Segundo alguns historiadores, esta pergunta teria sido feita por Adolfo Hitler em 1939, quando o líder nazi levava a cabo o extermínio de judeus, que mais tarde veio a ser definido por Holocausto ou genocídio. Felizmente, Hitler enganou-se e, cem anos depois, a matança de mais de um milhão de arménios pelo Império Otomano em 1915 continua presente, embora rodeada de muitas discussões devido ao facto da Turquia não considerar esse acto um genocídio.
O Holocausto foi reconhecido praticamente por todo o mundo, mas a constatação do facto de que a chacina dos arménios foi um genocídio parece que irá levar muito mais tempo devido a interesses políticos. Na Europa, apenas 11 dos 28 Estados membros apoiam a posição dos arménios, estando Portugal entre os que não ousaram ainda dar esse passo.
No caso de Portugal, acho esta posição um tanto ou quanto estranha se tivermos em conta o historial das relações entre lusos e arménios e, particularmente, a obra do grande mecenas arménio Calouste Gulbenkian no nosso país. De facto, Gulbenkian nasceu em Istambul e só não se juntou ao número de vítimas do genocídio arménio por se encontrar nessa altura fora da Turquia.
Será que Portugal tem assim tantos interesses a proteger na Turquia para evitar dar este passo? Se tivemos a coragem de reconhecer o crime que foi a expulsão dos judeus de Portugal e a perseguição dos cristãos-novos que ficaram no país, porque é que não fazemos o mesmo em relação aos arménios? Hoje, por exemplo, seria um bom dia para reconhecer o genocídio.
Aos que colocam os interesses económicos e políticos à frente do humanismo gostaria de recordar que a diáspora arménia é muito forte e rica em numerosos países, nomeadamente na Rússia. Por experiência própria sei que os arménios nutrem grande respeito e simpatia pelo nosso país devido à forma como foi acolhido Gulbenkian. Quando chega a Lisboa, a primeira coisa que um arménio quer saber é onde fica o edifício da Fundação e a estátua de Calouste Gulbenkian.
Os Estados Unidos não quiseram irritar a Turquia e, por isso, Barack Obama não utilizou a palavra “genocídio” na sua mensagem, mas sim “matança”. Porém, a Alemanha teve coragem de chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome.
E claro que não se pode deixar de assinalar aqui as palavras corajosas do Papa Francisco que não só recorreu ao termo “genocídio” para definir a matança dos arménios de 1915, como a comparou com “outras duas tragédias humanas que foram praticadas pelo nazismo e estalinismo”.
De que estarão à espera as autoridades portuguesas? Neste caso, já nem sequer serão mais papistas que o Papa.