Criticando as medidas de austeridade impostas pela “troika” (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu, e União Europeia) aos países periféricos afetados pela crise económica e financeira desde 2008, o responsável do PODEMOS defendeu não só a reestruturação das dívidas pública e privada mas também “uma auditoria cidadã” sobre a questão.
Nacho Alvarez disse ainda que a nova formação política espanhola, liderada por Pablo Iglesias, defende também um aparelho produtivo “sustentável”, uma nova política tributária, combate à corrupção e fraude fiscal e sobretudo o fim dos cortes salariais, que considerou estarem a destruir o Estado Social. “Os cortes salarias não estão a servir para o que nos disseram que iam servir, nem em Portugal, nem em Espanha, nem na Grécia. Mesmo que possam influenciar muito pouco com as exportações — não há dúvida de que contribuem para afundar ainda mais as famílias”, disse Alvarez na sessão organizada pelo Círculo PODEMOS-Lisboa e a Associação MOB, em Lisboa.
Para o político espanhol, as medidas económicas que o PODEMOS defende “não são apenas desejáveis” mas são necessárias, para não se reeditar aquilo que já foi experimentado, sobretudo pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nos anos 1970 e 1980 na América Latina. “As medidas que estão a ser implementadas aqui em Portugal, na Grécia e em Espanha já foram experimentadas. Agora temos milhares de jovens que têm de sair de Espanha e de Portugal para garantir o próprio futuro. Ou mudamos já ou esta será uma década perdida como já aconteceu em outros lugares”, disse.
No caso particular de Espanha, para Nacho Alvarez os governos de direita, do PP, e de esquerda, do PSOE, “têm servido as elites”, sendo que os recentes casos de corrupção “fizeram despertar os cidadãos”, o que explica a subida significativa do partido nas recentes sondagens publicadas pela imprensa de Madrid, “ameaçando o bipartidarismo” e contrariando as forças da esquerda tradicionais espanholas.
“O PSOE, há mais de vinte anos, deixou de ser um partido social-democrata. O espaço politico da social-democracia na Europa está vazio neste momento e o PODEMOS quer ocupar esse espaço e avançar e transformar”, disse.
Segundo Nacho Alvarez, nas áreas económicas o PODEMOS quer “promover uma rutura” com o discurso de direita e de esquerda. “Estamos perante uma esquerda que mais parece a direita. Do que falamos são daqueles que estão em cima e dos que estão em baixo e que se permita aos que estão em baixo intervir na política e não deixar espaço às oligarquias de sempre”, afirmou.
Ao possível êxito eleitoral do PODEMOS (o partido não vai concorrer às eleições locais de 2015 em Espanha) nas legislativas, Nacho Alvarez disse que é uma circunstância que pode abrir as portas a “uma segunda transição” no país, referindo-se aos acontecimentos políticos do Estado espanhol após a morte do ditador Francisco Franco e a elaboração da Constituição de 1977.
Sobre a possibilidade de um partido semelhante ao PODEMOS em Portugal, afirmou que “as cópias nunca são boas”, acrescentando que em Espanha “há uns anos” havia em Portugal o Bloco de Esquerda, que deu “muita esperança a muitos espanhóis”, mas frisou que as realidades são diferentes.
“O que nós fizemos foi tocar uma tecla porque a mobilização existia, assim como existe o descrédito dos partidos políticos fruto de uma transição política sem conclusão. Portugal foi diferente”, concluiu Nacho Fernandez ao referir-se à Revolução de 25 de Abril de 1974.