Os partidos eurocéticos não existem só fora de Portugal. Por cá, são várias as candidaturas entre as 16 concorrentes às europeias que defendem não só um referendo à permanência do país no euro, como a saída imediata da moeda única e até mesmo a saída de Portugal da União Europeia. O Observador foi conhecer as propostas de quem defende um caminho diferente para o país dentro e fora do projeto europeu.

Os partidos eurocéticos não só existem em Portugal, como o debate que se gerou à volta da saída do euro no seio da sociedade civil, especialmente durante o último ano, veio dar destaque às ideias que muitos deles têm vindo a defender. No entanto, é importante não esquecer que nas alternativas à integração europeia nem tudo é branco o preto. Há uma vasta gama de cinzentos entre os que querem menos ou nenhuma Europa.

O PCP, que integra com os Verdes a candidatura da CDU ao Parlamento Europeu, defendeu no passado um referendo à entrada no euro de Portugal e agora quer preparar o futuro do país fora da moeda única. “Somos críticos deste projecto da União Europeia”, diz a eurodeputada e número dois da lista da CDU, Inês Zuber, afirmando ser importante “preparar o país para uma eventual saída do euro”. E como se daria esta saída? Desde logo, com um Governo de esquerda “patriótica” no poder e com compensações para Portugal, que para a eurodeputada “tem vindo a perder desde que entrou no mercado único”. A comunista prefere não utilizar o termo eurocético para clarificar a posição do partido, mas aponta que o tema da saída do euro “não é nenhum tabu”.

Já o POUS (Partido Operário de Unidade Socialista), não receia qualquer conotação negativa vinda do termo eurocético, mas vai para além disso. Não é um partido eurocético, assume-se “contra as próprias instituições europeias”. Aires Rodrigues, candidato nas listas do POUS, defende que a única maneira de garantir a democracia e salvaguardar o futuro dos povos europeus “é romper com a União Europeia e romper com os seus tratados”, sendo o fim da moeda única uma decorrência natural deste processo. “A moeda única foi instituída exatamente para ser um instrumento das instituições do capital financeiro, fazendo com que as economias em situação mais frágil sejam alvo de uma maior pressão e de um maior sofrimento”, diz Aires Rodrigues.

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Mais do que pressão, o PCTP/MRPP considera que o euro é mesmo um instrumento de dominação da Alemanha sobre as economias mais frágeis e sobre as próprias instituições europeias e por isso considera que “a UE desta forma deve ser combatida”.

“Nós não nos reconhecemos nesta estrutura. Consideramos que a UE desta forma deve ser combatida e nesta fase desse combate, entendemos que este deve incidir sobre o principal instrumento de que a Alemanha se serve para dominar as instituições europeias, o euro”, assume Leopoldo Mesquita.

Com o slogan que apela ao regresso ao escudo, Leopoldo Mesquita, cabeça de lista do PCPT/MRPP não nega um período inicial de dificuldades após a saída do euro, mas na sua opinião só desta forma se pode “recuperar a soberania e colocar a economia a funcionar”.

O fim do sonho europeu trazido pela Alemanha

A influência germânica no seio das instituições é também um dos motivos que leva o MAS (Movimento de Alternativa Socialista), a opor-se ao euro. Mas com uma diferença dos restantes eurocéticos, lembra Gil Garcia, cabeça de lista do MAS: “Somos, talvez, a única força que tem a sua atividade centrada na necessidade de um referendo sobre o euro”. Uma distinção importante já que o partido, criado a partir de uma fação do Bloco de Esquerda, refere “não ter uma visão aventureira” e, por isso, a obrigatoriedade “de consultar o povo português”. “O preço a pagar para estar dentro do euro é demasiado elevado”, aponta Gil Garcia que pretende com a saída da moeda única reduzir o desemprego, “emitir moeda para pagar os salários dos trabalhadores” e a “possibilidade de fazer orçamentos sem passar por Bruxelas”.

A inevitabilidade da “desintegração” do euro devido aos desequilíbrios entre as várias economias é o argumento de Eduardo Pedro Welsh, principal candidato do Partido Nova Democracia (PND) ao Parlamento Europeu. “Não há argumentos para a manutenção do país no euro, apenas nos dizem que é impossível sair”, aponta, dizendo que até agora, as alternativas apresentadas para lidar com a crise“foram sempre de curto prazo”, fruto do problema estrutural do euro – uma moeda igual para 28 economias diferentes. Mas o PND, não é favorável a uma saída da União, reconhecendo os benefícios da génese do projeto europeu. “A comunidade europeia era um sonho e havia uma comunidade. Isto foi condicionado pelo euro e eu acho fundamental dar um passo atrás e voltar à regras da comunidade europeia”, conclui.

O PNR (Partido Nacional Renovador), por seu lado, considera que a moeda única tem “prejudicado o país e a população” e defende uma “União Europeia de nações livres, independentes e com soberania”, explicou o número 2 da lista, Carlos Teles, citado pela Lusa.