Em 35 anos, nascerão quase dois milhões de bebés só em África, o que fará com que a população duplique neste espaço de tempo, refere o relatório da UNICEF Geração 2030/Relatório sobre África, apresentado esta terça-feira em Joanesburgo, África do Sul. Em 2050, 40% de todas as crianças do mundo terão nascido em África, serão mil milhões de crianças. Em 1950, apenas 10% das crianças do mundo viviam no continente africano, 100 anos depois serão 40%, refere o comunicado de imprensa.

Se o passado da humanidade se centrou em África, o futuro também se centrará. Atualmente, 16 em cada 100 pessoas no mundo são africanas. Em 2050, 25% da população mundial será africana – 2,4 mil milhões de pessoas – e, no final do século, serão 39% – 4,2 mil milhões de pessoas, tantas quantas existiam no mundo em 1977. A Nigéria, onde se verifica o maior número de nascimentos do continente, vai reclamar para si 10% dos nascimentos mundiais em 2050.

O aumento da população, sobretudo da população jovem, contrariando o que acontece nos países desenvolvidos, deverá ser aproveitado e potenciado – em 15 países de África mais de metade da população são crianças com menos de 18 anos. “Este relatório deve servir como catalisador para um debate internacional, regional e nacional sobre as crianças africanas,” afirmou Leila Gharagozloo-Pakkala, directora regional da UNICEF para a África Oriental e Austral. “Investindo nas crianças de hoje – na sua saúde, educação e protecção –, a África poderia tirar partido das vantagens económicas como as que ocorreram noutras regiões e países que passaram por alterações demográficas semelhantes.”

Por isso a aposta em programas baseados na igualdade tem de ser uma prioridade, conforme defende Manuel Fontaine, director regional da UNICEF para a África Ocidental e Central. “Se o investimento nas crianças africanas não for considerado prioritário, o continente não conseguirá aproveitar plenamente esta transição demográfica nas próximas décadas. Sem políticas equitativas e que favoreçam a integração, o ritmo de crescimento pode anular as tentativas para erradicar a pobreza e até aumentar as disparidades.”

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Niger,

A educação das crianças, em especial das meninas, é um dos pontos referidos – Harandane Dicko/UNICEF

Com a maior taxa de natalidade do mundo, o continente africano encara também uma elevada taxa de mortalidade infantil. É em África que morre metade das crianças do mundo, mas daqui a 35 anos poderá ser 70%. Uma em cada onze crianças morre antes do seu quinto aniversário, uma taxa 14 vezes superior à média dos países de rendimento elevado, refere o relatório. Também a esperança média de vida é muito inferior à dos países desenvolvidos -58 anos em África, menos 12 anos do que a média global.

Um terço das mortes de crianças com menos de cinco anos ocorre nos países africanos com conflitos armados. Dos 34 países apontados, em 2014, pelo Banco Mundial como vivendo em contextos de fragilidade e conflito, 20 estão em África. Um quarto da população africana vive nestes 20 países, assim como três em cada dez crianças com menos de dez anos.

“As alterações demográficas profundas, pelas quais a população de crianças africanas vai passar, estão entre os problemas mais importantes que o continente enfrenta, e são, sem dúvida, um assunto crucial para o mundo,” sublinha o relatório, que diz que a aposta deverá estar na expansão do acesso a serviços de saúde reprodutiva e em medidas para reforçar a autonomia das raparigas e para as manter na escola.