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AFP/Getty Images

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O que é que os políticos portugueses andam a ler neste verão

23 políticos contaram ao Observador o que vão ler nestas férias. "Porque falham as nações" é uma escolha repetida, mas a lista também inclui poesia e a biografia do "Rolling Stone" Keith Richards.

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António Bagão Félix, conselheiro de Estado

Apaixonado pela botânica, não é de estranhar que os livros sobre o tema sejam companhia assídua do ex-ministro das Finanças. Que até já assinou um livro intitulado Trinta árvores em discurso direto. Na bagagem das férias, Bagão Félix vai carregar também A ideia de justiça de Amartya Sen, A noite do confessor de Tomas Halik e, por fim, Portugal na queda da Europa de Viriato Soromenho Marques.

Sérgio Sousa Pinto, deputado do PS

Em plena crise de liderança no Partido Socialista, o deputado e declarado apoiante de António Costa está a ler um livro com um nome, no mínimo, sugestivo: O homem sem qualidades, de Robert Musil. E se não se pode julgar um livro pela capa, neste caso o título também engana. O homem sem qualidades é uma crítica aos elementos centrais da sociedade em geral e é um dos grandes livros escritos no século XX. Curiosidade: o protagonista deste livro chama-se Ulrich.
Sérgio Sousa Pinto também vai ler os diários de George Orwell, que a editora D. Quixote publicou recentemente e pela primeira vez em Portugal, e ainda sobra tempo para ler a biografia de Zelda Fitzgerald, mulher do escritor F. Scott Fitzgerald. Razões para as escolhas? “Não tem explicação além do óbvio”, diz ao Observador. Pois.

Rui Machete, ministro dos Negócios Estrangeiros

O livro escolhido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros é A guerra que acabou com a paz de Margaret MacMillan. É sobre a I Grande Guerra e é uma leitura apropriada numa altura em que passam 100 anos desse conflito. “Há muitos livros que gostaria de ler nestas férias, mas nunca vou conseguir ler todos. Este é um entre vários”, explicou ao Observador.

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Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS

Entre o final do Mundial de Futebol e início da Liga Portuguesa, o que o deputado do CDS quer ler é futebol. “Acho que vou ler sobretudo A Bola para saber novidades do Benfica”. Nos intervalos das notícias sobre novas contratações, Nuno Magalhães vai aproveitar para ler o último livro de Miguel Esteves Cardoso, Amores e Saudades de Um Português Arreliado.

Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças

“Nenhum”. É assim que Eduardo Catroga responde à curiosidade do Observador sobre as suas leituras. Não porque o coordenador do programa eleitoral do PSD em 2011 não goste de ler, mas porque vai estar ocupado a escrever o seu próprio livro. “Trata-se de um projeto de livro de economia, gestão e política vivências e reflexões, revisitando trechos da minha vida pessoal, profissional e missões políticas que aceitei no contexto político, económico e social das várias épocas”, adiantou Catroga, explicando que o livro também vai incluir reflexões sobre o futuro.

João Soares, deputado do PS

Foi presidente da Câmara de Lisboa e agora é deputado do PS e mandatário da candidatura de António José Seguro às eleições primárias no partido, mas consegue ainda assim arranjar um tempinho para pôr a leitura em dia. João Soares já fez as escolhas de leitura de verão: Vida e destino, de Vassili Grossman e Portugal, a Flor e a Foice, de José Rentes de Carvalho. Sobre o primeiro, diz que “é um grande romance histórico na linha de Alexander Soljenítsin”. “Trata-se de uma edição póstuma. O autor, ucraniano, foi preso, o romance apreendido pelo KGB e só depois publicado durante a era de Gorbatchov”.

Luís Marques Guedes, ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares

A 4 de julho, a Porto Editora publicou o mais recente livro de José Manuel Saraiva, A última carta de carlota joaquina, e é este o livro que Luís Marques Guedes vai andar a ler nos próximos tempos. Para o regresso ao romance histórico, o autor português dedicou-se à figura de uma infanta espanhola tornada rainha portuguesa, que sempre conspirou contra Portugal e contra o seu marido a partir do centro do poder. Ao longo das páginas do livro, Luís Marques Guedes irá seguir a vida da rainha que procurou sempre satisfazer os seus anseios pessoais e as suas aspirações políticas sem olhar às consequências que isso poderia trazer para Portugal.
Talvez para se refrescar do calor, Luís Marques Guedes também vai ler O Inverno do Mundo, de Ken Follett. “Já tinha lido Os Pilares da Terra e gosto muito deste autor”, contou.

