A Comunidade Israelita do Porto anunciou hoje ter recebido a garantia do Ministério da Defesa de que a reintegração do capitão Barros Basto no exército, recomendada pela Assembleia da República há mais de dois anos, será feita “em breve”.

“Depois da reabilitação do meu avô pelo Parlamento e da reabilitação da comunidade judaica do Porto que ele fundou, tenho a garantia por parte do Ministério da Defesa de que, em breve, Barros Basto será reintegrado no exército com uma patente mais elevada do que capitão”, afirmou hoje à Lusa Isabel Ferreira Lopes, vice-presidente da Comunidade.

Depois de um longo processo para reabilitar o nome do capitão, alvo de segregação político-religiosa no ano de 1937, a resolução da Assembleia da República que recomendava ao governo a sua reintegração no Exército foi publicada em Diário da República em agosto de 2012, na sequência de um parecer da Comissão de Direitos Liberdades e Garantias.

Mais de dois anos depois da publicação da recomendação, o ministério da Defesa terá agora garantido à neta do fundador da comunidade que a sua reintegração irá realizar-se “em breve”. “Será o culminar do processo de reabilitação moral do meu avô, que ocorreu em 29 de fevereiro de 2012, quando a 1.ª Comissão do Parlamento reconheceu e se penitenciou pelo facto de ele ter sido vítima de um ato antissemita em 1937”, acrescentou a responsável.

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Ao mesmo tempo que o governo prepara a reintegração, Isabel Ferreira Lopes destacou que “a própria cidade do Porto irá reabilitar a figura do capitão com uma exposição de fotografias da sua autoria” a ser inaugurada no próximo dia 20 de novembro, com a organização da Câmara do Porto.

O anti-semitismo de 1937

A história remonta a 1937 quando o Conselho Superior de Disciplina do Exército decidiu pela “separação do serviço” do capitão Arthur Carlos Barros Basto por considerar que não possuía “capacidade moral para prestígio da sua função e decoro da sua farda”. Em causa estava a realização de operações de circuncisão a alunos do Instituto Teológico Israelitas do Porto, que havia fundado, e a saudação com um beijo dos mesmos alunos, à maneira dos judeus sefarditas de Marrocos.

Ao longo dos anos, Barros Basto tem sido comparado por historiadores ao general francês de origem judaica Alfred Dreyfus que em 1894 foi condenado, inocentemente, por alta traição.

Fotografado com a mulher, Lea Azancot

Fotografado com a mulher, Lea Azancot

Nascido em 1887, Barros Basto, ou Ben-Rosh, apenas se converteu ao judaísmo em 1920 por influência do avô e depois de regressar da I Guerra Mundial. Porém, e como não conseguiu ser aceite pela sinagoga de Lisboa, teve de se deslocar a Marrocos para se converter.

De regresso ao Porto lançou-se numa campanha para resgatar outros judeus marranos como ele – descendentes de judeus portugueses e espanhóis que foram obrigados a se converterem ao cristianismo pela imposição da Inquisição – e criou a sinagoga Mekor Chaim do Porto, a maior da Península Ibérica, para além de fundar uma Yeshivá (escola) que funcionou durante nove anos.