Pedro Passos Coelho já está a reunir as tropas para o combate eleitoral de 2015, seja com ou sem CDS, com ou sem eleições antecipadas. O primeiro-ministro e presidente do PSD não as quer mais cedo, mas avisa para dentro (e para fora) que quer ganhe ou perca as legislativas não vai desaparecer da cena política. Numa reunião com os dirigentes do PSD a semana passada, Pedro Passos Coelho teve uma tirada que ficou nos ouvidos de quem lá esteve. “A política não acaba, o PSD não acaba, eu também não acabo. Vou estar aqui”, disse segundo relatos feitos ao Observador.

A frase de Passos Coelho faz lembrar outra, dita há dez anos, por outro social-democrata que se despedia do palco de um congresso depois de perdidas as legislativas para José Sócrates. “Não me despeço. Não vou estar por aqui, mas vou andar por aí”, disse, na altura, Pedro Santana Lopes. Com a diferença de este ser um aviso pré-eleições, que pode ser entendido para aqueles que se posicionam para atacar o partido.

Na perceção daqueles que ouviram Passos Coelho, não está na sua intenção mostrar que está a mandar a toalha ao chão na luta pelas legislativas, assumindo que pode haver uma derrota nas eleições – pelo menos as sondagens preveem esse cenário -, antes pelo contrário. O primeiro-ministro, de acordo com relatos quer da última comissão política do partido quer de uma reunião que teve com presidentes das distritais no mesmo dia, quinta-feira, está confiante e diz-se preparado para o “combate político” que se avizinha e apenas dispara contra aqueles que não têm “orgulho” naquilo que o partido tem feito. Por outras palavras, o líder do principal partido da coligação diz que não vai “desistir” até porque, acredita, está à frente do PSD “para ganhar eleições”.

Foi neste cenário que no final da última comissão política lembrou que o futuro é incerto, que acredita que vai ganhar as eleições legislativas, mas que há muita coisa que não vai acabar depois dos votos nas urnas. Segundo relatos feitos ao Observador, falou dos problemas do país que não se esgotam no ato eleitoral, como a dívida – “a dívida também não acaba”, terá dito -, mas o que motivou mais os presentes, que são sobretudo seus apoiantes, foram as palavras de que não desapareceria: “A política não acaba, o PSD não acaba, eu também não acabo. Vou estar aqui”.

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Passos Coelho fala agora mais de eleições do que quando dizia “que se lixem as eleições, o que importa é Portugal“, tanto em reuniões no interior do partido como na rua. Aliás, o primeiro-ministro tem, ao contrário do que lhe era habitual, uma agenda mais preenchida fora das portas de São Bento e sem ser em ambientes confortáveis como reuniões de partido. Esta semana, por exemplo, esteve durante dois dias no norte do país a visitar escolas ou fábricas onde chegou mesmo a ser surpreendido por uma manifestação. E falou. Falou muito e por muito tempo sobre o assunto do momento: eleições antecipadas.

E se ao contrário de outras alturas desvalorizaria o assunto, agora, Passos com olhos no calendário, fala abertamente do assunto. Atira aos que olham “gulosamente” para eleições e manda recados a quem pode decidir sobre o futuro próximo – o Presidente da República. Diz que os prazos constitucionais estão definidos e que, para ele, não há volta a dar: as eleições serão no início de outubro de 2015.

A atenção dada às conversas que tem mantido nas últimas semanas são vistas à lupa por vários motivos: a eleição de António Costa como candidato do PS a primeiro-ministro, que significa uma reorganização da esquerda e ainda os problemas na coligação.

Coligação, mas pouco

Para fora, Passos e Portas mostram sorrisos por chegarem a consenso sobre o último Orçamento do Estado desta coligação. Por dentro, são cada vez mais os sinais de que há um crescente mal-estar entre os dois partidos que pode ameaçar uma coligação pré-eleitoral.

O ponto mais alto destas dificuldades foi mesmo a negociação da descida da sobretaxa de IRS no Orçamento do Estado. O líder do CDS acreditou até à última na existência de margem para aliviar de imediato o imposto sobre o rendimento das pessoas, mas, de acordo com o jornal Expresso terá sido surpreendido em cima da hora com uma solução que adia uma eventual devolução de parte da sobretaxa de IRS.

Essa versão irritou os centristas, que garantem que o Estado-Maior do Governo funcionou. Passos, Maria Luís Albuquerque e Portas discutiram entre eles a redução da sobretaxa antes de o assunto ter subido à mesa de reuniões em que estavam presentes todos os ministros. Portas, contudo, acreditava até ao último momento que, dadas as previsões de crescimento de receita, seria possível assumir o compromisso já de se descer a sobretaxa em 2015.

Aliás, o líder do CDS mostrou esse desagrado em público – de um modo menos evidente do que fez em anos anteriores – dizendo que a solução encontrada no Orçamento foi a menos má, apesar de preferir a redução de 3,5% para 2,5% a sobretaxa de IRS.

A decisão sobre uma coligação pré-eleitoral ficou adiada para o primeiro trimestre do próximo ano, depois dos avanços e recuos antes da discussão do Orçamento do Estado. Mas há quem lembre, pelo menos oficialmente, que o compromisso a que chegaram no Governo “é mais importante que a rutura”. Foi isso que disse Nuno Magalhães esta semana na SIC Notícias em resposta ao antigo dirigente do PS, Eurico Brilhante Dias. Disse Nuno Magalhães, falando a propósito da sobretaxa de IRS, que “não foi possível” baixá-la, mas que prefere “sempre um compromisso a uma rutura”. “Podia ser melhor para o CDS, mas não seria melhor para o país”, disse.

Mas além da discussão do Orçamento, houve outros assuntos a abalar a coligação, nomeadamente, a crise na Justiça, com o sistema informático Citius bloqueado, mas também na Educação. Nas semanas negras do Governo de setembro, chegaram a sair notícias sobre o mal-estar no seio do Governo que os atrasos com a plataforma informática criaram. O CDS acabou por desmentir o desagrado, mas também não defendeu com afinco Paula Teixeira da Cruz.

Já no que à Educação diz respeito, o equilíbrio de críticas teve de ser gerido com pinças. É que no Ministério da Educação estavam em causa dois responsáveis, um de cada lado: Nuno Crato, independente escolhido por Passos e o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova, do CDS. Terá sido por isso que os centristas jogaram com cautela nas críticas (ou na defesa) do que aconteceu na colocação de professores.

Além do caso da sobretaxa, na coligação houve ainda quezílias por causa de outras taxas, nomeadamente a taxa aeroportuária, que estava prevista no projeto da fiscalidade verde e que caiu. Uma vitória do CDS que foi lembrada pelo ministro da Economia, Pires de Lima, quando disse que tinha sido possível “em conjugação com os meus colegas do Governo, evitar mais taxas e taxinhas sobre o sector do turismo e da hotelaria”.