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(Chip Somodevilla/Getty Images)

(Chip Somodevilla/Getty Images)

"Com Donald Trump a Presidente, nós negros só podemos contar connosco"

A cada semana, Tawanda pede justiça pelo irmão que morreu numa operação policial em Baltimore. Kenny, agente que ficou paraplégico em serviço, nega racismo. Com Trump, para que lado parte esta corda?

Reportagem em Baltimore, Maryland, nos EUA

Mais de três anos depois, Tawanda Jones ainda chora quando fala da morte do irmão. Pela 182ª quarta-feira consecutiva, Tawanda monta uma coluna nas ruas de Baltimore e conta a história do dia em que Tyrone West, o seu irmão mais velho, morreu aos 44 anos durante uma operação policial. Era uma quinta-feira de 2013. Na semana seguinte, à quarta-feira, começou a fazer uma manifestação semanal a que chamou de “West Wednesday”. “Nós não vamos desistir enquanto os polícias assassinos não estiverem atrás de grades!”, diz, já com lágrimas a escorrerem-lhe pela cara.

À sua frente, tem um grupo de cerca de 20 pessoas. A maior parte são afro-americanos, como acontece com a população geral desta cidade de 620 mil habitantes, onde 63% dos habitantes são negros. Muitos dos participantes desta manifestação seguram cartazes. “Prisão para os polícias assassinos” e “Black Lives Matter” são alguns exemplos, mas o que se destaca mais é uma fotografia de Tyrone West. Alto, encorpado e com longas rastas, está de pé encostado ao balcão de uma cozinha. Em redor da fotografia, pode ler-se em letras grandes: “Um homem desarmado”. É ao lado desta imagem que Tawanda Jones conta a história do dia em que ele morreu.

Eram 17h30 de 18 de julho de 2013 quando Tyrone West parou o carro da irmã, um Mercedes verde escuro de 1999, ao pé da creche onde ela trabalhava, em Baltimore, no estado de Maryland. Era sempre assim: Tyrone apanhava Tawanda e depois seguiam juntos para a casa dela. Por vezes, Tyrone era convidado a entrar e os dois jantavam juntos.

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Todas as quartas-feiras desde a morte do irmão, Tawanda Jones faz manifestações contra a violência policial

Nesse dia, quando estavam prestes a começar a refeição, Tyrone West recebeu a chamada de uma amiga a pedir-lhe boleia. Com a permissão da irmã, saiu com o seu Mercedes. Antes disso, estavam a falar sobre o veredito que ditou a inocência de George Zimmerman, o guarda noturno da Flórida que matou a tiro Trayvon Martin, um jovem negro de 17 anos, quando este não tinha nenhuma arma nem representou qualquer ameaça. Ainda assim, cinco dias antes, o tribunal não lhe atribuiu qualquer culpa. “Temos de ter cuidado a partir de agora”, Tyrone terá dito à irmã antes de sair porta fora.

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Quando já passava mais de uma hora sem ouvir nada dele, Tawanda Jones começou a ficar preocupada com o irmão. Ligou-lhe para o telemóvel várias vezes de rajada, sem que ninguém atendesse do outro lado. Começou a temer o pior e o instinto levou-a a ligar a um ex-namorado que é polícia. “Podes tentar saber se aconteceu alguma coisa ao meu irmão? Ele tem o meu carro”, disse-lhe. Depois disto, o namorado da altura disse-lhe para ligar as notícias locais. Na televisão, uma notícia de última hora dava conta de um confronto entre um homem e a polícia. Nas imagens, Tawanda reconheceu o seu Mercedes verde, que estava parado no meio da estrada. Seguiram-se imagens de pessoas que estavam na rua e assistiram a tudo. “Eles bateram-lhe ainda mais do que ao Rodney King!”, diziam.

Uma morte, duas versões

A história do que se passou naquele dia quente em Baltimore varia consoante as versões de quem a conta. Para Tawanda Jones, não há sombra de dúvidas: o seu irmão foi morto pela polícia. Para as autoridades locais, incluindo a Procuradoria do estado de Baltimore, a actuação da polícia não teve influência no desfecho fatal de Tyrone West.

Na versão de Tawanda Jones, que ao longo destes anos tem ela própria investigado o caso, tudo começou quando o seu irmão foi mandado parar por dois agentes da polícia que circulavam à paisana. “Sem qualquer motivo, ele foi mandado parar enquanto conduzia o meu Mercedes-Benz. O crime dele foi ser preto e estar a conduzir um bom carro”, diz ao Observador. Depois de Tyrone West e um dos polícias terem trocado algumas palavras, Tawanda Jones diz que começou a agressão policial.

