O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou que o feriado do 1º de Dezembro tivesse sido suspenso pelo anterior Governo, mostrando-se satisfeito com a sua reposição, durante o discurso que fez na cerimónia de comemoração do Dia da Restauração, esta quinta-feira na Praça dos Restauradores, em Lisboa. No discurso, que precedeu o de António Costa, o Presidente da República salientou ainda a importância simbólica do feriado e apelou a um Portugal mais justo.
“O que nos une aqui hoje é Portugal, Portugal intemporal que viu um monarca, vai para 130 anos, estar neste monumento de homenagem à Restauração”, começou por dizer o Presidente da República, num discurso que fechou a cerimónia de comemoração da Restauração da Independência. Chamando a atenção para o “gesto fundador do Governo Provisório da República”, que criou “o feriado do 1º de Dezembro”, Marcelo afirmou que o “feriado nunca deveria ter sido suspenso”.
“O que celebramos e celebraremos sempre é a nossa pátria e a nossa independência”, afirmou. “Independência política, independência financeira e económica — que exige rigor crescimento emprego e justiça social e recusa sujeições escuras, subserviências, minimizações intoleráveis quando todos sabemos que as nossas e os nossos compatriotas são cá dentro e lá fora os melhores dos melhores –, independência ética que impõe o respeito da pessoa humana, dos deveres e direitos fundamentais, da isenção, da honestidade da transparecia da vida comunitária.”
Chamando a atenção para o facto de o 1º de Dezembro ser também uma celebração da “nossa pátria” e da “nossa independência”, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que a comemoração da Restauração traz consigo “um sentido de compromisso, passado de avós para pais, de pais para filhos”.
“Um compromisso de fazermos um Portugal melhor, na sua vocação ecuménica de dar mundos ao mundo, de saber aceitar os outros e de conviver com eles em todos os continentes; um Portugal melhor combatendo as injustiças que ainda flagelam a nossa sociedade; um Portugal melhor não esquecendo aqueles menos novos que lhe devotaram vidas inteira, mas olhando para os mais novos sabendo criar-lhes condições de futuro”, afirmou o Presidente.
Marcelo pediu ainda um Portugal independente. “Foi esse mesmo futuro que nos reuniu aqui hoje, para que se possa cumprir o que é para nos indiscutível, como foi para os bravos de 1640 — um Portugal verdadeiramente independente, que não é uma abstração, que é feito de milhões e milhões de portugueses e portuguesas ao longo dos séculos.”
Os que foram, os que São, os que hão de ser: todos eles fazendo do nosso Portugal, um Portugal eterno. Vivam os heróis de 1640! Viva o Portugal de ontem, de hoje, de amanhã! Viva o Portugal eterno”, terminou Marcelo Rebelo de Sousa.
Costa defendeu importância histórica do feriado
Antes de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa elogiou o trabalho da Câmara Municipal de Lisboa e da Sociedade Histórica da Independência, que todos os anos organizam as comemorações. “Foram estas instituições que, em conjunto com outros municípios, responderam ao apelo cívico do Dr. José Ribeiro e Castro [coordenador-geral do Movimento 1º de Dezembro de 1640] e do Movimento 1º de Dezembro para que as celebrações não fossem interrompidas nos anos em que houve quem permitisse apoucar e menosprezar o valor e importância desta data maior na História da nossa pátria“, afirmou o primeiro-ministro numa reverência à suspensão do feriado por parte do Governo de Passos Coelho.
Referindo-se à vizinha Espanha e à visita dos reis espanhóis a Portugal durante esta semana, António Costa falou da relação de “fraterna amizade” que existe entre os dois países. “Não celebramos a restauração de 1649 em honra de um serôdio sentimento-anti castelhano que não tem sentido no presente de Portugal e Espanha. Somos hoje dois países seguros da individualidade de cada um (…). Há muitos interesses e valores que juntos conseguimos defender melhor do que separados.”
Frisando a importância da “celebração da independência nacional”, sem a qual “nenhuma outra seria possível”, Costa afirmou que “os grandes acontecimentos históricos”, como a restauração da independência, “não podem ficar cristalizados no tempo”. “Isso seria matá-los. É na consciência da sua atualidade fundamental que os devemos evocar, resgatando-os ao anacronismo”, disse, apelando a um Portugal unido naquilo “que nos é comum — Portugal livre e Portugal independente”.
Assumimos como país e como povo a responsabilidade de estarmos a altura daqueles que em 1640 não se resignaram nem desistiram. Antes com convicção, audácia, por ventura com otimismo souberam içar a nossa bandeira no mastro da nossa corajosa e honrada fidelidade a Portugal”, acrescentou.