O acordo entre o Irão e o “sexteto internacional” (Estados Unidos, Rússia, China, França, Inglaterra e Alemanha) sobre o programa nuclear de Teerão veio mostrar que é posível resolver os mais difíceis problemas internacionais através do diálogo.
Este documento veio também mostrar que o chamado Ocidente e a Rússia podem cooperar com vista a enfrentar e superar os perigosos desafios que se colocam: ameaça do Exército Islâmico e do terrorismo fundamentalista, do alargamento das zonas de instabilidade no Médio Oriente. O principal é que os dirigentes dos países mais poderosos não recorram à força como forma mais simples de solução dos problemas. Este princípio é válido tanto em relação à invasão do Iraque por tropas americanas, como à ocupação da Crimeia por militares russos.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia afirma que na base do acordo esteve o princípio formulado pelo Presidente Putin, que “reconhece ao Irão o direito incondicional à realização do programa nuclear pacífico, incluindo o enriquecimento de urânio, se esse programa for posto sob o controlo internacional e sejam levantadas todas as sanções vigentes contra o país”.
Washington reconheceu o papel da Rússia em todo este processo, mas frisou que se trata de um êxito colectivo. À pergunta, seria possível o acordo sem a participação da Rússia, Marie Harf, porta-voz da Casa Branca, respondeu: “não, ela é parte do grupo dos cinco membros permanentes do CS da ONU e da Alemanha, um participante fulcral das conversações”.
A julgar pelas declarações das partes, a implementação prática do acordo ainda irá levar vários meses, mas todos fazem as contas sobre como aproveitar o levantamento das sanções. A Rússia, por um lado, receia que o aumento das exportações de petróleo por Teerão faça descer ainda mais o preço desse combustível nos mercados mundiais, complicando a já difícil situação económica criada devido à guerra com a Ucrânia.
Mas, por outro lado, pode ganhar com o fornecimento de urânio e com a construção de novas centrais nucleares nesse país, bem como com a venda de armas e noutras áreas. Denis Manturov, ministro do Comércio Industrial da Rússia, já veio propor cooperação e campos como construção de automóveis, aviões e navios.
Porém, a concorrência irá ser muito forte. A União Europeia poderá ter no Irão mais uma alternativa ao petróleo e gás russos. Antes do embargo, Teerão exportava de 13 a 15% do seu petróleo para a Itália, Espanha e Grécia. O Irão está a investir na exploração das suas reservas de gás natural.
Os Estados Unidos certamente não se deixarão ficar para trás. Apenas um número: se, actualmente, as trocas comerciais anuais entre Teerão e Moscovo não chegam a mil milhões de dólares, as trocas entre o Irão e os Estados Unidos são de cerca de cinco mil milhões, isto não obstante as sanções.
Quanto à China, ela já recebe, diariamente, cerca de mil milhões de barris de petróleo iraniano e certamente que não deixará passar as novas oportunidades de negócio abertas pela redução ou suspensão total das sanções.
Esperemos que este tipo de formato de conversações possa ser empregue para resolver outros problemas complexos internacionais.