“Eles puxaram o meu irmão pelas rastas, puseram-no fora do carro e começaram a bater-lhe como se ele fosse um animal”, garante. Os dois polícias usaram um spray de gás pimenta para incapacitar Tyrone West e enquanto isso chamaram reforços. O pedido de ajuda teve resposta de cerca de 10 polícias, que chegaram de várias partes da cidade. Finalmente, conseguiram imobilizá-lo e algemá-lo. Depois disso, um polícia — que Tawanda Jones diz pesar cerca de 140 quilos — manteve Tyrone West deitado de barriga para baixo e sob controlo ao colocar-lhe o joelho sobre o pescoço. E, assim, o seu irmão morreu sufocado.

“Sem qualquer motivo, ele foi mandado parar enquanto conduzia o meu Mercedes-Benz. O crime dele foi ser preto e estar a conduzir um bom carro.”
Tawanda Jones, irmã de Tyrone West, que morreu durante uma operação policial

A versão de Tawanda Jones tem algumas coincidências com outra história que envolveu os mesmos dois polícias que mandaram parar Tyrone West. A 1 de julho de 2013, dias antes da morte do seu irmão, aqueles dois agentes policiais mandaram parar Abdul Salaam enquanto este conduzia o seu carro. Este, em vez de parar imediatamente, avançou até à entrada da sua garagem. Depois, colocou os braços de fora do carro de maneira a cooperar com as autoridades. O filho de três anos estava sentado no banco de trás do carro. Quando os dois agentes se acercaram do seu carro, começaram a agredir Abdul Salaam por acharem que este lhes tinha tentado fugir. Depois, algemaram-no. Abdul Salaam levou o caso para os tribunais, acusando os dois polícias, e ainda outro que não esteve diretamente envolvido na detenção, de violência policial. No final, ganhou o processo e a cidade de Baltimore teve de lhe pagar 70 mil dólares.

A história de Tyrone West é substancialmente diferente quando contada na versão da Procuradoria de Baltimore, que divulgou o seu parecer a 19 de dezembro de 2013. Tyrone West foi mandado parar pelos dois polícias depois de ter feito marcha-atrás num cruzamento e de terem reparado que ele conduzia “bem abaixo do limite de velocidade” e que olhava continuamente para trás, ao mesmo tempo que baixava a cabeça. Os polícias, que achavam que ele podia estar a esconder “uma arma ou contrabando”, ligaram a sirene do carro descaracterizado.

Tanto Tyrone West como a sua amiga tiveram ordens para sair do carro — o que cumpriram de livre vontade, segundo a versão das autoridades. Depois de uma busca infrutífera ao carro, um dos polícias viu que Tyrone West tinha um alto numa meia, acima do tornozelo. Segundo as autoridades, era cocaína. Tyrone West, que tinha cadastro de crimes relacionados com droga e que naquela altura estava em liberdade condicional, terá implorado: “São só quatro saquinhos!”. Depois, começaram as agressões de Tyrone West contra a polícia. Estes tentaram pará-lo, mas o resultado foi uma luta agressiva, onde não bastou aos agentes o gás pimenta que lançaram em spray contra Tyrone West. Acabaram por chamar reforços, gritando para os seus rádios o código usado pelos polícias de Baltimore quando estão em perigo: “13! 13! 13!”. Chegaram 11 polícias de várias partes da cidade. Só no final de quatro lutas, que foram intervaladas por períodos de acalmia e uma tentativa de fuga, é que três agentes conseguiram imobilizar e algemar Tyrone West. Depois, um deles continuou a “manter o senhor West no chão, entre alguns segundos até 1 a 2 minutos”, lê-se no relatório da Procuradoria-Geral. Só depois é que se aperceberam de que ele “tinha parado de respirar”.

Os polícias que detiveram Tyrone West queixam-se de terem sido agredidos, acrescentando que ele tinha cocaína escondida numa meia

No mesmo documento, pode ler-se a conclusão da autópsia de Tyrone West: o irmão de Tawanda Jones morreu porque “o seu coração deixou subitamente de bater” devido a “uma anormalidade no mecanismo que controla os batimentos cardíacos”, situação que foi espoletada por “desidratação” e pelo grau de “exaltação” associado ao incidente.

No final de contas, a Procuradoria-Geral de Baltimore decidiu não colocar qualquer processo contra aqueles agentes da polícia de Baltimore, dizendo então que “não há provas suficientes que indiquem que qualquer um dos agentes tenha agido de forma irrazoável ou que a sua conduta tenha constituído uma desconsideração deliberada pela vida humana”.

“É uma palhaçada, é só mentiras, mentiras atrás de mentiras!”, grita Tawanda Jones, na 182.ª semana consecutiva de protesto pelo seu irmão, de microfone em punho num cruzamento na zona norte de Baltimore. O sol acaba de se esconder e o frio é difícil de suportar. Além da voz de Tawanda Jones, que a estática do microfone torna ainda mais estridente, ouvem-se os carros que avançam furiosamente em todas as direções. Alguns deles, provavelmente por reconhecerem Tawanda Jones das 181 semanas anteriores, apitam em jeito de aprovação. São todos afro-americanos.

