Se está em Londres nesta quarta-feira, talvez seja melhor não tentar andar de táxi. Aliás, o alerta vale para Londres, como vale para Paris, Bruxelas, Madrid, Milão. Enfim, para várias capitais europeias. Só em Londres é esperada uma paralisação de mais de 10 mil táxis em protesto contra uma empresa norte-americana de transporte privado, a Uber, que lançou uma aplicação para smartphone que está a revolucionar o ato de ‘chamar um táxi’.

Taxistas e sindicatos europeus protestam contra a concorrência, alegando que a atividade é ilegal uma vez que os motoristas privados não têm a mesma licença – paga – do que os taxistas, não pagam os mesmos impostos, não são submetidos aos mesmos testes de segurança, como a verificação de cadastro. Além de que os carros particulares não têm autorização para ter taxímetros – então com que base calculam o custo da viagem? Ou seja, mais do que tudo, representam uma concorrência vista como desleal.

Segundo a agência Reuters, as ruas à volta da Trafalgar Square, em Londres, deverão ficar bloqueadas por uma enchente de táxis pretos. “Haverá fortes perturbações na tarde de quarta-feira”, garante Mick Cash, secretário-geral do sindicato de transportes britânico RMT. “Mas nada comparado com a perturbação e os perigos de deixarmos as nossas ruas serem conduzidas por uma combinação de ganância e ignorância”, atirou, acrescentando que o protesto também se dirige ao presidente da câmara Boris Johnson que, diz, está a ajudar “empresas internacionais milionárias a maximizarem os lucros”.

Em Paris também se prevê um caos nas estradas, sobretudo porque esta greve acumula com a dos transportes ferroviários. Os alertas estão espalhados pelos jornais online esta manhã, falando já de 300 quilómetros de estradas. Em Barcelona, o protesto convocado por um grupo independente de taxistas já resultou em confrontos e veículos vandalizados.

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o que faz, afinal, a app?

Sediada em São Francisco, nos EUA, mas com presença já em 30 países, e 100 cidades, a Uber é uma start-up que pretende agilizar o transporte nos centros urbanos e reduzir os níveis de poluição, impulsionando a partilha de carros entre desconhecidos. Financiada por gigantes como a Goldman Sachs e a Google, funciona através de geo-localização para perceber que carros estão mais perto da pessoa que os chamou.

Através de uma aplicação gratuita para smarthphone (disponível para iOS e Android), a Uber permite ao condutor calcular o preço da viagem – que depois é pago à própria empresa e não ao motorista – e, no final da viagem, é pedido ao utilizador que avalie a prestação do taxista.

Um processo ágil e simples que está a pôr em alvoroço os emblemáticos taxistas europeus, em especial os londrinos, que alegam que o modo de calcular o custo da viagem nos veículos privados da Uber – equivalente a um taxímetro – não se rege pelas mesmas tarifas dos táxis tradicionais e por isso viola os regulamentos do setor. A Transporte de Londres, entidade que regula o sistema de transporte da cidade, já encaminhou a questão para a via legal, estando agora a aguardar por uma decisão do tribunal.

Ao britânico The Guardian, outro líder sindical alega que permitir a circulação de milhares de táxis privados é “um golpe de martelo para a indústria”.

“Tem de haver a obrigação de manter o negócio nos grupos que pagam para ter licenças legítimas na sua área de circulação. Temos vindo a protestar contra aqueles que circularam sem seguro e sem licença durante anos e agora não podemos ignorar o facto de muitos cidadãos, ao usarem esta plataforma, estarem a circular nas estradas através da internet”, afirma Steve Garelick, da GMB – Motoristas Profissionais.

Para a entidade reguladora dos transportes, a paralisação não é solução para o problema, que atinge esta quarta-feira o seu pico de contestação. “Os taxistas vão causar perturbações inúteis em Londres por causa de uma questão que já está à espera de decisão judicial”, disse o chefe de operações da Transporte de Londres Garret Emmercon, acrescentado que aconselha os londrinos a utilizar o metro ou a andar a pé ao longo desta tarde.

teste à legalidade na Europa

O serviço de partilha de táxis da Uber foi um sucesso nos EUA desde o seu lançamento em 2009 e já está presente em mais de 30 países de todo o mundo – dos EUA à Europa, passando pela América do Sul, África e Médio Oridente. Mas fora do continente norte-americano, e principalmente nas capitais europeias, o serviço enfrenta vários obstáculos, ampliando os desafios legais que a empresa tem de enfrentar. Além de Londres, que espera decisão do tribunal sobre a legalidade do serviço, cidades como Barcelona, Berlim, Bruxelas, Paris ou Estocolmo também já estão a tomar medidas para regular os táxis da Uber:

  • Barcelona – Pagar por boleia sem licença é ilegal em Espanha e o Ministério do Desenvolvimento já afirmou que parte dos serviços prestados pela Uber não são legais;
  • Berlim – Em abril, uma obrigação imposta pelo tribunal proibiu o serviço na cidade, mas a Uber continua a operar à espera de notificação judicial;
  • Bruxelas – Tribunal de Bruxelas proibiu a Uber de operar na cidade dando razão às queixas dos taxistas. A multa para os motoristas que não respeitem a proibição pode ir até 10 mil euros;
  • Paris – François Hollande tentou impor um atraso de 15 minutos na recolha de passageiros por parte dos serviços particulares, mas a proposta foi chumbada pelo Constitucional no início do ano. Em retaliação, os taxistas parisienses bloquearam o trânsito nos aeroportos em fevereiro. O protesto é principalmente porque os taxistas têm de adquirir uma licença no valor aproximado de 200 euros, enquanto os ‘taxistas’ da Uber não;
  • Dublin – O serviço é legalmente permitido mas os motoristas da Uber não estão autorizados a circular pela faixa prioritária (faixa BUS) como os táxis tradicionais;
  • Estocolmo – Os motoristas da Uber precisam que a autoridade reguladora dos táxis os isente da regulamentação sobre taxímetros.

Em abril, a Uber anunciou que estava a recrutar um diretor-geral em Lisboa para estender o serviço à capital portuguesa, não se sabendo para já qual a data prevista para isto acontecer.