Nova Iorque e Nova Jérsia, nos EUA, uniram-se numa decisão: quem, a partir de sexta-feira, lá chegasse vindo dos países africanos mais atingidos pela epidemia do ébola passaria por um período de quarentena no hospital. Mesmo que não apresentasse quaisquer sintomas de estar infetado com o vírus que, contou a Organizações Mundial de Saúde, já matou mais de 4.900 em oito países. A administração de Barack Obama, entretanto, pressionou os governadores de ambos os estados para que recuassem na decisão. E Andrew Cuomo, o líder nova-iorquino, assim o fez — afinal, o período de quarentena poderá ser cumprido em casa.

Agora, ao invés de terem que permanecer, durante 21 dias, no interior de uma tenda com uma sanita portátil e sem chuveiro, as pessoas que cheguem a Nova Iorque provenientes de países da África Ocidental poderão ficar antes em casa — onde serão visitados duas vezes por dia por responsáveis da saúde, escreveu o New York Times. Isto apenas se não apresentarem sintomas de serem portadores do vírus.

Sob autorização das autoridades, as pessoas em quarentena até poderão receber visitas de familiares. “A minha preocupação número um é proteger a população de Nova Iorque”, sublinhou Andrew Cuomo, ao anunciar a decisão, no domingo. Momentos depois de o fazer, Chris Christie, governador de Nova Jérsia, seguia-lhe o exemplo e emitia um comunicado no qual autorizava também que, no seu estado, o período de quarentena (sob os mesmos parâmetros) poderá ser cumprido em casa.

A enfermeira que protestou

Desde sexta-feira que a administração liderada Obama queria que os governadores de Nova Iorque e Nova Jérsia retirem a imposição de quarentena a todas pessoas que regressem dos países atingidos com a epidemia do ébola, noticiou o New York Times. Mas, já este domingo, os governadores Andrew Cuomo, de Nova Iorque, e Chris Christie, de Nova Jérsia, disseram que iam manter a decisão, porque as medidas do governo central eram insuficientes.

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Na sexta-feira de manhã os dois estados impuseram uma quarentena de 21 dias a médicos e outras pessoas que possam ter estado em contacto com o vírus que afeta a África ocidental. Mais tarde também o estado de Illinois e da Flórida tomavam a mesma decisão. As recomendações dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças deixavam margem para os estados adotarem medidas mais exigentes.

A primeira pessoa a ser forçada à quarentena foi Kaci Hickox, uma enfermeira que regressava da Serra Leoa. Depois de passar seis horas retida no aeroporto foi internada no Hospital Universitário de Newark. Apesar de não apresentar sintomas e as análises terem dado negativas para o ébola foi colocada dentro de uma tenda médica com uma sanita portátil, mas sem chuveiro.

Agora promete que irá apresentar uma queixa contra a ordem de quarentena, noticiou o New York Times. A enfermeira critica a forma como foi tratada no aeroporto – um dos funcionários do serviço de imigração perguntou-lhe inclusivamente se ela era uma criminosa, noticiou o Independent. Conforme disse à CNN, está indignada com o governador de Nova Jérsia que a classificou de “obviamente doente”, o que a enfermeira define como um desconhecimento da doença.

Esta situação a que foi sujeita Kaci Hickox dá força ao argumento do estado central de que tudo foi feito de uma forma apressada. Um alto funcionário do governo, que não quis ser identificado, considerou a decisão dos governadores “descoordenada, muito apressada, uma reação instantânea para o caso de Nova Iorque, que não é compatível com a ciência “. O funcionário referia-se ao nova-iorquino que, depois de ter regressado de África e de ter andado a passear pela cidade, apresentou sintomas da doença. Mas os médicos relembram que enquanto não existirem sintomas, não há risco de contágio. Com esta medidas rígidas, as organizações de ajuda médica e humanitária receiam que os médicos e outros voluntários deixem de ir para África socorrer as populações.

Os governadores admitem que as novas regras ainda têm de ser trabalhadas no pormenor. É preciso definir como será praticada a quarentena, onde serão internadas as pessoas e o que fazer com as pessoas que não residem naqueles estados. As acusações de que tudo foi feito à pressa encontram fundamento nas declarações dum funcionário responsável pela resposta ao ébola em Nova Iorque: “A cidade inteira não foi informada, nem mesmo o gabinete do presidente da câmara. O presidente da câmara foi apanhado desprevenido”. O funcionário acrescentou ainda que “a decisão foi tomada sem ter em consideração um pensamento profundo sobre o que a implementação da política implicaria”.