Tawanda Jones não acredita nesta segunda versão. Sobre a droga que formava um alto nas meias do seu irmão, ela diz que isso era impossível: “O meu irmão estava de calções e tinha meias que acabavam no tornozelo!”. Além disso, garante que nunca nos seus 44 anos de vida o irmão teve problemas cardíacos, ao contrário do que sugere a autópsia. Sobre esta, faz notar ainda que ela demorou 145 dias a ser tornada pública. “Precisaram daquele tempo todo para inventar uma história!”, denuncia. E sublinha um outro parecer, assinado por William Manion, especialista de medicina legal do Memorial Hospital, em New Jersey, a pedido da equipa de defesa da família de Tyrone West. A 30 de abril de 2016, este médico rejeitou a hipótese de o irmão de Tawanda Jones ter morrido devido a problemas cardíacos. “A principal causa da morte é o facto de ele ter sido constrangido de tal forma que ele não era capaz de respirar”, escreveu, apontando para uma “asfixia posicional”.

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Tyrone West, exibindo um retrato que fez da sua irmã, Tawanda Jones

Depois deste último relatório independente, a família de Tyrone West exigiu à Procuradoria-Geral de Baltimore que voltasse a abrir a investigação. A resposta foi negativa, por “não haver novas informações”.

Ao Observador, Tawanda Jones queixa-se de as autoridades “encobrirem” aquilo que foi o “assassinato” do seu irmão. “A justiça é-nos negada todos os dias”, queixa-se. “Eles matam-nos duas vezes. Primeiro, tiram-nos a dignidade. Depois, tiram-nos a vida.”

Com a voz nervosa, diz que não aguenta muito mais disto. “Eu não quero nada chegar a um ponto em que uma revolução é a única solução!”, garante. “Mas estou a chegar lá perto! Estou a chegar lá perto e às tantas começo a ceder. Isto de estar aqui só a protestar não nos está a levar a lado nenhum.”

O facto de Donald Trump ser agora Presidente dos EUA não acalma as suas preocupações. “Se as coisas já eram assim com um Presidente negro, o que será com um tipo como o Donald Trump?”, pergunta.

Durante a campanha para as eleições presidenciais de 2016, uma das questões que separavam Hillary Clinton e Donald Trump tinha a ver com as tensões sociais entre a comunidade afro-americana e a polícia.

Durante a campanha eleitoral, Donald Trump preferiu sempre o lado "Blue Lives Matter" ao lado "Black Lives Matter" (Brian Blanco/Getty Images)

Brian Blanco/Getty Images

Na reta final da sua campanha, Hillary Clinton repetiu algumas vezes o slogan “Black Lives Matter” (As Vidas Negras Importam), chamando muitas vezes para os seus comícios as mães de afro-americanos que morreram no decurso de operações policiais, como Eric Garner, Trayvon Martin ou Mike Brown. Já Donald Trump, opôs-se a esse movimento e encabeçou outro, de resposta: “Blue Lives Matter”, ou “As Vidas Azuis Importam”, em referência à cor dos uniformes da polícia. Este contra-movimento surgiu em força depois de quatro polícias terem sido abatidos por um atirador furtivo em Dallas.

A isto, Donald Trump associou uma imagem quase apocalíptica de cidades como Baltimore. No discurso de tomada de posse, falou numa carnificina: “O crime e os gangues e as drogas roubaram tantas vidas e tiraram ao nosso país tanto potencial. Esta carnificina americana acaba aqui e agora”.

A descrição de Donald Trump não se aplica ao país por inteiro e nem sequer a todas as cidades. Ainda assim, o grau de violência em Baltimore é inegável — com uma taxa de homicídio por volta dos 55 por cada 100 mil habitantes, esta é uma das 20 cidades mais mortíferas do mundo. Nos EUA, só Saint Louis, no Missouri, consegue ser ligeiramente pior. Em 2016, o número de homicídios em Baltimore chegou aos 318 — o segundo pior ano de sempre, atrás apenas de 2015, quando o número subiu aos 344. Já nos primeiros dias de 2017, foram registados uns preocupantes 26 homicídios.

Agora que Donald Trump é Presidente, Tawanda Jones teme o pior. No dia a seguir à sua vitória, foi a uma manifestação anti-Trump no centro de Baltimore. “Nessa noite, vi a polícia a agir de forma totalmente violenta contra negros sem tentar sequer esconder isso”, garante. “De repente, eles pegaram num rapaz que estava a filmar a polícia de perto, levantaram-no ar e mandaram-no ao chão”, conta. Também segundo Tawanda Jones, alguns apoiantes de Donald Trump cuspiram sobre os manifestantes enquanto lhes chamava nomes racistas. O Observador não conseguiu confirmar estas acusações. “De repente, esta gente achou que não havia problema nenhum em sair dos buracos onde viviam e que agora já podem tudo o que lhes vai na cabeça, por mais racista que seja”, queixa-se.

