Os socialistas reúnem-se no sábado em Comissão Nacional e esta promete ser uma longa semana para António José Seguro. Os históricos estão insatisfeitos com o resultado da eleições europeias e já assumem divergências. Primeiro foi António Costa logo no rescaldo da noite eleitoral. Hoje, foi Carlos César, ex-presidente do Governo Regional dos Açores. E Ferro Rodrigues, ex-líder do partido. Nenhum deles, porém, pôs em causa o secretário-geral.

A vitória por pouco mais de três pontos para a coligação “soube a pouco” junto dos socialistas. Carlos César diz que sim, que esta foi uma derrota para a direita, mas que o PS tem ainda muito para fazer. Diz o ex-presidente do Governo Regional dos Açores que os portugueses

“escolhem, maioritariamente, o que resta de viável como alternativa – o PS – para lutar na frente europeia e liderar a mudança interna necessária. Mas têm dúvidas muito significativas sobre se lhe devem confiar para o futuro o exclusivo de execução desse novo rumo”.

Numa nota publicada no Facebook, Carlos César diz que “é verdade que a maior é a derrota do PSD, mas não é politicamente negligenciável a vitória do PS”. Na cabeça do socialista, crítico da liderança de Seguro, está a necessidade de eleições antecipadas: “Isso é importante essencialmente porque o Governo, face a esta prova eleitoral, debilitar-se-á progressivamente, perderá capacidade de discernimento, e o país, igualmente, perderá tempo que lhe é precioso”. Mas para estar preparado para essa prova, o PS precisa de “melhorar, para ser capaz de interpretar mais intensamente a esperança que falta a tantos portugueses. Estou convencido que assim será”.

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As movimentações de pressão a António José Seguro acordaram com a madrugada. Entre os críticos com quem o Observador falou, alguns afinam estratégia para pressionarem o máximo o líder na reunião de sábado. Mas depois da disputa falhada pela liderança há um ano, todos parecem ter traumas por sarar. Quem apoiou António Costa para a liderança do partido – o que acabou por não acontecer, depois de Costa ter entrado em acordo com Seguro – diz agora não estar disponível para dar a cara, sem que haja uma posição clara do presidente da Câmara de Lisboa. Costa e César estão em contacto, mas é de todo incerto que destas conversas saia algum tipo de decisão.

Mas a verdade é que os telefonemas não páram no PS. Muitos deles foram para os Açores – e vários a criticar César pelas suas palavras de manhã cedo. Depois delas, César voltou a escrever no Facebook para dizer que não ficou “eufórico” com a vitória do PS porque esta foi “modesta”. E se o PS de Seguro não melhorar “comprometerá o seu sucesso nas legislativas”.

Ferro Rodrigues também falou sobre os resultados, esta manhã, na TSF. Para dizer que a vitória do PS “soube a pouco” e confessar que os números finais não chegam para forçar o Presidente da República a convocar eleições antecipadas (um discurso que contraria o de Seguro, que esta manhã voltou a acentuar essa pressão sobre Cavaco Silva).

A este coro junta-se ainda João Galamba. O deputado do PS escreveu um artigo de opinião no Expresso onde diz que o PS está “longe de ter tido uma vitória histórica” e que, se é “evidente que existe um largo consenso na sociedade portuguesa de que o país precisa de uma mudança”, também é verdade que “o PS ainda não está em posição liderar essa grande maioria”.

Já durante a tarde foi a vez de Vítor Ramalho, histórico dirigente socialista próximo de Mário Soares, lançar mais pressão sobre António José Seguro. Numa entrevista na TVI24, Vítor Ramalho disse não estar “confortável” com o resultado da noite eleitoral e questionado sobre a direção de António José Seguro respondeu: “Evidentemente que não estou confortável coma posição da direção e os socialistas em geral não estão. E isso deve ser dito.” Vítor Ramalho faz parte do núcleo duro do ex-Presidente que, recorde-se, não participou na campanha socialista para estas eleições europeias. Mário Soares recusou o convite que a direção de Seguro lhe enviou já durante a última semana para o tradicional almoço no Chiado, durante essa seta-feira à tarde, teve no entanto um encontro com o ex-líder do PS, José Sócrates.

Deslealdades

A direção do PS, para já, deixa um aviso no ar. Ao Observador, Álvaro Beleza, membro da direção socialista, diz não acreditar que perante uma vitória haja um ataque à liderança:

“O PS não tem problema nenhum, porque ganhou. Se houver [um ataque à liderança], é pouco leal”, acrescenta.

O dirigente defende que esta foi uma vitória de todos: “Temos diferenças de opinião, mas não estou a ver que haja a tentação de pôr em causa uma vitória. O partido esteve unido”, lembra Beleza, referindo-se à inclusão na lista de candidatos de todas as alas, mesmo a de Sócrates.

Para Beleza, o problema destas eleições foi sobretudo um problema de regime. E por isso defende uma alteração da lei eleitoral para a Assembleia da República. “O PS tem de liderar esse processo”.