António Filipe, vice-presidente da Assembleia e deputado do PCP

“Ainda falta tanto para o meu verão que não faço a mínima ideia do que vou ler”, respondeu o deputado comunista, explicando que lê “o que for preciso e o que apetecer” em todas as estações do ano. No entanto, parte das suas férias vão ser passadas, não a ler outros autores, mas a editar um livro que poderá ser lido por todos. “Estou a preparar a edição em português de um livro que escrevi e editei em inglês sobre o referendo na Experiência Constitucional Portuguesa”. O deputado comunista concluiu em dezembro do ano passado um doutoramento em Direito Constitucional na Universidade de Leiden, na Holanda. Um doutoramento muito útil num país cuja palavra mais popular dos últimos tempos é, precisamente, “constitucional”.

Paula Teixeira da Cruz, ministra da Justiça

A ministra da Justiça escolhe para estas férias a História do Anti-Semitismo da Antiguidade aos Nossos Dias, de Trond Berg Eriksen, Hakon Harket e Einhart Lorenz. É um livro de 2010 que conta a história de ódios que os judeus suscitaram ao longo dos tempos.

Vítor Ramalho, presidente da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa

Vítor Ramalho, soarista e apoiante de António Costa, vai ler Jogos de poder de Paulo Pena, vai reler A geração da utopia de Pepetela e os Netos de Norton de Orlando Costa, pai de António Costa. “A UCCLA vai promover uma grande homenagem a partir de outubro e até maio do próximo ano aos jovens das ex-colónias portuguesas de África que nos anos 60 do século passado levantaram a bandeira da independência dos territórios colonizados. A associação, extinta em 1985, chamava-se Casa dos Estudantes do Império. Estes dois livros são romances que falam sobre isso”, explica.

Nos sacos da praia dos políticos vão poucas biografias, mas variadas. Há quem se interesse por Keith Richards, André Agassi e Zelda Fitzgerald.

Telmo Correia, vice-presidente da Assembleia da República e deputado do CDS

Telmo Correia escolhe dois livros em francês e duas biografias. Os primeiros são Patagonie,de Michel Houllebecq, “um livro de viagens de um dos meus autores favoritos” e Chant d’ esperance, o último livro de Jean d’Ormesson. “É um livro filosófico de um ex-diretor e editorialista do Le Figaro e membro da academia francesa”. Depois de livros em francês, Telmo Correia vai ler “coisas mais ligeiras”, mais concretamente biografias sobre um tenista e uma estrela rock. A primeira biografia é do tenista André Agassi, Open. “Gosto de biografias e de ténis. E já esgotei biografias de políticos”, explica, contando que é a história de um campeão que “em miúdo odeia ténis e é obrigado a gostar e que tem sempre uma revolta permanente”. O outro livro é Life, uma autobiografia do mítico guitarrista dos Rolling Stones, Keith Richards, que já deve ter experimentado tudo o que é loucura na vida. “Se tiver tempo vou querer ler ainda Limonov”, acrescentou.

Castro Almeida, secretário de Estado do Desenvolvimento Regional

Há dois livros que vão acompanhar um dos responsáveis pelo Desenvolvimento Regional do país. O primeiro é Memórias do outono ocidental, onde o professor Adriano Moreira se debruça sobre “o relevo crescente das inquietações de cada Estado europeu com os seus interesses privativos, a crise da estrutura europeia e o aprofundamento da sua hesitação entre a Integração na linha federalista e a União na linha da igual­dade dos Estados”, como se pode ler no prefácio. O segundo, Porque falham as nações, é um interessante livro onde os economistas Daron Aceloglu e James Robinson tentam responder à questão que o mundo – e muitos portugueses – se anda a colocar há séculos: porque são umas nações ricas e outras pobres?

