A imprensa internacional não se esqueceu de que foi no sábado, 17 de maio, que a troika se foi definitivamente embora de Portugal. De Espanha aos Estados Unidos, os principais jornais mundiais assinalaram a data referindo o que o país já alcançou, mas avisando que as dificuldades não vão desaparecer para já.

“Em Portugal não há euroceticismo, mas sim um eurofatalismo”, diz Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, ao francês Le Monde, que refere que o país “tem tendência para se culpar a si próprio pelos erros passados”.

O jornal refere que apenas 27% dos portugueses tem uma visão positiva da Europa e recorda que, nos 28 anos que já leva na União Europeia, o país “nunca respeitou a regra de ter um défice abaixo dos 3%”.

“Há um discurso dominante de culpa. Mas o povo não cometeu nenhum erro. O seu erro foi acreditar nos nossos políticos”, remata Rui Moreira.

Já o El Mundo refere-se à saída do programa de ajustamento português como um momento “com algumas luzes e bastantes sombras” e destaca as duas faces da situação em Portugal: “a par de cortes draconianos que parecem não ter fim, a constatação de uma certa melhoria financeira”.

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Ouvido pela agência Efe e citado pelo jornal espanhol, Jacob Kirkegaard, investigador do Peterson Institute, coloca Portugal “num lugar intermédio entre Dublin e Atenas, mas mais próximo da Irlanda do que da Grécia, já que apesar de Portugal partilhar muitos dos problemas económicos estruturais com a Grécia, levou a cabo uma boa implementação do programa como a Irlanda.”

Essas deficiências estruturais estão, aliás, em destaque em todos os artigos internacionais sobre o fim do resgate a Portugal. O Wall Street Journal, por exemplo, num texto publicado a 15 de maio, foca-se no Relatório de Estabilidade Financeira divulgado pelo Banco de Portugal no mesmo dia, no qual a instituição afirma que “os progressos registados na economia portuguesa são ainda insuficientes”, apesar de ter havido desenvolvimentos “importantes em alguns domínios.”

A saída da troika do país ocorre na mesma semana em que novos dados apontam para a queda da economia nacional em 0,7% no primeiro trimestre do ano face aos três meses anteriores. O Guardian dá destaque a esse facto, referindo-se aos “riscos inerentes a um plano de recuperação económica que, ao focar-se no crescimento das exportações pelo corte dos custos de trabalho, ficou dependente da volátil procura estrangeira.”

“É um trabalho que está a meio”, diz Nicholas Spiro, um analista ouvido pelo jornal britânico. “O perigo é o de que as reformas abrandem e parem. Existe um risco elevado de isto acontecer”, afirma.

O El País, num artigo de opinião publicado já este domingo, põe em causa o facto de a saída da troika ser apresentada como um sucesso, lembrando que as medidas de austeridade “diminuíram de forma significativa o bem-estar da população, ainda que não tenham tido êxito em baixar a dívida pública, acima dos 130% do PIB”. Num outro artigo do mesmo jornal, refere-se que a saída da troika não será permanente, uma vez que os técnicos continuarão a deslocar-se a Portugal para reuniões consultivas, e destaca-se o risco que foi não optar por um programa cautelar.