Carme Chacón tornou-se num símbolo da luta pela igualdade de género em Espanha, por ter sido a primeira mulher nomeada para o cargo de ministra da Defesa. Não foram tempos fáceis — o El Español recorda os “vexames machistas que Carme Chacón sofreu por ser ministra da Defesa e mulher”. Enquanto ocupou um cargo que até então sempre tinha pertencido a homens, Chacón protagonizou momentos que ficarão para a história das mulheres na política em Espanha: exemplo claro disso é a icónica fotografia da governante, grávida de sete meses, a passar revista às tropas no Afeganistão.
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Foi assim até ao fim da vida. Carme Chacón morreu este domingo, mas apenas três dias antes tinha feito um discurso emotivo em Miami sobre o papel das mulheres na política, numa iniciativa promovida pelo Centro Cultural Espanhol de Cooperação Iberoamericana de Miami.
No curto discurso, que o El Español publicou na íntegra, Chacón refletiu, perante cerca de 70 pessoas, sobre a sua vida, a sua experiência na política e deixou conselhos a mulheres e a homens. Uma mensagem quase profética, poderá dizer-se. O jornal escreve que este discurso, proferido “menos de três dias antes da sua repentina morte, converteu-se, sem ela o saber, no seu testamento”. Recordamos algumas das principais passagens daquele discurso.
Sobre a vida política:
Perguntam-me muitas vezes em que dia decidi fazer política. Alguém me disse um dia: olha, eu nunca fui jovem, a história do meu país roubou-me a juventude, e quero que entendas que às vezes preciso de comprovar coisas que nunca vivi e que às vezes preciso de viver. Desde esse momento, tive a sensação de que tinha uma espécie de obrigação de que nunca uma neta ou um neto escutem uma frase como esta do seu avô.”
A política rouba-te muitíssimo tempo. O tempo do ócio, os fins de semana, e sobretudo rouba-te o anonimato. Por isso, há que saber o que te move, porque estás ali. Há dias maus, há dias péssimos, mas saber qual é o motor, quais as motivações, é o que nos faz melhorar.”
Aprendi com Felipe González a ter empatia, a ser capaz de me pôr nos sapatos do outro. Seguindo estes parâmetros, aprendi que para o êxito da minha gestão à frente do Ministério da Defesa, ia, em primeiro lugar, saber o que é que queria fazer nos meus quatro anos à frente do mesmo, qual era a marca que queria deixar ali.”
Sobre a maternidade e os direitos das mulheres:
Se quiserem ser mães, não sacrifiquem a vossa maternidade pelo trabalho. Ninguém vos vai agradecer por isso. O mesmo para os homens. Desfrutem. Podem fazer-se, sem dúvida nenhuma, ambas as coisas.”
Como disse Giaconda Belli: “Não há nada mais poderoso do que uma mulher. Tem mais poder do que o músculo. Tem mais poder do que as armas. Não há nada mais poderoso do que uma mulher, porque tem por detrás o poder da Igualdade. Tem por detrás o poder de todas as mulheres.”
Sobre a independência da Catalunha:
É evidente que nós, catalães, somos espanhóis de uma maneira distinta. Eu sinto-me, à vez, catalã e espanhola, mas sinto uma cultura própria que é da minha terra, uma língua que é da minha terra, um direito civil que é da minha terra, mas não saberia ser catalã sem ser espanhola. Por isso, certamente que somos capazes de entender e de fazer entender que a diferença não significa privilégio.”