“Sinceramente, a partir de agora, nós os negros, não podemos contar com mais ninguém. Com Donald Trump a Presidente só podemos contar connosco mesmos”, conclui.

Freddie Gray, o nome (e a morte) que mudou tudo

O mais perto que Baltimore esteve da “revolução” de que Tawanda Jones falava foi em abril de 2015, quando a cidade foi palco de manifestações que depressa passaram a motins. Tudo isto foi em protesto pela morte de Freddie Gray, um jovem de 25 anos que vivia no bairro social de Gilmor Homes, em Baltimore.

Eram 8h39 da manhã de 12 de abril de 2015 quando Freddie Gray começou a fugir da polícia. O jovem de 25 anos, que tinha um passado de crime relacionado com drogas e que já tinha sido preso, não tinha armas nem estupefacientes com ele naquele dia — mais tarde, apenas foi encontrada uma faca de ponta e mola —, mas mesmo assim fugiu da polícia. De acordo com um relatório posterior do Departamento de Justiça, só entre 2011 e 2015 a polícia de Baltimore fez pelo menos em 301 mil vezes aquilo que é conhecido como stop and frisk: parar e revistar. Segundo o Departamento de Justiça, o número é provavelmente maior, devido a casos que nunca terão sido registados. A maior parte das vezes, estas operações, cujo objetivo é encontrar drogas e armas, aconteciam nos bairros mais pobres da cidade, maioritariamente habitados por negros.

Terá sido o receio de ser parado para revista — e de posteriormente ser levado para uma esquadra, sob acusação de resistir às autoridades — que levou Freddie Gray a fugir a da polícia. Os agentes, que viram nele um homem que lhes tentava escapar numa das zonas com maior criminalidade em Baltimore, foram atrás dele. Quando o apanharam, agrediram-no, imobilizaram-no e depois algemaram-no — como pode ser visto em vários vídeos que surgiram daquele momento. Depois, arrastaram-no para a parte de trás de uma carrinha, enquanto este gritava com dores e arrastava uma perna. A carrinha seguiu caminho.

https://www.youtube.com/watch?v=-fztnOdFwEE&t=6s

O óbito de Freddie Gray viria a ser declarado a 19 de abril, depois de sete dias em coma. A causa da morte esteve relacionada com uma fratura da coluna, sendo que não se sabe se esta aconteceu durante a detenção ou se foi dentro da carrinha, onde o jovem de 25 anos foi transportado num espaço aberto, sem cinto de segurança ou outro tipo de segurança. Existe também a possibilidade de a viagem ter agravado uma lesão pré-existente.

Tudo isto aconteceu quando passavam quase dois anos desde a morte de Tyrone West, que não teve repercussão mediática fora dos limites de Baltimore. Mas, pelo meio, em agosto de 2014, a cidade de Ferguson, no Missouri, foi engolida por uma onda de motins depois de Mike Brown, de 18 anos, ter sido morto a tiro por ter roubado uma loja de conveniência. O incidente deixou a descoberto as tensões entre as comunidades afro-americanas e a polícia. O movimento Black Lives Matter ganhou a força e a projeção que até aí lhe faltavam.

Depois da morte de Freddie Gray, a cidade de Baltimore foi tomada por motins que só pararam com a intervenção de forças militares (Andrew Burton/Getty Images)

Andrew Burton/Getty Images

Foi nesta senda que Baltimore foi novo palco de motins — ou, como alguns que tomaram parte neles preferem dizer, a “Insurreição de Baltimore”. Os protestos começaram a 19 de abril, quando foi declarada a morte de Freddie Gray, e só acabaram a 3 de maio. Nos últimos dias, foi declarado um recolher obrigatório e a National Guard, uma força militar, foi chamada a intervir.

As imagens que chegavam de Baltimore ao resto do mundo davam conta de uma cidade em estado de sítio, com fogueiras a bloquear ruas e lojas pilhadas. Ao Observador, sem querer dizer o nome, um homem branco, de meia-idade, recorda como passou noites em branco no telhado do seu prédio de caçadeira em punho. Sempre que passava alguém, fazia questão de gritar que estava armado. “Era a única maneira de os afastar”, diz.

No Twitter, Donald Trump, que à altura ainda não era sequer candidato às eleições presidenciais, escreveu o seguinte: “O nosso Presidente afro-americano não tem tido um impacto particularmente positivo nos bandidos que estão, com felicidade e abertura, a destruir Baltimore”.

