Chama-se Paradigm e é uma clínica de desintoxicação (situada numa luxuosa mansão com vista privilegiada sobre a Golden Gate Bridge) em San Francisco, nos Estados Unidos. Mas não é uma “desintoxicação” qualquer que lá se promove. Assim como não é uma clínica para qualquer bolso.

Na Paradigm combate-se o vício das novas tecnologias (maioritariamente smartphones) e redes sociais (Facebook, Instagram, Snapchat…) entre dependentes dos 12 aos 18 anos de idade – que passam uma média de 20 horas por dia nas redes sociais –, custando um dia de internamento na clínica a módica quantia de 1.632 dólares. Em média, os pacientes ficam internados durante 45 dias, podendo o internamento chegar a dois meses em casos de depressão, agressividade ou ansiedade associados ao vício “tecnológico”.

Não deixará contudo de ser curioso que as principais empresas tecnológicas da actualidade, como o Facebook, a Apple ou a Google, estejam sediadas em San Francisco, no Silicon Valley.

À BBC, a diretora da Paradigm, Danielle Kovac, explica quais os principais sintomas de dependência tecnológica entre jovens, que começam por ser ligeiros mas que podem resultar em variações de humor graves e até problemas de saúde mental.

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Muitas vezes as famílias contam que não fazem qualquer refeição com os filhos, porque estes passam a noite no Snapchat. Há dependência quando [a utilização das novas tecnologias e redes sociais] começa a afetar a vida social e a escola. As notas acabam por cair quando os jovens passam o dia inteiro no Facebook ou no Instagram, não fazendo os trabalhos escolares ou simplesmente faltando às aulas, porque não conseguem acordar a horas”, lembra Kovac, explicando que muitos dependentes acabam mesmo por abandonar os estudos.

Sendo certo que as famílias podem restringir o acesso dos jovens aos smartphones ou à internet, a diretora da Paradigm acredita que o internamento é a melhor solução para casos extremos de dependência. “É diferente o atendimento num psicólogo ou um internamento [na Paradigm]. A terapia no psicólogo dura uma hora, uma vez por semana. Aqui nós vivemos com eles e podemos observar os comportamentos-padrão. Esses comportamentos-padrão vão permitir definir um tratamento adaptado às necessidades de cada um”, explica.

A clínica apenas aceita oito dependentes “tecnológicos” de cada vez. Dormem juntos em quartos, por exemplo. O trabalho de grupo é o método que Danielle Kovac defende. E explica: “A sensação de estar sozinho é assustadora. Sabendo eles que o colega de quarto está na mesma situação, isso é muito, muito positivo. Muitas vezes, em casa, não têm uma estrutura familiar onde se apoiar. Aqui têm uma espécie de família, construída, mas uma família.”

O dia-a-dia na clínica começa às sete da manhã e prolonga-se até à noite, sempre longe do “vício”. “[Os pacientes] não estão acostumados a acordar cedo. Então, começamos o dia de maneira positiva, com um bom pequeno-almoço, e depois começa o trabalho de grupo. Eles podem trabalhar os problemas através da colaboração, da comunicação, enfrentando os problemas através da terapia artística e musical. Também há actividades recreativas como a ginástica ou a escalada. À noite há actividades ligadas ao relaxamento, como ioga, acupuntura, meditação”, explica Danielle Kovac.

E depois, terminado o internamento na clínica, regressados à realidade tecnológica, o risco de recaída é elevado nos pacientes? A diretora da Paradigm responde. E deixa críticas às empresas de tecnologia “vizinhas” da clínica.

Provavelmente eles voltarão a aceder ao Facebook, ao Instagram. Mas a nossa expectativa é que se desconectem o tempo suficiente para que, ao regressar a casa, possam estabelecer os seus próprios limites. As empresas sabem o que estão a fazer, não apenas aos jovens mas às pessoas em geral, com certos algoritmos para certos propósitos. É preciso estar atento ao que está a acontecer na sociedade. As pessoas estão demasiado conectadas à internet”, lembra.