As sondagens, aparentemente, revelam que Marcelo Rebelo de Sousa é o candidato das direitas com melhores condições para concorrer a Belém em 2016. Não acredito que concorra; e mesmo que, surpreendentemente, o faça, será quase certo que perde. A razão porque acho que não se candidata é simples e óbvia: Marcelo Rebelo de Sousa é um comentador, não é um político. Não é um homem de acção nem de poder; é um analista e um comunicador. Brilhante, sem dúvida, mas não mais do que isso.
Os homens de poder e os candidatos não se anunciam, avançam e depois ganham ou perdem. Se Rebelo de Sousa fosse um político, já tinha sido primeiro-ministro, ou presidente de uma grande Câmara, ou pelo menos candidato a primeiro-ministro, mesmo derrotado. Nunca foi nada disso. Por que razão haveria agora de ser candidato presidencial?
Vejamos alguns exemplos recentes de homens de poder em Portugal. Quando teve a sua primeira oportunidade, Sócrates avançou e foi sete anos primeiro-ministro. Paulo Portas, ao contrário de Marcelo, dizia que não queria o poder, mas nunca anunciou que iria fazer política. Quando por fim assumiu que era político, e não jornalista, tornou-se líder do CDS e levou o partido por duas vezes para o governo (proeza inédita nos democratas-cristãos). Passos Coelho passou mais de dez anos fora da política, quando regressou não foi para fazer comentário político, mas para se candidatar a líder do PSD. Perdeu, voltou a concorrer, ganhou e tornou-se primeiro-ministro. Sócrates, Portas e Passos são homens de poder, Marcelo não é. Não podia ser mais simples.
O medo de perder explica porque Marcelo Rebelo de Sousa não é um homem de poder. Os políticos de poder são aqueles que não temem a derrota, perdem e depois regressam para ganhar. Foi assim com Mário Soares, com Cavaco, e com os outros políticos de sucesso. E qualquer adversário de Marcelo conhece-o muito bem e sabe do seu pavor pela derrota. Quando Passos Coelho anunciou que iria candidatar-se a líder do PSD, depois da liderança de Ferreira Leite, perguntaram-lhe na televisão se não receava o “Professor Rebelo de Sousa, o preferido dos militantes para ocupar a presidência do partido.” Passos respondeu, com tranquilidade: “Não só não tenho medo, como desafio Marcelo Rebelo de Sousa a candidatar-se e depois logo se verá quem ganha.” Naquele momento, o destino de Marcelo ficou traçado. Obviamente, não se candidatou.
Além do medo da derrota, Marcelo Rebelo de Sousa não entende alguns pontos elementares da democracia (o que surpreende no caso de um observador tão astuto). Sendo um produto cultural das escolas do Estado Novo, acredita que uma carreira académica de sucesso deveria ser meio caminho andado para o topo do poder. Não consegue aceitar que um catedrático da Faculdade de Direito seja obrigado a lutar politicamente com um mero licenciado na Universidade Lusíada. Na verdade, não entende o país em que Portugal se transformou. Ele foi educado para ser primeiro-ministro num Portugal que já acabou, e acabou há muito tempo. E acha que tudo isto é o resultado do baixo nível da vida política. Ou seja, convenceu-se que o país está errado.
Se por acaso, num assomo de coragem tardia, Marcelo Rebelo de Sousa resolver candidatar-se, o mais certo é perder. Depois da maior crise desde o 25 de Abril, não é necessário um grande esforço intelectual para perceber que os portugueses não escolheriam para Presidente um comentador que os tem entretido durante os últimos anos na televisão. Vivemos um tempo para líderes responsáveis e determinados, e não para comentadores simpáticos e engraçados. Um candidato medroso que passou a última década a comentar seria o ideal para as esquerdas. Rebelo de Sousa é o candidato da direita dos socialistas, mas não é certamente o melhor candidato da direita.