Paul Manafort foi o homem de confiança de Donald Trump na campanha que conduziu o atual presidente dos Estados Unidos à Casa Branca — e que é suspeito nas investigações sobre a ingerência russa no resultado das eleições presidenciais. No decurso dessa investigação, o procurador especial Robert Mueller terá chegado a informações que provam que, pouco antes de ser chamado para dirigir a campanha de Trump contra Hillary Clinton, Manafort financiou o “Hapsburg Group”, de que faziam parte influentes figuras da política europeia. Esses senadores terão sido pagos para assumir posições favoráveis a um líder ucraniano pró-Moscovo.

A informação é avançada este sábado pelo jornal britânico The Guardian e reforça o clima de suspeição que já pairava sobre o líder norte-americano e sobre a forma como alcançou a vitória a 8 de novembro de 2016. Os novos dados que chegaram às mãos de Mueller foram apresentados num tribunal do estado da Virginia esta sexta-feira e apontam para o facto de Manafort ter, alegadamente, “atuado com agente não registado de um Governo e de forças políticas estrangeiras”.

Ex-diretor de campanha de Trump acusado de conspirar contra EUA

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O ex-diretor de campanha de Trump é acusado de “representar o Governo da Ucrânia” e a força política pró-russa de Viktor Yanukovych, o Partido das Regiões. E, durante o período em que trabalhava a favor de interesses de Moscovo, entre 2012 e 2013, Manafort terá financiado o funcionamento do “Hapsburg Group”, um grupo que reuniu nomes de peso na política europeia. A acusação de Robert Mueller refere que o ex-braço direito de Donald Trump e um sócio seu, Rick Gates (que também teve responsabilidades na campanha do atual presidente dos EUA), “manteve de forma secreta um grupo de antigos políticos europeus para que assumissem posições favoráveis à Ucrânia, incluindo fazendo lobbying nos Estados Unidos”.

O objetivo era que, apesar de serem pagos, esses nomes influentes da cena política europeia assumissem como suas determinadas posições, quando na verdade estavam a ser pagos para defender esses pontos de vista, políticas e projetos favoráveis a Yanukovych — favoráveis à Rússia. Uma nota do próprio Manafort, de junho de 2012, a que o procurador responsável pela investigação teve acesso, deixava claro essa intenção.

O grupo seria gerido por um “antigo chanceler europeu” — a que as notas de Mueller se referem apenas como “Político estrangeiro A” — e como apenas a Alemanha e a Áustria utilizam essa denominação para se referirem aos seus chefes de Governo, rapidamente a investigação chegou ao nome de Alfred Gusenbauer, antigo responsável austríaco que participou num encontro com congressistas norte-americanos em 2013 e que estava acompanhado por dois outros lobistas de um grupo designado Mercury. Este segundo grupo terá sido organizado por Paul Manafort para servir de fachada na defesa de Yanukovych.

Gusenbauer contestou a ideia de que teria movido influências a favor da Ucrânia. Ao Die Presse, o ex-chanceler disse que se reuniu duas vezes com Manafort sem ser pago por isso — “pelo menos, não de forma consciente” — e que nunca defendeu o ex-primeiro-ministro ucraniano.

Romando Prodi é outro nome de peso da política europeia que se cruza com a investigação da justiça norte-americana. O ex-primeiro-ministro italiano e ex-presidente da Comissão Europeia também esteve em Washington acompanhado por membros do Mercury, de acordo com a investigação, mas um porta-voz de Prodi diz que o ex-governante não tem qualquer memória de qualquer encontro com congressistas na capital norte-americana.

Numa nota sobre o caso, Prodi disse que trabalhou durante “muitos anos” para melhorar as relações entre a Ucrânia e a União Europeia e que fez intervenções pagas a este respeito. “São iniciativas sérias e perfeitamente consistentes de um antigo presidente da Comissão Europeia”, sustentou o italiano.

Ex-subdirector da campanha de Trump vai assumir-se culpado e colaborar com FBI

Depois de ser envolvido numa investigação sofre fraude bancária e fiscal, Rick Gates aceitou dar-se como culpado e colaborar com o procurador Robert Mueler na investigação a uma eventual ingerência russa nas eleições presidenciais norte-americanas de 2016. Um golpe para a defesa de Manafort, que ficou sozinho nesta batalha judicial.

Numa nota publicada em reação a estas informações, Paul Manafort, que está em prisão domiciliária, disse “não apoiar o que Rick Gates alega”. O ex-diretor de campanha de Trump diz manter a sua “inocência” e parte para o ataque ao ex-sócio. “Esperava que o meu colega de negócios tivesse a força para continuar a lutar para provar a nossa inocência. Por razões ainda por descobrir, ele escolheu fazer o contrário”, escreveu Manafort.