Ana Paula Vitorino, deputada do PS

A ex-secretária de Estado dos Transportes de José Sócrates escolhe autoras portuguesas, o último livro de Lídia Jorge, Os Memoráveis, e o primeiro romance de Gabriela Ruivo Trindade, Uma outra voz, “que é uma visão no feminino visto a partir de uma pequena cidade alentejana, que tem a particularidade de estar ligada às origens da minha família”. Para a beira mar, levará O segredo do hidrovião, um thriller de Fernando Sobral a relembrar Macau. Na não ficção, as escolhas são interessantes. “Estou a olhar para O Preço da desigualdade de Stiglitz e a refrescar a memória com História do povo na revolução portuguesa, de Raquel Varela”.

A maior parte dos livros são sobre história e política, mas nos intervalos há espaço para saber as últimas do futebol. Nuno Magalhães e José Lello confessam que vão espreitar a imprensa desportiva.

Nuno Melo, eurodeputado do CDS

O vice-presidente do CDS e eurodeputado opta por livros sobre história: A queda de Roma, Bryan Ward-Perkins, e A primeira invasão de Portugal 1807-1808, Welligton contra Junot, de David Buttery. Trata-se de dois momentos históricos de dificuldades, escolhidos por um dirigente do partido que festejou o fim do plano de resgate de Portugal como uma restauração da independência.

Óscar Gaspar, conselheiro económico de António José Seguro

“Espero ler bastante”, diz Óscar Gaspar ao Observador. O conselheiro de Seguro tem a nova versão do Ulisses para ler, mas não só. “Comprei agora em Madrid o La pena capital do peruano Santiago Roncagliolo de que gosto muito. Quer ler O poder de mudar, que o Gustavo Cardoso teve a amabilidade de me enviar”, contou. O ex-secretário de Estado da Saúde também tem à sua espera o livro de divulgação cientifica Cancro, do professor Sobrinho Simões e The power of evidence-based psychological therapies de Richard Layard. Quanto às leituras noturnas, já estão todas destinadas. “Pelas 10 e tal da noite terei muitas historias infantis para ler”. O fã de literatura infantil não é Óscar Gaspar, mas sim os seus filhos pequenos.

João Semedo, coordenador do Bloco de Esquerda

Se fosse hoje de férias, o deputado bloquista levaria para ler A sentinela, do escritor luso-americano Richard Zimler, e mais dois livros de escritores portugueses: A terceira miséria, de Hélia Correia, e Dentro do segredo, cujas páginas escritas por José Luís Peixoto relatam o interior da Coreia do Norte (ou o que as autoridades deixaram ver).

José Lello, deputado do PS

As preferências do deputado do PS e apoiante de António Costa José Lello vão para História, diplomacia, ficção e emoção. “É uma boa receita de férias. Tudo menos mercearia interna! As minhas férias apenas serão mitigadas por dois acontecimentos muito relevantes para
mim: as primárias e o meu consabido e empenhado apoio ao António Costa e o acompanhamento dos resultados do Boavista neste seu regresso à Primeira Liga”, explica ao Observador.
A lista de livros do deputado passa por Nome de Código Leoparda, de Ken Follett, No Higher Honor, de Condoleezza Rice, A Rapariga Inglesa, de Daniel Silva, Napoleão Uma Vida Política, de Steven Englund, Uma Verdade Incómoda, de Jonh Le Carré. A lista de leitura termina com vitórias: O Triunfo de César, de Steve Saylor.

Hugo Soares, líder da JSD

Dois dos livros que o líder da JSD e deputado do PSD vai ler nas férias são escritos ou por socialistas ou sobre socialistas. É o caso do livro Jorge Coelho: o todo-poderoso, sobre a vida deste ex-ministro do governo de Guterres e A dívida pública portuguesa, de João Cravinho. Vai ainda terminar o Porque Falham as Nações, que o Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional Castro Almeida também está a ler. Hugo Soares explica as escolhas: “O primeiro porque acho piada para perceber as dinâmicas no PS. O segundo pela importância do tema, embora esteja nos antípodas da posição. O terceiro porque demonstra bem a importância do sistemas democráticos e da participação cidadã”.

