João Quadros escreveu no Twitter. E, no Facebook, Nuno Markl foi-se. Ou pelo menos diz que foi. Desde segunda-feira que as redes sociais em Portugal discutem a frase que o argumentista e colunista escreveu na rede social, a propósito de uma declaração de Passos Coelho na festa da rentrée do PSD, no Algarve. “Eu a pensar que só havia uma cabeça rapada em casa do Passos”. Contexto: a mulher de Passos Coelho, Laura Ferreira, é uma paciente oncológica que foi submetida a tratamentos com quimioterapia.
Eu a pensar que só havia uma cabeça rapada em casa do Passos
— Joao Quadros (@omalestafeito) August 14, 2017
Quando, em 2015, o ainda primeiro-ministro confirmou o diagnóstico da esposa para evitar mais especulações, pediu respeito pela privacidade da família.
Como se tornou do conhecimento público recentemente, e para evitar mais especulações sobre este assunto, confirmo que foi diagnosticado à minha mulher, Laura Ferreira, um problema do foro oncológico que está a ser devidamente acompanhado”, referiu Pedro Passos Coelho, numa nota pessoal enviada à agência Lusa.
A alusão à “cabeça rapada” — característica dos movimentos de extrema-direita nacionalistas vulgarmente conhecidos por skinheads — surgiu depois de Passos Coelho ter dito na festa do PSD, no Pontal, que a alteração da lei da emigração era uma cedência ao “radicalismo de esquerda”, porque era uma alteração “à lei de estrangeiros, que na prática permite que qualquer pessoa possa ter autorização de residência em Portugal”.
O PS e o Bloco reagiram ao discurso de Passos Coelho, acusando-o de xenofobia. Nas palavras de João Galamba, porta-voz do PS, Passos Coelho ensaiou “um discurso racista e xenófobo” e nas de Joana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, o líder do PSD teve um discurso “que vai ao encontro de posições xenófobas recentes, que o próprio Passos Coelho disse não fazerem parte da tradição” do partido.
João Quadros achou que isso era suficiente para fazer brincadeiras com “cabeças rapadas”, pelo que as reações ao seu tweet surgiram com natural fúria. “Muito reles”, “tweet lamentável”, “faltam as palavras onde sobra o vómito” ou “és um porco e um cão”. Entre a fúria, um comentário de uma utilizadora que diz: “Lel ri-me, aparentemente posso porque tenho cancro, se não tivesse parece que não podia”.
Entre as reações mais agressivas acabou por se destacar a de André Ventura, candidato do PSD à Câmara de Loures, que, na sua página de Facebook, admitia usar dar uns “socos na cara” ao argumentista. João Quadros respondeu-lhe em várias mensagens públicas, através do Twitter, mantendo o mesmo tom sarcástico na resposta à potencial ameaça física.
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A fúria alastrou-se a Nuno Mark, amigo do argumentista há vários anos. Aquilo que descreve como “demasiado ódio, ira e embirração” levou-o a anunciar que ia “meter a página pública de Facebook de férias” e que não sabia quando voltava. “Sinto que isto não faz bem nenhum à saúde.” Uma hora depois, fez novo post, sobre o mesmo tema: João Quadros.