoso em curso, há dificuldades em falar com o próximo Presidente norte-americano. Segundo o New York Times, há líderes a improvisar e a telefonar para a Trump Tower, para tentar contactar diretamente Donald Trump. Fonte diplomática ouvida pelo jornal nova-iorquino conta que o presidente egípcio, Abdel Fattah el-Sisi, foi o primeiro a conseguir chegar a Trump por esta via secundária. Depois, foi o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e ainda a primeira-ministra britânica, Theresa May.
Dentro do Partido Republicano, multiplicam-se as vozes em desacordo com Trump. A mais recente foi a de John McCain, senador pelo estado do Arizona que se candidatou à presidência em 2008, perdendo contra Barack Obama. O republicano veio dizer que a proximidade de Trump ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, significa uma “cumplicidade com a carnificina contra o povo sírio”. Apesar do processo aparentemente desorganizado, e de ter uma equipa em permanente reestruturação, Donald Trump permanece confiante. Num tweet publicado na noite de terça-feira, após um encontro com Mike Pence na Trump Tower para discutir o processo de transição, o Presidente eleito sublinhou que está em curso “um processo muito organizado”. Trump acrescentou ainda: “Só eu sei quem serão os finalistas!”.
Very organized process taking place as I decide on Cabinet and many other positions. I am the only one who knows who the finalists are!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 16, 2016
Enquanto muitos vão sendo afastados da equipa, Trump vai continuando a escolher a sua administração. Por agora, há dois nomes apontados para o mais alto cargo diplomático do país, o de Secretário de Estado: Rudolph Giuliani, antigo mayor de Nova Iorque, e John Bolton, ex-embaixador dos EUA nas Nações Unidas. Com as dificuldades sentidas em manter uma equipa estável, Trump tem confiado sobretudo no seu pequeno círculo de confiança. A imprensa americana destaca que estas dificuldades refletem a falta de experiência de Trump na política. Além disso, como Trump preferiu assumir-se como anti-sistema, e não tem o apoio generalizado do Partido Republicano, não pode contar com alguns políticos republicanos de administrações anteriores, como a de Bush.
Trump também já reagiu à publicação, esta quarta-feira, de reportagens na imprensa americana sobre as confusões na sua equipa de transição:
The failing @nytimes story is so totally wrong on transition. It is going so smoothly. Also, I have spoken to many foreign leaders.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 16, 2016