Pela segunda vez, os cientistas concluíram que ainda não foi possível eliminar o VIH de uma criança a quem administraram um tratamento antirretroviral logo à nascença. O primeiro relato de uma possível cura foi divulgado o ano passado, numa criança do Mississípi (EUA), mas ficou provado que a remissão foi temporária: dois anos depois de análises negativas, o vírus voltou a ser detetado. Agora, um trabalho publicado na revista Lancet veio revelar idêntico resultado numa criança italiana, num caso que ficou conhecido por “criança de Milão”.

Os clínicos italianos voltaram a detetar o vírus na menina de cinco anos, a quem foi aplicado o tratamento precoce. Até aos três anos, a criança apresentou provas serológicas (análises) negativas, o que reacendeu a esperança na capacidade do sistema imunitário, com a ajuda de fármacos, em debelar o vírus na totalidade. Contudo, tal voltou a não se confirmar.

O infecciologista Sanjaya Senanayake (da Australian National University Medical School) comentou o caso dizendo que, “apesar do avanço registado no desenvolvimento de novos medicamentos, ainda não foi encontrada uma cura.” O único caso (conhecido e documentado) de uma cura funcional da infecção pelo VIH foi descrito em 2008 e ficou conhecido pelo “paciente de Berlim” (apesar de ser norte-americano, foi tratado no Charité Hospital, na capital alemã). Na sequência de um diagnóstico de leucemia, o homem, seropositivo para o VIH, recebeu um transplante de medula de um dador que possuía uma mutação genética que o defendia naturalmente do vírus. Até hoje, mantém resultados negativos para a presença do VIH (carga viral negativa).

Sanjaya Senanayake esclareceu que a ‘menina de Milão’ “mantinha resposta imunitária contra o vírus, apesar de ele não se revelar. Mas duas semanas depois de parar o tratamento, o VIH voltou a ser detetado. Este caso demonstra [uma vez mais] que os resultados negativos para a presença do vírus não significam que o corpo esteja livre dele.” E ainda que, provavelmente, vai demorar algum tempo até que seja encontrada uma cura para o VIH.

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