Eurico Brilhante Dias, secretário nacional do PS

“Vou de férias a 10 de agosto e até lá muita água correrá”, contou o apoiante de António José Seguro. “Mas quando olho para a mesa de cabeceira ainda lá está por acabar O Preço da Desigualdade, de Joseph E. Stiglitz e irei seguramente regressar ao D. Quixote, de Cervantes em espanhol”.

Rui Tavares, fundador do partido Livre

“As minhas leituras nos últimos tempos têm sido principalmente de história do séc. XIX e princípios do XX, alguma coisa de direito, economia e ensaios de política e filosofia”, afirma o fundador do Livre e ex-eurodeputado. O também escritor vai ler bastante, começando por The transformation of the world: a global history of the nineteenth century, de Jürgen Osterhammel. “É uma obra transversal sobre o séc. XIX em vários continentes e vários temas, da ciência à demografia, da cultura à política”, explica. Na lista, está ainda July 1914, de Sean McMeekin, “uma obra que segue dia-a-dia apenas um mês, julho de 1914, o mês que levou à Primeira Guerra Mundial”, The bully pulpit, de Doris Kearns Goodwin, sobre a idade de ouro do jornalismo social e do progressismo nos EUA, Popular Sovereignty and the Crisis of German Constitutional Law, de Peter C. Caldweel, sobre a história do sistema político alemão e States of credit, de David Stasavage, sobre as raízes do crédito na Europa. Rui Tavares gosta de ler poesia no verão e vai levar provavelmente uma antologia de Giacomo Leopardi. “Na ficção, estou a ponderar se começo a ler os livros de Karl Ove Knausgaard ou se me lanço na empreitada do Ulisses de Joyce, que comecei a ler há uns tempos”, diz.

Os autores portugueses estão entre as preferências dos políticos portugueses: Miguel Esteves Cardoso, Lídia Jorge, José Luís Peixoto, Orlando Costa, Gabriela Ruivo Trindade e Raul Brandão são alguns dos escolhidos.

Carlos Pimenta, presidente da Plataforma para o Crescimento Sustentável

O ex-secretário de Estado do Ambiente no governo de Cavaco Silva já escolheu o que tenciona ler no verão. O primeiro livro é The second machine age, onde Andrew McAfee e Erik Brynjolfsson dissertam sobre o avanço (e os perigos) do desenvolvimento tecnológico para os trabalhadores,  e de como os humanos têm de se adaptar à nova realidade se querem fazer parte da sociedade do futuro. A segunda leitura estival de Carlos Pimenta é A Rainha Ginga, mais recente livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa.

Pedro Delgado Alves, deputado do PS

O deputado do PS escolhe três livros muito diferentes. Um, de Raul Brandão, é sobre as ilhas dos Açores, As ilhas desconhecidas, numa nova edição da Quetzal. “Falaram-me deste livro quando estive no Corvo”. Outro é Génio, de Harold Bloom, “pequenas notas biográficas dos 100 autores mais criativos da história da literatura”. O terceiro é do português José Luís Peixoto, O cemitério de pianos. “Já tinha lido o Dentro do Segredo sobre a Coreia do Norte (que João Semedo vai ler agora), mas ainda nunca li nenhum romance dele”.

Filipe Anacoreta Correia, conselheiro nacional do CDS

É o rosto mais conhecido do movimento “Alternativa e Responsabilidade”, que surgiu há cinco anos no CDS como oposição mais conservadora à liderança de Paulo Portas. Partindo destes dados, torna-se ainda mais interessante olhar para as escolhas literárias de Filipe Anacoreta Correia. “Acabei de ler a biografia de Francisco Sá Carneiro, Solidão e poder”, escrito por Maria João Avillez. Mais: “tenho programado acabar o livro Conservadorismo, do João Pereira Coutinho”. E porque em 2014 se celebram 100 anos desde o início da Primeira Guerra Mundial, o Conselheiro ainda prevê começar a ler The Sleepwalkers, de Christopher Clark, que recorda como é que a Europa entrou em guerra e que defende que as culpas não podem todas recair no desejo do imperialismo alemão.

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