“Diz-me com quem andas e eu digo-te quem és” – este provérbio popular definiu e continua a definir de forma precisa a política externa do Partido Comunista Português.

Durante a guerra fria, era total a obediência dos dirigentes comunistas portugueses à União Soviética. Mesmo nos momentos em que essa superpotência comunista violava grosseiramente os mais elementares direitos humanos e regras de convivência internacional, podia contar com o apoio incondicional do PCP. Os exemplos são mais do que conhecidos: invasão de países como a Checoslováquia e o Afeganistão pelo exército vermelho, “soberania limitada”, etc.

Desaparecida a URSS e o chamado “campo socialista”, o PCP não tirou as devidas conclusões desses acontecimentos e continua a apoiar os regimes mais sanguinários e corruptos do planeta.

A deputada Rita Rato, licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa, dizia, em 2009, a propósito dos campos de concentração na URSS “que nunca estudei nem li nada sobre isso”. Das duas uma, ou a jovem deputada mentiu em nome da “verdade revolucionária”, ou o ensino superior português anda “pelas ruas da amargura”.

Edgar Silva, candidato do PCP à Presidência da República, ainda tem dúvidas quanto à natureza do regime que governa a Coreia do Norte. Num dos debates televisivos, fugiu à pergunta de se o regime de Pyongyang era ou não uma democracia com uma tirada muito ambígua e só a muito custo acabou por reconhecer: “Não vejo que seja um privilégio da Coreia do Norte”.

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Aqui até se pode compreender a insegurança de Edgar Silva, visto que ele podia não estar à espera que a Coreia do Norte fosse tema de debate na campanha presidencial. O seu camarada Kim Jong-un trocou-lhe as voltas ao anunciar mais uma das suas “geniais iniciativas”: a explosão de uma bomba de hidrogénio.

Mas, no caso da Venezuela, o PCP não tem dúvidas em apoiar o Presidente Maduro, que inventa as mais extravagantes justificações para evitar as consequências da estrondosa derrota eleitoral que sofreu nas urnas.

Este caso traz à memória a política de um dos principais teóricos do comunismo, Vladimir Lénine, face à Assembleia Constituinte na Rússia. Depois da revolução comunista de Outubro de 1917, os comunistas decidiram aceitar a realização de eleições para uma Assembleia Constituinte, pois essa foi uma das reivindicações mais importantes que faziam antes da tomada do poder. Porém, quando foram derrotados nas urnas, decidiram simplesmente dissolvê-la após a primeira sessão e substituí-la por uma “forma superior de democracia”: a “ditadura do proletariado”, que garantia o “apoio unânime”.

A partir dessa altura, os comunistas soviéticos nunca mais quiseram “brincar” à “democracia burguesa”. E Maduro parece seguir o seu exemplo.

O PCP não ousa também apoiar qualquer crítica ao regime cleptomaníaco e corrupto de Angola, à política de José Eduardo dos Santos, mais um daqueles que só abandonará o poder quando “Deus o chamar para perto de si”.

Verdade seja dita, no que diz respeito ao regime angolano, o PCP não está sozinho, conta com a abstenção ou o apoio de outros partidos representados na Assembleia da República. O caso mais recente deu-se na semana passada, quando o PSD, CDS-PP e PCP rejeitaram um voto de condenação apresentado pelo Bloco de Esquerda sobre a “repressão em Angola” e com um apelo à libertação dos “ativistas detidos”.

Por outro lado, os comunistas portugueses não têm a menor dúvida de que a adesão de Portugal à União Europeia constituiu um “desastre económico e social”, defendendo uma política nacionalista e isolacionista. Porém, não nos conseguem explicar qual as alternativas à integração europeia a não sair a saída do euro e da UE. E o que se vai fazer a seguir?

O PCP faz cada vez lembrar mais o actual Partido Comunista da Federação da Rússia, que, no seu eclético programa, consegue juntar “tradicionalismo”, “nacionalismo”, “marxismo-leninismo-estalinismo” e “ortodoxia”, esta última no sentido religioso. É difícil imaginar Jerónimo de Sousa a pôr velas nalgum templo católico, mas todos os outros traços citados já estão presentes na ideologia do PCP. Ou seja, este transforma-se cada vez mais numa força política nacional-comunista.

E deixo mais uma pergunta: antes da derrocada da União Soviética, a ajuda financeira desse e doutros “países socialistas” justifica em grande parte a fidelidade do PCP em relação a eles. E hoje? Será apenas uma questão de “coerência”, como dizem os comunistas portugueses, ou de “cegueira política”, como afirmam os seus adversários?

P.S. Gostaria de fazer uma proposta: que a publicação de “A Minha Luta” de Adolfo Hitler em português fosse seguida da tradução e publicação de obras de Lenine e Estaline que as autoridades soviéticas tinham vergonha de que fossem conhecidas devido às ideias extremistas defendidas por esses dois dirigentes soviéticos.