“Eu estive na primeira linha dessas manifestações”, diz ao Observador Kevin James, afro-americano nascido em Baltimore mais conhecido como Son of Nun, o seu nome de rapper. Uma das imagens que muitos guardam desses dias é a de uma loja da CVS, marca que vende vários produtos de conveniência, em chamas. “Se não tivessem queimado a CVS, ninguém saberia quem foi o Freddie Gray nem o que se passou com ele”, diz. “Foi uma medida necessária.”

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Kevin James, também conhecido como Son of Nun, diz que os motins de Baltimore foram necessários para chamar a atenção para o problema da violência policial naquela cidade

A 27 de julho de 2016, a Procuradoria-Geral de Batimore retirou as acusações de homicídio e homicício involuntário contra os seus polícias envolvidos na detenção de Freddie Gray, apesar de o médico legista que examinou o corpo do jovem de 25 anos ter dito, e mantido em tribunal, que a sua morte “não foi um acidente”.

Ainda assim, semanas depois, um órgão estatal viria a dar razão aos muitos afro-americanos de Baltimore que se queixam de discriminação racial por parte da polícia. A 10 de agosto de 2016, a divisão de direitos civis do Departamento de Justiça publicou um relatório arrasador onde acusava a polícia de Baltimore de “agir dentro de um padrão de práticas de policiamento que são discriminatórias contra afro-americanos” e de agir de forma “inconstitucional”.

Os números do Departamento de Justiça, recolhidos entre 2011 e 2015, falam por si. Numa cidade onde 63% da população é composta por negros, as estatísticas demonstram que estes são sujeitos a encontros com a polícia de forma desproporcional e muitas vezes sem justificação. Entre os 410 sujeitos que foram parados pela polícia mais de 10 vezes entre 2011 e 2015, 95% eram negros. Para sustentar a sua conclusão, o relatório refere um caso em particular de um “homem afro-americano entre os 50 e os 60 anos que foi parado 30 vezes em menos de quatro anos” e que “apesar destas intromissões repetidas nenhuma das 30 paragens resultou numa acusação”.

Também ao volante essa discriminação é sentida, uma vez que os afro-americanos compunham 82% dos condutores que receberam ordem policial para encostar. Tudo isto quando a quantidade de negros que fazem parte da população comidade para conduzir é de 60% em Baltimore e de 27% na área metropolitana de toda a cidade.

O Departamento de Justiça fez um relatório onde explicava que a população negra de Baltimore é sujeita a um assédio policial superior à média. Apesar de a população de Baltimore ser 63% afro-americana, eles são quase a totalidade (95%) das pessoas que foram mandadas parar pela polícia mais de 10 vezes em entre 2011 e 2015. Neste período, um homem negro foi interpelado pela polícia 30 vezes em menos de quatro anos — mas nunca foram encontradas razões para o deter.

Apesar destes números, nestas revistas feitas a pedestres ou a veículos, o Departamento de Justiça determinou que “a probabilidade de encontrar contrabando [droga ou armas ilegais] em indivíduos brancos era duas vezes maior comparado com os afro-americanos”. Isto é: quando a polícia interpela um branco, o grau de suspeita é já muito mais avançado do que quando aborda um negro.

O Departamento de Justiça também sustentou a sua conclusão depois de ter encontrado um e-mail onde um superior deixava um texto-modelo para todos os relatórios de invasão de propriedade privada. Nele, havia vários espaços em branco para preencher consoante o caso, como a data, local da ocorrência ou os nomes do suspeito e do agente policial. Ainda assim, não havia nenhum espaço para descrever a etnia do detido — não havia porque o texto já tinha as palavras “homem negro” escritas.

“Assim, o texto-modelo do superior presume que os indivíduos detidos por invasão de propriedade privada serão afro-americanos”, diz o Departamento de Justiça.

Além de causar danos nas suas vítimas, a violência policial em Baltimore também faz mossa nas contas públicas daquela cidade. Segundo uma investigação do Baltimore Sun de setembro de 2014, entre 2011 e a data de publicação do artigo, a autarquia local gastou cerca de 5,7 milhões de dólares (5,3 milhões de euros) em acordos extra-judiciais com mais de cem vítimas de agressões policiais. Um ano depois desta investigação do Baltimore Sun, a cidade de Baltimore chegou a um acordo com a família de Freddie Gray, à qual ofereceu um total de 6,4 milhões de dólares (6 milhões de euros) para terminar o processo.

No bairro social de Baltimore onde Freddie Gray morava, Gilmor Houses, foi pintado um mural em sua honra (BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images)

BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images

“Os bófias são o gangue que mantém o gueto controlado”

O rapper Son of Nun não precisava de ter os números do Departamento de Justiça à frente para apontar discriminação racial da polícia de Baltimore contra a população negra da cidade. Em 2007, na música Speak on It, já dizia: “Os bófias são o gangue que mantém o gueto controlado / Os líderes são eleitos mantêm os congregados / Num sistema prisional que é cruel e sobrelotado”.

