O dengue é um vírus transmitido por um mosquito que foi agora manipulado em laboratório para perder essa capacidade. Chama-se Aedes aegypti e, ao contrário da maioria dos outros mosquitos, não transporta no seu interior uma bactéria chamada Wolbachia, que impede de forma natural a transmissão do vírus. A solução encontrada foi colocar a bactéria no interior dos mosquitos e espalhá-los na natureza. O objetivo é reduzir, por competição, a quantidade de mosquitos “normais” capazes de transmitir o vírus dengue.
As fêmeas, preparadas em laboratório, foram infetadas com a bactéria Wolbachia, presente em 60% dos mosquitos exceto, precisamente, na espécie que transmite o vírus do dengue. Elas passam a bactéria para a descendência e desta forma competem em número com as fêmeas não infetadas com a Wolbachia. Por outro lado, os novos mosquitos machos infetados, ao se cruzarem com fêmeas “normais” não geram descendência. Esta manipulação laboratorial tira proveito da reprodução natural dos mosquitos, não elimina a espécie, esta apenas deixa de ser um vetor do dengue.
No norte da cidade do Rio de Janeiro, a Fiocruz vai libertar dez mil destes mosquitos, uma vez por semana durante os próximos três ou quatro meses. Nesse período, os cientistas envolvidos no programa “Eliminar a Dengue: o Nosso Desafio” vão monitorizar a quantidade de larvas para calcular a percentagem que se encontra infetada com a bactéria. Este projeto começou na Austrália (foi depois testado na Indonésia e Vietname) e teve excelentes resultados: os investigadores afirmam que em 15 dias, a quantidade de mosquitos vetores da doença foi reduzida em 80%.
Contudo, as autoridades brasileiras reforçam que continua a ser importante que a população tenha o cuidado de eliminar todas as fontes de água parada, o local onde as larvas se desenvolvem — água estagnada em vasos de plantas ou em ralos de escoamento, por exemplo. Uma forma simples de anular a capacidade de reprodução dos mosquitos é acrescentar sal às aguas paradas.
A dengue é uma doença que desde 2009 já matou 800 pessoas só no Brasil, o país do mundo onde mais pessoas são infetadas por esta doença (3.2 milhões de casos). Os delegados de saúde brasileiros esperam que no próximo surto sazonal, o número dos insetos modificados em laboratório representem já uma parte significativa da população, reduzindo a probabilidade de contágio. Se tudo correr como esperado, este programa vai ser alargado a outras zonas do Brasil.
A transformação dos mosquitos é uma estratégia que tem sido estudada para combater a transmissão de outras doenças. Cientistas conseguiram manipular geneticamente o macho do mosquito Anopheles gambiae (um vetor da malária) e obter uma população de machos que apenas são capazes de gerar outros machos (95%) — o parasita é transmitido apenas pelas fêmeas.