Endémico de África, o vírus ébola tem chegado à Europa e Estados Unidos de avião. Visitantes ou médicos vindos dos países da África ocidental podem ser portadores da doença que tem um tempo de incubação de dois a 21 dias. Para tentar controlar a dispersão do vírus, os estados norte-americanos de Nova Iorque e Nova Jérsia informaram sexta-feira de manhã que pretendiam que todas as pessoas que estiveram nos países com casos de ébola registados, passassem por um período de quarentena quando regressam ao país. Mais tarde, no mesmo dia, o estado de Illinois tomava as mesmas medidas, informou o Washington Post.

Embora as instituições de caridade receiem que estas medidas possam inibir os médicos americanos de viajar para África, os governadores destes dois estados norte-americanos declararam esta sexta-feira não estar dispostos a arriscar o contágio dos cidadãos das regiões que governam. “Não estamos confortáveis com o conceito de quarentena voluntária como uma medida efetiva de segurança da saúde pública”, afirmou Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, acrescentando que os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano deixaram claro que os estados podiam adotar medidas mais exigentes.

As organizações de saúde recomendam que as pessoas que estiveram em contacto com os doentes de ébola verifiquem a temperatura do corpo duas vezes por dia e que estejam atentos a outros sintomas da doença, como fadiga, vómitos, dores musculares ou de cabeça. Só haverá contágio quando já existirem sintomas. Este autoexame permite que as pessoas infetadas como a auxiliar de enfermagem espanhola Teresa Romero detetem que estão doentes, mas só depois de já terem contactado com inúmeras pessoas. Tal como aconteceu com o médico Craig Spencer que andou nas zonas mais movimentadas de Nova Iorque antes de ser internado, noticiou o Guardian.

A organização Médicos Sem Fronteiras recomenda que os médicos fiquem quatro horas em isolamento no hospital depois do regresso, mas se não manifestarem sintomas não precisam de evitar multidões. “A família, amigos e vizinhos podem ter a certeza que o pessoal que regresse a casa sem sintomas não apresenta risco de contágio e não os coloca em risco.” Para esta organização, a quarentena de 21 dias obrigatória é uma “medida exagerada”, referiu o Guardian. É uma medida que está a ser estudada pelos CDC e pela administração central como uma possibilidade, mas, o Presidente norte-americano Barack Obama prefere não cair em alarmismos. “Temos de guiar-nos pela ciência, pelos factos, e não pelo medo”, disse no discurso semanal.

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“Queremos garantir que todas as políticas que colocamos em prática têm como prioridade principal a proteção do povo americano”, disse aos jornalistas o assessor de imprensa da Casa Branca, Josh Earnest. “Mas, ao mesmo tempo, não queremos sobrecarregar demasiado aqueles que se têm esforçado muito por servir o próximo e por parar este surto na fonte, que em última análise é no melhor interesse do povo americano.” A Casa Branca reforça assim a ideia de algumas organizações de que estas medidas podem comprometer a ajuda prestada pelos médicos nos países africanos.

Richard Wenzel, investigador na Virginia Commonwealth University e que anteriormente liderou a Sociedade Internacional das Doenças Infecciosas, disse que faz sentido implementar três semanas de quarentena voluntária para todas as pessoas que tenham estado em contacto com os doentes. Porém, Rick Sacra, um médico de Massachusetts sobrevivente da doença, considera que “uma quarentena completa de três semanas vai eliminar dois terços a três quartos dos voluntários dos Estados Unidos” que vão para a África ocidental.

As novas regras implementadas na passada sexta-feira incluem o aeroporto internacional Kennedy, em Nova Iorque, e o aeroporto de Newark, em Nova Jérsia, e ainda estão a ser trabalhadas ao pormenor, referiu o New York Times. É preciso definir como será praticada a quarentena, onde serão internadas as pessoas e o que fazer com as pessoas que não residem naqueles estados.

A primeira pessoa a ser colocada em quarentena foi uma enfermeira apanhada desprevenida esta sexta-feira quando voltava de África. Este sábado mostrava-se frustrada por ter passado seis horas no aeroporto sem que lhe explicassem o que lhe iria acontecer, noticiou o New York Times. Agora ficará em quarentena no hospital de Newark durante 21 dias.