Fundador do Partido Socialista, antigo chefe da Casa Civil do Presidente da República nos mandatos de Mário Soares, Alfredo Barroso exige explicações a António Costa. O que quer saber, escreve na sua página no Facebook, é “em que condições estará o PS disposto a negociar, com os partidos à sua esquerda, uma plataforma mínima de entendimento – que não passa necessariamente por uma coligação de governo – e que deve ter em vista, fundamentalmente, a viabilização e sustentabilidade de um futuro governo do PS ancorado à esquerda”.

É uma exigência que surge depois de uma irritação. O socialista que ainda há poucos dias foi um dos subscritores de um manifesto de apoio à candidatura de António Costa, assinado por um conjunto de fundadores do PS, não gostou de ouvir o presidente da câmara de Lisboa falar da “teoria do pisca-pisca” ao referir-se ao debate sobre a política de alianças do PS. Trata-se, escreveu Barroso, de “uma deselegância em relação àqueles que, como eu, acham que esse é um debate incontornável, face ao estado a que o partido chegou”.

Numa nota escrita em tom algo violento – Barroso chama a essa declaração de Costa uma “fanfarronice” “que mais parece um ‘sound bite’ no pior estilo de Paulo Portas –, o socialista defende que a declaração do candidato às primárias do PS “não augura nada de bom”:

“É mesmo caso para perguntar que novas ‘teorias’ António Costa irá inventar, para se furtar ao debate da questão do Tratado Orçamental, da questão da renegociação e/ou reestruturação da dívida, da questão das privatizações e da questão da promiscuidade entre o PS e os negócios? Será a ‘teoria do gato asseado’, que tapa com areia as suas necessidades? Ou a ‘teoria da vassoura’, que empurra para baixo do tapete tudo o que é desagradável?”, interroga-se Alfredo Barroso.

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É neste quadro que o fundador do PS que nas últimas eleições europeias apareceu a apoiar a lista do Bloco de Esquerda anuncia que se vai afastar, “em bicos de pés para não perturbar o sono das hostes”.

Já depois da publicação desta nota no Facebook Alfredo Barroso falou à TSF para defender que deve ficar claro no debate para as primárias que, mesmo que o PS não venha a obter maioria absoluta, nunca se deverá considerar um cenário de aliança com os partidos da direita para poder formar governo.

Ascenso Simões, apoiante de António Costa, reagiu à tomada de posição de Barroso no Facebook. “Sobre as palavras do sobrinho e primo: sempre achei má ideia a recolha de apoios entre fundadores. Há uma espécie de aura cardinalícia pelo facto de alguns deles terem apanhado boleia no dia certo. E há pelo menos um que, de tantas palermices que tem dito e tantas diatribes se tem recheado, deveria ter sido bem lembrado antes de pôr o dedo, com impressão digital, em qualquer papel”.