Dez anos depois — e com a morte de Tyrone West, Freddie Gray e outros pelo meio — este antigo professor de História na escola secundária continua a falar sem reservas sobre a polícia. “Eu olho para eles como uma instituição e não como pessoas”, assegura. “Como instituição, não consigo respeitá-los. Sempre que as pessoas que trabalham fazem alguma exigência, a polícia é sempre a primeira a chegar ao local. É uma relação adversarial e eles agem do lado do opressor, tornando-se num deles. São treinados para isso, mas no final de contas a escolha é deles.”

"Sempre que as pessoas que trabalham fazem alguma exigência, a polícia é sempre a primeira a chegar ao local. É uma relação adversarial e eles agem do lado do opressor, tornando-se num deles. São treinados para isso, mas no final de conta a escolha é deles.”
Son of Nun, rapper de Baltimore

Kenny Driscoll, polícia reformado por invalidez, diz que os números apresentados no relatório do Departamento de Justiça são apenas um exemplo entre vários. “As estatísticas são aquilo que a gente quer e só significam aquilo que a gente quer que elas signifiquem”, diz ao Observador. “Em todo o tempo em que fui polícia, a mim nunca me disseram para ir deter negros e para deixar os brancos em paz.”

Estes homem de 52 anos recebe o Observador na sua casa, num bairro residencial e periférico de Baltimore. “Lamento, mas não o posso ir receber à porta”, diz, quando entramos. A desculpa é desnecessária: Kenny Driscoll ficou praticamente paraplégico há 16 anos, devido a uma série de lesões sofridas durante uma perseguição a um detido.

O dia 10 de agosto de 2001 tornou-se num dia drástico para Kenny Driscoll depois de ter interrogado um detido. O dia até estava a correr bem: além de ter feito a detenção daquele jovem de 17 anos, que era suspeito de vários assaltos a casa e também de violar um sobrinho, o indivíduo estava a cooperar, chegando a denunciar dois cúmplices. Depois do interrogatório, o polícia quis levar o detido para a esquadra. Quando o tirou do banco de trás do carro, pegou-lhe num braço e começou a encaminhá-lo para a porta. De repente, o rapaz de 17 anos deu um esticão com o braço, que estava escorregadio por causa do calor, e conseguiu soltar-se com facilidade. Quando começou a fuga, Kenny Driscoll reparou que ele tinha conseguido soltar-se das algemas, provavelmente quando ainda estava no carro.

“Quanto isto aconteceu eu tinha saído há poucos dias do hospital, porque fui operado ao pâncreas”, recorda. “Mas mesmo assim fui atrás dele. Eu tinha 37 anos na altura. Correr atrás de um rapaz de de 17 anos não foi nada fácil…”

Dizer que não foi “nada fácil” é um eufemismo. Pouco depois de a fuga ter começado, o suspeito correu para uma zona que parecia de bosque. Kenny Driscoll seguiu-o, mas rapidamente faltou-lhe o chão. Era uma ravina. Ao todo, caiu 12 metros. Seis em queda livre e outros tantos a rebolar. “Ele devia saber que aquilo era uma ravina ou então reagiu mais depressa do que eu”, diz sobre o fugitivo.

Quando se levantou, pensou que tinha partido uma costela. Mesmo assim, continuou a correr. Logo a seguir teve uma nova queda — desta vez de 9 metros, que fez a deslizar. No final, respirou fundo quando teve de tirar à força um galho que se tinha espetado na anca, e retomou a corrida.

“Ele ia à minha frente, mandou-se para um rio e atravessou para a outra margem. Eu fui atrás dele, mergulhei, mas quando saí do rio já tinha ficado sem adrenalina e caí redondo no chão com dores.”

O boletim clínico foi devastador. Kenny Driscoll partiu um pulso, torceu o outro e perfurou o tórax. Pior de tudo, além de ter desfeito os discos da coluna, partiu a coluna vertebral desde a zona lombra até ao cóccix. Atualmente, apenas consegue mexer a perna direita, mas a custo. O braço esquerdo é extremamente frágil. Como resultado do acidente, sofre de dor crónica, que tenta acalmar com doses cavalares de analgésicos. “Os médicos disseram-me que ao longo da vida só tinha como piorar”, diz, algo conformado.

“Hoje, um polícia tem logo telemóveis a filmar tudo o que ele faz”

Desde então já passaram mais de 15 anos. Hoje, Kenny Driscoll sobrevive a custo com a ajuda de uma pensão de invalidez e também com os donativos que polícias e antigos colegas lhe enviam de todo o país. Para passar o tempo, gere e escreve conteúdos para um site não-oficial onde é contada a história da polícia de Baltimore.

