Foi no dia 30 de setembro de 2013 que os representantes dos vários ramos da família Espírito Santo souberam do buraco de 1,3 mil milhões nas contas da holding Espírito Santo Internacional (ESI). Foi no início de dezembro que Ricardo Salgado discutiu o tema no Conselho Superior do Grupo Espírito Santo (GES) – e foi também só a 10 de dezembro que os dados foram oficialmente comunicados ao Banco de Portugal.

Uma troca de correspondência entre Ricardo Salgado e o vice-governador do Banco de Portugal, este sábado publicada pelo Expresso, mostra que o responsável pelo GES demorou a dar conta dos factos ao regulador bancário e mostra, também, que não cumpriu as medidas com que se comprometeu a resolver o problema. Os documentos ajudam também a demonstrar que o Banco de Portugal demorou cinco meses a revelar a real situação do banco aos mercados – o que aconteceu apenas em maio, aquando do aumento de capital que impôs ao banco para resolver o problema no rácio de capital que o buraco financeiro estava a colocar no BES, precisamente quando não era possível mais nenhuma opção do que um aumento de capital do banco.

Segundo a carta que Pedro Duarte Neves, do BdP, escreveu a Ricardo Salgado a 23 de dezembro, terá sido só a 3 e 10 de dezembro que o GES comunicou os dados ao regulador. Nessa missiva, Duarte Neves pede “explicação detalhada sobre as razões da diferença identificada nas contas da ESI”, bem como “a explicação detalhada” de ativos da ES Resorces, “designadamente Real Estate Investments (240 milhões) e Insvestment Projects (841 milhões)”. Segundo o semanário, Salgado respondeu com nova carta a 31 de dezembro: “Detetada a incorreção, o passivo foi imediatamente corrigido”. E garantiu: “Os serviços de contabilidade estão a efetuar um trabalho de análise detalhado” sobre os ativos em causa – a maior parte deles relativos a Angola.

O Banco de Portugal colocou, nessa altura, 17 perguntas a Ricardo Salgado. E avisa que determinou “várias medidas para concretizar o ring fence (vedação de proteção) para proteger o BES dos riscos ligados aos problemas no GES. Como a venda de ativos pela ESI para pagar a sua dívida, que foi vendida pelo BES junto dos seus clientes de retalho, assim como a criação de “uma linha de crédito” para esse efeito. Recomendações que não foram executadas pelo Grupo.

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Banco de Portugal identificou problemas em setembro de 2013

Recorde-se que, na comunicação ao país que fez a 3 de agosto, onde explicou a resolução aplicada ao BES, o governador do Banco de Portugal explicou que “o Banco de Portugal conseguiu identificar uma ponta do problema porque realizou uma ação de inspeção que foi para além do perímetro normal de supervisão, envolvendo uma auditoria às empresas não financeiras que constituem os principais clientes dos bancos – exercício conhecido como ETRICC2. Quando esta ponta do problema foi identificada, em Setembro de 2013, o Banco de Portugal iniciou uma política de isolamento dos riscos (“ring-fencing”) do Banco Espírito Santo relativamente às restantes empresas do Grupo. Esta política foi progressivamente reforçada ao longo do último ano e foi, no quadro de aperto do cerco que o Banco de Portugal estabeleceu, que as empresas do Grupo Espírito Santo começaram a entrar em incumprimento.”

Num trabalho publicado esta semana pelo jornal i, pode ler-se que Ricardo Salgado justificou ao Conselho Superior do GES, em dezembro, que tudo tinha acontecido por “distração e “descontrolo”.

Quando Ricardo Abecassis Espírito Santo questionou o presidente executivo do BES sobre o aumento “inexplicável” de 1300 milhões de euros na dívida da ESI, este terá terá respondido: “Como nunca tínhamos feito o tal balanço consolidado da área não financeira aquilo não era imediatamente visível. Portanto, houve uma parte da dívida que não foi registada na ESI e deveria ter sido.”