“Estamos cá pela Teresa”. Passos Coelho e José Eduardo Martins não pouparam nos elogios a Teresa Leal Coelho, a “senhora Lisboa”, mas — tal como a candidata do PSD — não esqueceram o senhor do Governo: o primeiro-ministro. Nas críticas, claro. Nos discursos, os três visaram Fernando Medina, mas também António Costa. Na apresentação da sua candidatura na Fundação Champalimaud, em Lisboa, até a falar do Metro e da Carris, Teresa Leal Coelho visou o executivo: “A câmara e o Governo são responsáveis por um cada vez pior serviço público“.

Apesar de ter um discurso escrito, Teresa Leal Coelho não dispensou alguns improvisos. Um deles visava Medina e, claro, António Costa. Para a candidata social-democrata há entre os dois “uma matriz que é idêntica: Há uma tentação de endividamento, tanto no Governo, como no executivo camarário.” E acrescentou: “Temos de estancar essa deriva, para depois o PSD não ter de ir resolver.”

Continuando nos improvisos, a candidata do PSD admitiu também, pela primeira vez, que o seu partido preferia que Pedro Santana Lopes (que estava na assistência) estivesse no seu lugar. Pela regra não fica bem dizê-lo numa apresentação. Mas Teresa Leal Coelho — numa genuinidade que Passos acabaria por elogiar — disse, num tom de brincadeira, que ia “cometer uma inconfidência” e que iria dizer “baixinho para ninguém ouvir” que:

O PSD desejou em primeiro lugar que o candidato fosse Santana Lopes.”

Até se enganou, num primeiro momento, e disse que “o PSD desejou em primeiro lugar que o candidato fosse Pedro Passos Coelho“. Mas retificou após ser avisada pela assistência: “São ambos Pedros”; “Ter aqui estes Pedros deixa-me nervosa”.

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Em outro aparte fora do discurso, Teresa Leal Coelho lembrou que embora seja uma candidatura por uma “senhora Lisboa” e que existam mais mulheres no concelho, há apenas quatro mulheres candidatas a 24 juntas de freguesia de Lisboa. O PS foi paritário, com Medina capaz de ter 12 homens e 12 mulheres como candidatos às juntas de freguesia.

Pela Teresa, mas sem esquecer o “génio” e o “cheque” de Costa

Passos Coelho, que falou antes, lembrou que conhece Teresa Leal Coelho “há muitos anos” e disse que a sua vice-presidente no partido é “uma pessoa bem preparada“. O líder do PSD abordou até indiretamente a crítica de Teresa Leal Coelho — a repudiar as declarações do candidato do PSD em Loures sobre a comunidade cigana –, dizendo que admira “a forma rápida e impetuosa como reage às coisas“. Para Passos, “isso é bom“, pois prova que a candidata “é genuína“.

O presidente do PSD está confiante num bom resultado em Lisboa, mas destacou que “na política não há milagres”. Passos Coelho reconhece que a “eleição é difícil“, mas avisa: “No PSD não somos de desistir”. O líder da oposição lamentou ainda, enquanto era primeiro-ministro, não ter conseguido fazer um “reordenamento ao longo do rio” na zona dos museus, mas culpabiliza o “paroquialismo” de alguns que estão preocupados com o seu umbigo. Era uma farpa para Costa, quando este era presidente da câmara.

Passos também visou Fernando Medina, dizendo que a candidata do PSD “não está aqui a fazer outras provas” e que, portanto, a candidatura de Teresa Leal Coelho é “uma frescura, uma lufada de ar fresco”. Quanto ao projeto social-democrata para a cidade, Passos promete que o PSD não vai seguir “uma agenda para português ver”.

O líder do PSD sugeriu ainda que Medina não tem força para se impor perante António Costa. “Hoje, a capital não tem afirmado devidamente a sua força política junto do Governo“. Mais uma vez um ataque duplo: a Medina e Costa.

Embora tenha destacado que estava na Fundação Champalimaud “pela Teresa”, Passos não evitou falar de política nacional. Anunciou que o PSD vai apresentar um projeto de resolução para recomendar ao Governo que recue no “perdão” feito aos bancos dados no âmbito do pagamento dos empréstimos Fundo de Resolução. O PSD tem referido números da UTAO que terá estimado que as entidades bancárias vão poupar 630 milhões de euros com esta renegociação.