Para manter o site, no qual trabalha como voluntário, mantém-se em contacto com vários agentes em serviço ou reformados. Quando fala com aqueles que ainda hoje trabalham e que são da sua geração, Kenny Driscoll costuma ouvir a mesma lamentação: “As coisas hoje estão muito diferentes”. Para pior, entenda-se.

A conclusão de Kenny Driscoll aponta para um objeto e para um meio: os telemóveis e o Youtube, respetivamente. “No meu tempo, não tínhamos vídeos de YouTube, agora eles estão por todo o lado. Quando chega a uma ocorrência, um polícia tem de falar com quem lhe grita, para acalmar a situação. Mas hoje, enquanto tenta fazer isso, tem logo 10 telemóveis a filmar tudo o que ele faz”, queixa-se. O objetivo de quem filma, garante, é o de “provocar o polícia e ver se ele faz algo de errado”.

Hoje em dia, queixam-se os colegas deste polícia reformado, “as pessoas não falam com respeito” quando chega a polícia. Nem agradecem como dantes faziam depois de uma ocorrência ser resolvida. E os telemóveis, sempre os telemóveis. “Dantes dizíamos ‘você está detido’ e a pessoa esticava as mãos para ser algemada. Agora, saca do telemóvel.”

Nos EUA, existe uma aplicação que ajuda a filmar (e a guardar) vídeos de agressões policiais

Kenny Driscoll reconhece que há “maus polícias”, tal como há má gente em todo o lado. “Há maus profissionais em todo o lado e há má gente em todos os bairros”, resume. Na polícia, tal como nos bairros, fala apenas de 1% que, por não respeitar as regras, prejudica os restantes 99%.

Além de reconhecer os “maus polícias”, diz também que são precisamente “os outros polícias” os primeiros a denunciar os maus 1%. Kenny Driscoll explica porquê. “Nós estamos numa profissão onde a nossa vida pode estar em risco várias vezes ao dia”, diz. “Por isso, nós polícias somos os primeiros a denunciar os piores polícias, porque afinal de contas queremos ter ao nosso lado alguém competente. Afinal de contas, quando é uma situação de vida ou de morte, quem é que queremos ter ao nosso lado: um bom parceiro ou um mau parceiro?”

Para ilustrar a sua ideia de que ser agente em Baltimore pode ser uma profissão de vida ou morte, Kenny Driscoll refere que desde 1845, quando a polícia daquela cidade foi fundada, um total de 165 agentes foram mortos em serviço ou quando ainda estavam no ativo. Desde 2000, o total é de 16 agentes mortos. Destes, três morreram alvejados. Um, foi atingido durante um assalto a uma mercearia. Outro, foi morto fora do horário de expediente por um homem que ajudara a prender e que entretanto saíra em liberdade. O terceiro, foi atingido acidentalmente por colegas, depois de ele próprio, à paisana, ter disparado para dispersar uma discussão à porta de uma discoteca.

"Nós polícias somos os primeiros a denunciar os piores polícias, porque queremos ter ao nosso lado alguém competente. Afinal de contas, quando é uma situação de vida ou de morte, quem é que queremos ter ao nosso lado: um bom parceiro ou um mau parceiro?”
Kenny Driscoll, 52 anos, polícia reformado por invalidez

Durante os 14 anos em que foi polícia, Kenny Driscoll garante que só disparou contra alguém uma única vez. Um suspeito pegou no próprio irmão para usá-lo enquanto escudo humano durante uma rusga. Enquanto isso, ameaçava com uma pistola o parceiro de Kenny Driscoll. “Eu estava de lado, fora do ângulo de visão dele, e disparei-lhe para a zona do peito”, recorda. A história não ficou por aí: “30 segundos depois, estava a prestar-lhe primeiros socorros para garantir que ele sobrevivia. E sobreviveu”.

Kenny Driscoll conta esta história para voltar a insistir que “a maior parte dos agentes da polícia quer o bem geral, tal como as pessoas”. Com orgulho, conta que depois de se ter lesionado, recebeu cartões a desejarem-lhe as melhoras assinados por algumas das pessoas que deteve e interrogou “vezes sem conta” ao longo dos anos. “Nós queremos o bem e a segurança dos bairros, assim como o resto dos cidadãos. Só que depois há 1% que estragam tudo para os outros”, garante.

Com Donald Trump a Presidente, a corda parte para que lado?

A 14 de janeiro, na última semana de Barack Obama como Presidente dos EUA, o Departamento de Justiça chegou a acordo com a autarquia de Baltimore para implementar um novo código de conduta para a polícia. As recomendações incluídas nesse documento de 227 páginas surgem na sequência do relatório que o Departamento de Justiça publicou no relatório de agosto do ano passado.

