Fundada há 15 anos com o objetivo de realizar transações financeiras para a família Espírito Santo e as companhias do Grupo, a Eurofin está no coração dos negócios destas entidades e é tida como uma chave essencial para compreender o colapso do GES e do Banco Espírito Santo (BES), de acordo com o Wall Street Journal (WSJ). O jornal, que afirma ter tido acesso a mensagens de correio eletrónico, registos de transações e outros documentos, além dos testemunhos de quadros e de outras pessoas conhecedoras das relações entre aquela empresa e o Grupo Espírito Santo (GES), escreve que a Eurofin movimentou dinheiro entre diversas unidades do Grupo, de formas que se tornaram difíceis de detetar por terceiros.
Muitas daquelas transações, adianta o WSJ, decorreram no auge da crise financeira, quando os bancos dos países periféricos da zona euro enfrentavam dificuldades para terem acesso a liquidez. Um veículo criado pela Eurofin chegou a ser o único subscritor de algumas emissões de obrigações do BES e a empresa ajudou a criar pacotes de instrumentos de dívida destinados a financiar empresas do GES que foram, depois, colocados junto dos clientes de retalho do banco intervencionado no início de agosto.
A Eurofin está sediada em Lausanne, na Suíça, e foi criada em 1999 por Alexandre Cadosch, alto quadro do GES que foi vice-presidente da Gestar entre 1990 e aquele ano. Uma empresa do Grupo, a Espírito Santo Resources, chegou a ter uma posição de 23% no respectivo capital social e, embora a empresa de serviços financeiros tivesse tomado iniciativas para diversificar atividades, o GES manteve-se como o principal cliente, segundo os documentos a que o WSJ teve acesso. Em 2008, uma apresentação criada pelos executivos da Eurofin sugeriu que a Eurofin passasse a adotar uma marca que a associasse ao Grupo e propôs o desenvolvimento de produtos financeiros para os clientes do BES.
A empresa, prossegue o WSJ, foi gestora de diversos fundos que eram comercializados pelo braço de banca privada do GES na Suíça, o Banque Privée Espírito Santo, e um fundo de ações administrado pela Eurofin teve posições no capital do BES e da Espírito Santo Financial Group, participações que chegaram a ser os dois maiores investimentos em carteira, num total de 1,6 mil milhões de dólares [1.2 mil milhões de euros] aplicados em ativos do GES, segundo os registos de 2010.
O WSJ conta, também, que em 2009 o BES criou uma corretora designada Tulipa, cuja principal missão era a de vender aos seus clientes dívida emitida por diferentes empresas do GES. Além desta unidade, a Eurofin também ajudou a gerir dois fundos localizados nas Ilhas Virgens Britânicas, chamados EG Premium e Zycran, que serviram de veículos para financiar unidades do Grupo.
Uma emissão de obrigações de cupão zero lançada pelo BES no Verão de 2010 foi inteiramente subscrita pelo Zycran, que aplicou 1,8 mil milhões de euros no banco. Documentos citados pelo jornal indicam que o objetivo do fundo era o de realizar ganhos com a alienação destes títulos a clientes do BES. Mais tarde, em janeiro de 2011, o Zycran comprou 174 milhões de euros de obrigações de longo prazo da instituição financeira, num exemplo de operações de financiamento que o jornal norte-americano garante ter movimentado “dezenas de milhões de dólares” durante o período de auge da crise financeira internacional.
Muitas destas transações terão sido intermediadas através de sucursais caribenhas da Société Générale que, em 2012, quis saber mais sobre estes movimentos. A falta de esclarecimentos levou o banco francês a cessar relações de negócio com as entidades ligadas ao GES, revela o WSJ.