Passos voltou a visar Costa com o Tejo como fundo, dizendo que este empurrar com a barriga até pode ser uma “prova de genialidade política”, mas lembra o que aconteceu no passado:”Tivemos génios que passaram o cheque, mas depois desapareceram quando não havia dinheiro para pagar“.

Entre Passos e José Eduardo Martins o ambiente foi mais do que cordial. Trocaram diversos elogios. O líder explicou que conheceu José Eduardo Martins há muitos anos e “por causa de Lisboa”. E que o candidato à Assembleia Municipal é “alguém muito competente”, que tem dado com a sua ação “um contributo muito extraordinário a Lisboa.

“Obrigado Pedro”

José Eduardo Martins devolveu os elogios a Passos, como contraponto a Costa, que criticou duramente. O antigo vice-presidente da bancada do PSD disse depois que, num tempo em que o país é governado com algum populismo, é de louvar o “sentido de Estado e responsabilidade” do líder do PSD. “Obrigado Pedro”, acrescentou.

O candidato a presidente da Assembleia Municipal admite que Teresa Leal Coelho tem uma “tarefa ciclópica pela frente”. E lembra a todos a verdadeira motivação da apresentação: “Não viemos pela tuna, nem por mim. Estamos cá pela Teresa.” Já lá vamos à tuna.

José Eduardo Martins — habitualmente desalinhado com a direção de Passos — disse até estar um pouco nervoso durante o discurso: “Já não estou habituado a estas coisas“. Mas lá arrancou, visando Fernando Medina. O antigo secretário de Estado do PSD, diz que a gestão socialista “nem é carne nem é peixe” e que é gerida por quem “está a construir uma carreira política para irem para outros cargos.”

O cabeça de lista à Assembleia Municipal do PSD defende uma “cidade humanista, progressista” e com uma “matriz social-democrata, orientada para as pessoas”. José Eduardo Martins denunciou ainda o “mais selvagem liberalismo”, numa cidade que não consegue “regular o turismo”. E acrescentou: “Não há espaço público sem ordenação pública.”

Teresa Leal Coelho e Pedro Passos Coelho chegaram juntos. A candidata tinha à sua espera a Tuna Feminino da Universidade Lusíada de Lisboa, instituição onde é professora e onde o líder do partido, Pedro Passos Coelho, tirou o curso de Economia. Os estudantes colocaram uma capa aos ombros da candidata social-democrata e colocaram capas no chão para Teresa Leal Coelho passar. É também a universidade onde Maria Luís Albuquerque, também presente na apresentação, deu aulas a Passos Coelho.

Lá dentro, a tuna interpretou A Estrada do Monte, música dos Madredeus, que inclui os seguintes versos: “Siga essa estrada/Não custa nada.”

Para já, como propostas, Teresa Leal Coelho adiantou o que tem vindo a defender. A candidata do PSD afirma que a “câmara tem que defender políticas para a habitação que permitam equilibrar o mercado e colocá-lo em patamares verdadeiramente realistas e apetecíveis”. A social-democrata definiu como “prioridade do mandato a ação social, apostando no incentivo à criação de cresces, ATL, centros de dia, investindo em centros de saúde e em equipamentos que permitam as pessoas uma vida de proximidade, nos seus bairros, nas suas freguesias.”

Teres Leal Coelho admite que “Lisboa está bonita”, mas lamentou a desregulação do turismo, atirando: “Um dia a marcha de Alfama ou da Mouraria terão de ir treinar à Trafaria.” Entre críticas, a candidata do PSD lembrou que “hoje, 19 de julho, ainda há bairros não legalizados em Lisboa.”

No evento estiveram figuras como o ex-líder do PSD, Pedro Santana Lopes, o ex-líder parlamentar, Luís Montenegro, o recém-eleito líder parlamentar, Hugo Soares, o novo líder da distrital de Lisboa, Pedro Pinto, e vários outros dirigentes sociais-democratas.