No acordo entre as duas partes, está prevista a instituição de um órgão presidido por cidadãos ao qual poderão ser submetidas queixas contra agentes policiais; oito horas anuais de sessões de treino em que os polícias devem aprender técnicas para terem “interações positivas (…) com jovens, pessoas LGBT, sem-abrigo, organizações para a saúde mental e comunidades”; e é também explicado que todos os polícias terão de consultar um superior antes de deterem alguém por crimes como obstrução, resistência ou desobediência a um agente, tal como jogo ilegal ou prestação de declaração falsa.

Além disso, há duas recomendações que são claramente feitas na sequência do caso de Freddie Gray: as autoridades serão proibidas de parar ou deter alguém “apenas devido à resposta de um indivíduo à presença de agentes da polícia, como a tentativa de um indivíduo de evitar contacto com um agente”; e também a exigência de que “todas as carrinhas e carros da polícia tenham cintos de segurança a funcionar e que todos os detidos estejam por eles segurados enquanto são transportados”.

Jeff Sessions, nomeado de Donald Trump para Procurador-Geral dos EUA, coloca a hipótese de modificar o acordo que pode ditar a mudança de regras na polícia de Baltimore (Chip Somodevilla/Getty Images)

Chip Somodevilla/Getty Images

Para estas regras serem implementadas, será preciso a aprovação de um juiz federal. No entanto, o processo pode ser travado, agora que Donald Trump é Presidente.

A vitória de Donald Trump a 8 de novembro do ano passado surgiu como uma surpresa para muitas pessoas dentro e fora dos EUA — e a presidente da câmara de Baltimore, a democrata Catherine Pugh, não foi exceção. Por isso, assim que Donald Trump venceu as eleições, a mayor fez por tornar o processo de negociação mais célere. “Estou a acelerar o processo”, disse já em dezembro. “O nosso objetivo é ter isto pronto antes de o próximo executivo tomar poder.”

Para já, não é certo que administração de Donald Trump queira reverter ou alterar o acordo entre o Departamento de Justiça e a cidade de Baltimore. Ainda assim, há sinais que podem indicar um travão no processo iniciado pelo executivo de Barack Obama.

Numa das sessões do comité judicial do Senado, o homem escolhido por Donald Trump para liderar o Departamento de Justiça e para chegar ao cargo de Procurador-Geral dos EUA, o senador do Alabama Jeff Sessions, colocou algumas reticências a acordos como o que está em questão em Baltimore.

“É preocupante quando bons polícias e bons comandos são processados pelo Departamento de Justiça quando só alguns indivíduos dentro de um comando agiram de forma errada”, disse o senador do Alabama, que ainda não recebeu os votos necessários para ser Procurador-Geral. “Estes processos prejudicam o respeito pelos agentes da polícia e criam a impressão de que um comando inteiro não está a fazer o seu trabalho de forma justa e com a fidelidade que devem à lei. É preciso ter cuidado antes de fazer isso.”

“Se eles querem reduzir o crime, então vão ter de prender pessoas. O mundo não se muda assim, sem mais nem menos, nem por decreto. Não se pode ignorar o crime nem negar que ele existe, porque ele não desaparece sozinho.”
Kenny Driscoll, 52 anos, polícia reformado por invalidez

Sobre a validade dos acordos que estão neste momento a decorrer, Jeff Sessions foi pouco claro: “Esses decretos continuam em atividade até serem, ou se forem, mudados”. A administração de Donald Trump também pode deixar o acordo em vigor, mas fazer pouco para garantir que ele é cumprido pela polícia de Baltimore. Afinal, a supervisão e fiscalização do cumprimento do acordo cabe ao Departamento de Justiça.

Kenny Driscoll tem reservas quanto a este acordo. “Se eles querem reduzir o crime, então vão ter de prender pessoas”, diz. “O mundo não se muda assim, sem mais nem menos, nem por decreto. Não se pode ignorar o crime nem negar que ele existe, porque ele não desaparece sozinho.”

Tawanda Jones também coloca dúvidas em relação à sua eficácia, embora parta de outro ângulo. “Eles podem mudar as regras que quiserem, mas elas não vão servir de nada se os polícias não forem responsabilizados quando as quebram”, diz.

Para a irmã de Tyrone West, o problema é demasiado profundo para ser mudado num par de anos. “O sistema permite que isto aconteça contra nós, mas nunca acontece nada contra os brancos. Se isto fosse contra eles, de certeza que havia uma revolução na hora”, garante. “Mas não é assim que as coisas funcionam aqui. Para mim, é como se ainda vivêssemos no século XVIII. O sistema está montado para estarmos em linha e para estarmos sob controlo. É como se ainda fôssemos escravos.”

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(O Observador está nos Estados Unidos com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento)

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