Há um efeito substantivo e impressionante da pírrica declaração unilateral de independência da Catalunha que foi até agora, pelo que retive de todas as análises publicadas a que tive acesso, pouco ou nada explorado e comentado: a deslocação maciça de sedes sociais de mais de 2000 empresas para fora do território catalão, durante um período inferior a três semanas.

E, com isto, a transferência direta de pagamento de impostos para geografias distintas e o desincentivo automático ao investimento na região. Mais: o sinal que foi dado aos investidores, onde quer que se situem no mundo, com a irresponsável e histriónica escalada independentista, foi de instabilidade extrema (ao mais alto e decisivo nível) e de imprevisibilidade do contexto político, social e económico cujo impacto total é difícil de aquilatar e antecipar, mas que será certamente devastador – e porventura irreversível.

É verdade que a pseudo-independência da Catalunha, anunciada em várias fases, com uma encenação controlada com mestria e um domínio do timing mediático telenovelescamente apuradíssimo, produziu também outras consequências muito relevantes – ainda que não no que toca ao nascimento da República. Produziu líderes no exílio, criou presos políticos, levantou clamor com delitos de opinião; ameaçou conflitos diplomáticos, provocou comoção nacional e suscitou a mais altiva, total e ostensiva indiferença por parte da União Europeia.

Mas a mais triste ironia em relação a tudo o que se passou seria que o motor ideológico e pragmático da independência – a suposta injustiça cometida sobre uma província superavitária, esmagada pelo peso centralista dos impostos de Madrid – redundasse, a final, numa região depauperada, desertificada da sua riqueza e subsídio-dependente. Veremos.

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Houve variáveis económicas claramente negligenciadas no planeamento político deste movimento e que deixarão a sua marca de longo prazo, à custa da Catalunha e à custa de Espanha. O desprezo dos protagonistas pelo comportamento das empresas e pela racionalidade própria que estas têm que incorporar nos seus processos de planeamento estratégico – bem como pela agilidade e determinação com que reagem à flutuação dos elementos determinantes das suas decisões – faz desconfiar, no mínimo, da sua preparação para funções de responsabilidade política.

E, não muito longe, parece estar em curso um esforço para catalunhizar Portugal, porventura inspirado pela omnipresença do Senhor Puigdemont na televisão. Terá Catarina Martins segredado a António Costa, com fervor republicano, os caminhos a trilhar pelo independentismo luso? Será que Jerónimo de Sousa, que sempre abominou a nossa relação com a UE, viu finalmente a oportunidade de cortar as amarras da jangada de pedra? Seja o que for, não posso deixar de temer o pior. Será que o que querem é passar Portugal de país independente e soberano a país subsídio-dependente e sujeito de novo a intervenção externa?

O desprezo que o Governo vota à Economia, às empresas e aos empresários é uma constante e tornou-se gritante. Não incentiva o investimento, não dá sinais positivos de estabilidade e ufana-se, de permeio, das migalhas que distribui através de um crédito fiscal em sede de IRS para quem capitalizar empresas em dificuldades…

É que, num país com muitos impostos e maus impostos (que oneram gravemente o trabalho e a criação de riqueza), pouca justiça e má justiça, instabilidade fiscal, ataques aos profissionais liberais e custos de contexto muito pesados, não serão certamente eventos como a Web Summit – recheados de discursos mais ou menos serôdios em tom de auto-elogio à nossa proverbial hospitalidade – que irão assomar à memória dos investidores no momento de decidir onde irão empregar o seu capital.

E, assim, não será de surpreender, lamentavelmente, que os empresários procurem em breve outras paragens e que os empreendedores escolham terrenos menos acidentados e hostis e não catalunhizados – e nesse momento não serão os vistos gold e os incentivos fiscais para estrangeiros que nos valerão.

O senhor Puigdemont e a sua corte não fariam melhor.