Porque é que o incêndio de Pedrogão Grande não levou a demissões no governo e o desvio de armas de Tancos já levou ao afastamento de cinco oficiais? Será que os militares são mais culpados do que os civis, ou os primeiros estão a ser transformados em “bodes expiatórios”?

Quando o incêndio de Pedrogão Grande provocou dezenas de mortes e feridos, as autoridades não se cansaram de apelar a que era preciso investigar antes de se demitir este ou aquele governante. O tempo passa, são cada vez mais evidentes os factos que demonstram que houve falhas muito sérias na prevenção dos incêndios, nos sistemas de comunicações da protecção civil e de outras forças que devem velar pela nossa segurança, mas continua tudo na mesma, à espera do resultado das ditas investigações. Talvez então saibamos quem são os responsáveis. Por enquanto, qualquer apelo à demissão deste ou daquele dirigente é visto, por alguns sectores, como uma tentativa de derrubar António Costa.

Por isso, não compreendo porque é que, depois do desaparecimento misterioso do armamento, rapidamente foram exonerados cinco oficiais. O chefe do Estado-Maior do Exército, General Rovisco Duarte, revelou: “exonerei-os por uma questão de clareza e para não interferirem com o processo de averiguações”. Seguindo esta lógica de ideias, porque é que o primeiro-ministro António Costa não fez o mesmo com os responsáveis da Protecção Civil ou da Administração Interna para que eles não dificultem as investigações? Os militares têm mais capacidades que as autoridades civis para bloquear o apuramento da verdade?

Não há dúvida que o roubo de armamentos de Tancos é um acontecimento gravíssimo, que pode pôr em perigo a vida de muitas pessoas numa altura em que o terrorismo se alastra a novas regiões. Mas quem já concluiu que foram os militares os culpados e não as autoridades civis que não dão respostas reais e sérias aos problemas das Forças Armadas, provocando incidentes perigosíssimos como estes? Quem apurou que os cinco oficiais afastados são mais culpados deste acto vergonhoso e não o ministro da Defesa ou algum dos seus adjuntos?

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E as vidas perdidas em Pedrogão Grande, as centenas de pessoas feridas e traumatizadas valem menos do que os explosivos que desapareceram de Tancos?

Ambos esses graves acontecimentos mostram que o país está seriamente doente e que é preciso tomar medidas sérias para o curar.

Em situações como estas, é necessário ter muito cuidado para não abrir fissuras entre as autoridades civis e os militares, sendo imperioso colaborar na solução dos graves problemas que afectam as Forças Armadas e o país, no lugar de enveredar por teorias da conspiração.

No caso dos incêndios, as investigações têm de ser céleres e credíveis, pois, caso contrário, o fosso aberto entre a sociedade e o poder pela desconfiança irá alargar-se perigosamente.

Chegou a hora das actuais forças políticas representadas na Assembleia da República pensarem no país real e não nos massacrarem mais com demagogia e falsas promessas.

PS. Quanto às férias do primeiro-ministro, ele tem direito a elas como qualquer cidadão e pode considerar que a situação está sob controlo e a sua presença em Portugal não seja necessária. Uma decisão muito duvidosa e problemática que os cidadãos deverão avaliar.