O cessar-fogo acordado entre a Rússia e a Ucrânia há dois está por um fio. A União Europeia prometeu novas e pesadas sanções contra a Rússia se o acordo não for cumprido, mas esta segunda-feira o Kremlin fez subir o tom e ameaçou bloquear o espaço aéreo russo às companhias ocidentais caso a Europa avance com as sanções agravadas. A paz que se vive é, na verdade, uma paz podre, com os confrontos entre as tropas separatistas pró-Rússia e as milícias ucranianas a continuarem no domingo junto à disputada cidade portuária de Mariupol e ao bastião rebelde de Donetsk.

 

De acordo com a BBC, a União Europeia deverá decidir esta segunda-feira se as novas sanções vão entrar em vigor já, ou se ficam em espera perante os avisos da Rússia. Tudo depende, diz a UE, dos desenvolvimentos da situação no terreno. É que as forças separatistas têm feito importantes avanços em território do leste ucraniano, faltando conquistar a cidade estratégica de Mariupol, onde têm persistido os conflitos.

No domingo, pelo menos uma mulher foi morta durante a noite na sequência de bombardeamentos a um checkpoint das tropas leais ao Governo em Mariupol, e foram ouvidas trocas de tiros perto da auto-proclamada República Popular de Donetsk. Pelo menos duas casas foram destruídas na cidade rural de Spartak, a norte de Donetsk, junto ao aeroporto.

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Segundo o correspondente da Al-Jazeera em Donetsk, Paul Brennan, a população está visivelmente desiludida com o suposto acordo de cessar-fogo, que pensavam poder trazer alguma acalmia à região. “É um cessar-fogo só no papel“, diz.

O acordo, assinado na sexta-feira por representantes da Ucrânia, Rússia e dos separatistas, ainda foi respeitado durante quase todo o dia de sábado, mas ao final da noite os bombardeamentos recomeçaram – não se sabe bem de que lado terá sido o primeiro passo. Trata-se de um plano de 12 pontos que prevê a retirada de toda a artilharia pesada, a libertação de todos os prisioneiros de guerra e a entrada de ajuda humanitária nas cidades destruídas do leste ucraniano. Assim como prevê que Kiev conceda mais poderes e mais autonomia às regiões de Donetsk e Lugansk e a convocação de eleições locais nestas áreas.

Entretanto, o presidente ucraniano Petro Poroshenko chegou a Mariupol, onde deixou claro que a cidade é ucraniana e que “não irá ser cedida a ninguém”. Falando à margem de uma visita àquela cidade estratégica para marcar posição, Poroshenko avançou ainda que os rebeldes pró-russos libertaram 1200 prisioneiros, como parte de uma das diretivas do acordo de tréguas traçado na sexta-feira.

Sanções contra gigantes petrolíferas

As novas sanções da UE contra a Rússia foram decididas na sexta-feira, e devem ser aprovadas formalmente esta segunda, ou mais tardar terça-feira. Segundo a AFP, incidem sobre grandes empresas petrolíferas russas como a Rosneft, Transneft e a Gazprom, que são propriedade do Estado russo. Restringir o acesso destas empresas aos mercados permitirá dificultar o seu autofinanciamento, obrigando assim o Estado a intervir diretamente.

Entretanto, o número de vítimas mortais confirmadas já ultrapassa as 3 mil (incluindo as vítimas do voo MH17), disse esta segunda-feira um oficial dos direitos humanos das Nações Unidas. De acordo com Ivan Simonovic, o número de pessoas mortas no conflito ucraniano desde abril já ascende às 2.729 mas sobe para 3 mil se forem considerados os 298 passageiros que morreram na sequência do abate do voo da Malaysia Airlines.

“O número inclui as mortes registadas com base nos recursos que temos disponíveis, porque o número na verdade pode ser significativamente mais elevado”, disse, num encontro extraordinário da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.