Continua a saga do acesso ou não aos emails de António Domingues sobre as condições acordadas para liderar a Caixa Geral de Depósitos. Depois da confusa reunião de quinta-feira à noite, o PSD volta a insistir que é “muito cristalino” que o que ficou decidido foi a “não só a admissibilidade dos documentos no espólio da comissão de inquérito como a distribuição por todos os deputados”. Para Hugo Soares, o episódio que marcou a última reunião da comissão de inquérito à Caixa Geral de Depósitos não foi mais do que uma “maldade” e uma “pequena vingança” do PCP para o PS.

“Foi com surpresa que ontem vimos a maldade que o PCP quis fazer a Mário Centeno, que pode até ter sido uma pequena vingança mas isso é lá com eles”, disse o deputado falando aos jornalistas na sala dos Passos Perdidos, no Parlamento. Para Hugo Soares o PS está a “brincar” com o Parlamento, e a Caixa Geral de Depósitos é um tema “demasiado sério” par isso. “A CGD é um tema demasiado sério para ser sujeito às brincadeiras do PS. Por parte do PSD, não há qualquer dúvida de que os documentos fazem parte do espólio da comissão parlamentar de inquérito”, insistiu.

PSD diz ser “ridículo” os emails de Domingues serem só para ver

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Em causa está o facto de, na reunião desta quinta-feira da comissão de inquérito, o CDS ter reapresentado um requerimento para ter acesso à troca de correspondência, nomeadamente emails, entre Domingues e o Governo de alguma forma relacionada com as condições acordadas para presidir ao banco. Ora, esses mesmos documentos já foram enviados por Domingues ao Parlamento, mas a maioria de esquerda decidiu não admitir os documentos e emails no âmbito da comissão de inquérito por considerar que aquele tema estava fora do objeto da comissão.

Desta vez, contudo, o PCP considerou que, não fazendo sentido dar continuidade ao requerimento do CDS para voltar a pedir documentos que já estão na posse do Parlamento, os documentos podiam ser distribuídos aos deputados da comissão para consulta. BE e PS acompanharam esse entendimento, sublinhando que essa consulta deveria ser restrita, sem possibilidade de os documentos serem fotocopiados ou fotografados, e sem poderem ser do domínio público. Com isto, PSD e CDS congratularam-se pela “evolução de pensamento” dos partidos da esquerda e entenderam que a partir de agora os emails seriam admitidos nos trabalhos da comissão.

“Eu disse na reunião que agora o relator iria poder usar a informação constante dos documentos para tirar as conclusões e isso não foi negado” nem pelo PS, nem pelo deputado relator, nem pelo PCP ou pelo BE. Certo é que, à saída, já depois de PSD e CDS terem saído, o deputado socialista João Paulo Correia clarificou aos jornalistas que permitir a consulta dos documentos e a distribuição pelos 17 deputados da comissão não era o mesmo do que permitir a admissibilidade desses mesmos documentos. Ou seja, continuavam a ficar fora do acervo da comissão de inquérito e não poderiam ser usados no decurso dos trabalhos parlamentares.

Para Hugo Soares, contudo, tal entendimento não é mais do que uma “cambalhota”. “O PS prefere fazer campeonatos de Jogos Olímpicos com cambalhotas todos os dias”, disse, acrescentando que “classificar o acesso aos documentos como apenas curiosidade em nada dignifica a atividade parlamentar”.