Isabel dos Santos e a Sonae estão disponíveis para encontrar uma solução para a Portugal Telecom (PT) que “promova a defesa dos interesses nacionais”. A disponibilidade foi manifestada publicamente hoje depois de uma reunião entre os dois acionistas da ZOPT, empresa que controla o segundo maior operador de telecomunicações em Portugal, a NOS.

A proposta exclui um cenário de fusão entre a PT e a NOS, operação que teria a maior das dificuldades em passar na Autoridade da Concorrência devido a uma quota de mercado excessivamente elevada. De acordo com um comunicado emitido pelos acionistas da ZOPT, Isabel dos Santos e a Sonae estão disponíveis “para trabalhar com a regulação no sentido de garantir condições de concorrência no mercado português”.

A PT e a NOS controlam mais de 80% do mercado de televisão por cabo e banda larga e dominam quase 60% do negócio móvel, segundo dados do primeiro semestre.

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Fonte próxima da ZOPT admitiu ao Observador o envolvimento de pelo menos um terceiro operador nesta solução para o mercado de telecomunicações nacional que passaria por uma divisão de ativos que assegurasse o equilíbrio entre concorrentes. A Vodafone, terceiro maior player no setor das telecomunicações em Portugal, é um potencial candidato a entrar nesta solução, mas haverá outros.

A Altice, que através da Cabovisão e da Oni, é o quarto principal operador em Portugal, também poderia entrar nesta solução. Para já os franceses foram os únicos a apresentar uma proposta firme para comprar a PT Portugal. E qualquer solução só pode ser testada nos reguladores, Anacom e Autoridade da Concorrência, com uma operação concreta que envolva empresas e ou licenças.

Ainda que esta proposta não envolva uma fusão com a atual PT Portugal, o resultado final poderá não ser muito diferente. Isto porque a solução esboçada pelos acionistas da NOS poderá implicar uma partilha das operações da atual Portugal Telecom pelos concorrentes. Ora em caso de concentração, a empresa que resultasse da fusão entre os dois maiores operadores portugueses teria de vender partes do seu negócio para a operação receber luz verde. Simplesmente este caminho será muito mais demorado.

A disponibilidade foi manifestada publicamente pelos acionistas da NOS, sem que tenham sido realizados contactos prévios com a Portugal Telecom, e seus acionistas, ou outras empresas. Fonte próxima da ZOPT sublinha ainda que a Sonae e Isabel dos Santos estariam bem posicionadas para oferecer melhores condições financeiras, na medida em que poderiam tirar partido de sinergias das operações em Portugal.

A PT SGPS não se pronuncia. Mas fontes próximas à empresa veem na tomada de posição dos acionistas do seu maior concorrente uma espécie de prova de vida. Para que tenha consequência é preciso uma oferta.

Acionistas de controlo da Oi devem discutir venda da PT Portugal na próxima semana

A Altice fez uma proposta de 7025 milhões de euros pela PT Portugal e a Bloomberg avançou esta quarta-feira que os fundos de investimento Apex e Bain estão a preparar uma oferta alternativa. A brasileira Oi, que controla a PT Portugal, vai analisar as ofertas em conselho de administração.

Antes de decidir a quem vender, os acionistas de controlo da Oi terão de discutir o racional por trás de uma operação de alienação da PT Portugal. E nesta discussão, a PT SGPS , onde estão os acionistas portugueses, tem direito de veto. O tema só deverá ser debatido pelo conselho de alinhamento acionista da Oi na próxima semana, de acordo com informação recolhida pelo Observador. A reunião já terá sido pedida a partir de Lisboa, mas ainda não terá sido marcada.

Isabel dos Santos seduz Oi com solução para a Angola

A disponibilidade para negociar uma solução não se limita ao mercado português de telecomunicações, mas estende-se a Angola. A parceira da Sonae na NOS, Isabel dos Santos, é a maior acionista da Unitel. Os principais acionistas da operadora angolana mantêm um litígio com a Portugal Telecom que dificulta a venda da participação de 25% controlada pela empresa portuguesa.

Ainda esta terça-feira, os acionistas maioritários da Unitel reafirmaram a sua oposição à transferência da participação da Portugal Telecom na empresa angolana para a Oi, no quadro da fusão. Os acionistas da operadora angolana acusam a PT de violar o acordo parassocial e ameaçam condicionar a venda da participação que agora está na Oi. Se o direito de preferência dos investidores angolanos não for acolhido nesta venda, os acionistas maioritários da Unitel admitem exercer uma cláusula do acordo parassocial que lhes permite comprar os 25% da PT ao valor patrimonial.

No quadro de um entendimento para Portugal, os acionistas angolanos estariam abertos a viabilizar a venda da participação da PT na Unitel a um preço de mercado, o que permitiria à Oi realizar um encaixe relevante com o negócio.