“Não estou aqui para defender a tortura, estou aqui para defender a História”, começa por escrever o homem que esteve à frente da CIA entre 2002 e 2009 no The Telegraph. Michael Hayden diz que o relatório do Senado divulgado terça-feira serviu para chocar e que as técnicas de “tortura” utilizadas salvaram muitas vidas.

O responsável diz que dos 100 detidos que a CIA interrogou, entre 2002 e 2008, logo após o 11 de setembro, um terço foi sujeito a técnicas de interrogatório “descritas como duras ou como tortura”. A “mais dura”, refere, é a técnica do afogamento usada em “três presos”, o último em 2003. Entre as técnicas usadas, estavam os colarinhos colocados no pescoço dos reclusos ou a limitação na alimentação, permitindo-lhes apenas tomar um líquido de 1400 calorias por dia, diz Michael Hayden

“Se acha que isto constitui objetivamente tortura, respeito a sua opinião”, refere.

Quanto ao relatório divulgado, que refere que o programa usado pela CIA estava “errado” e que a a própria agência que o criou mentia sobre ele, o ex-diretor responde que a técnica “mais dura” utilizada, a de afogamento, era já uma prática comum antiga na formação de pilotos. E que todas as outras foram instituídas pelo próprio Departamento e Justiça e eram consideradas “apropriadas dadas as circunstâncias pós 11 de setembro”.

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Michael Hayden sublinha o relatório quando diz que a maior parte dos abusos ocorrerem há cerca de uma década, no início do programa em que ainda não havia preparação para interrogar terroristas. Mas acusa os autores do documento de não terem falado com ninguém que tenha passado pelo programa por esta altura. Se o tivessem feito, diz, “sabiam que tinham sido salvas muitas vidas”.

“O relatório do Senado (…) é feito para chocar as pessoas. E choca”, diz Michael Hayden.

O ex-diretor lembra que foi graças ao programa que também dirigiu que se evitou um atentado em Londres, quando ali foi detido um terrorista em 2004. Uma informação que saiu de um interrogatório. E termina o seu texto de opinião a pedir respeito por todos os homens e mulheres que, logo a seguir aos atentados, trabalharam para cumprir os seus deveres.

Michael Hayden não é o único que passou pela CIA e que defende as suas técnicas. Nas televisões e, depois, na rede social Twitter já se multiplicaram testemunhos de outros responsáveis que defendem a forma de trabalhar da agência. Alguns bastante veementes, como este:

CIA defende programa, apesar dos “excessos”

Num comunicado de resposta ao relatório do Senado, a agência de informações insiste nos mesmos argumentos.

“A inteligência obtida com o programa foi muito importante para nossa compreensão da Al-Qaeda e até hoje informa os nossos esforços de contraterrorismo”, disse seu atual diretor, John Brennan.

No entanto, a própria CIA reconheceu que houve erros no programa, especialmente no início, quando não estava preparada para a escala da operação de detenção e interrogatório de prisioneiros.

O programa aconteceu entre 2002 e 2007, durante a presidência de George W. Bush. A senadora Dianne Feinstein, membro do Comité de Inteligência, disse que as ações da CIA são uma mancha na história americana, mas que o país “mostra que é altivo o suficiente para admitir quando está errado e confiante o suficiente para aprender com seus erros”, refere a BBC.