As pazes com os Estados Unidos foram feitas, o espetáculo estava marcado e o local não podia ser mais emblemático, a Praça da Revolução bem no centro de Havana. A agenda era simples. Sob o mote, “Eu também exijo” todos se expressariam livremente. Mas tudo não passou de uma esperança. Horas antes de começar a “performance” da conhecida artista plástica cubana Tania Bruguera, as autoridades do país detiveram vários opositores ao Governo Castrista.

Segundo o jornal espanhol El Mundo, entre os detidos estão o jornalista Reinaldo Escobar, assim como outros membros da redação e o ex-estudante opositor Eliecer Ávil, confirmado pela mulher do jornalista e editor do site 14medio, e a artista.

Deborah Bruguera, irmã da artista cubana, já apelou à comunidade internacional para que se “exija ao Governo de Cuba que informe o paradeiro e situação atual” da irmã, no mesmo comunicado feito na sua página de Facebook acrescenta que tinha fontes seguras que lhe haviam dito que a irmã “tinha sido detida na sua casa às 10 horas no dia 30 de dezembro.”

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No caso da detenção de Escobar terá sido a própria filha do jornalista a ver o pai a ser detido quando saía da redação. A sua mulher, conhecida blogger, já teria feito uma publicação onde alertava para a visita da polícia a meios de comunicação ligados à oposição, a quem aconselhavam não estar presentes na iniciativa de Tania Bruguera.

Iniciativa que já tinha sido proibida durante uma reunião no Conselho de Artes Plásticas por “extrapolar a cobertura mediática e a manipulação que têm tido os meios difusores da contrarrevolução” podia ler-se no comunicado do Governo. Foi proposto à artista fazê-lo noutra oportunidade, num espaço fechado tal como já havia feito em 2009 durante a Bienal de Arte de Havana:

“Alterar a ‘performance’ da Praça da Revolução para uma instituição cultural de prestígio no âmbito das artes visuais, tendo em conta que é uma atividade da arte e esse devia ser o seu cenário natural; o espaço a decidir estaria aberto livremente às mais diversas pessoas de setores sociais diferentes, sem embargo, reserva-se o direito de admissão a sujeitos cujo único interesse seja a provocação para gerar conflitos que ponham em risco a liberdade de criação que tem caracterizado a nossa gestão das instituições. Por último, a duração da ‘performance’ não seria ilimitada, mas sim teria 1h30, tempo suficiente para que uma considerável quantidade de espetadores possam emitir livremente os seus juízos, critérios e propostas.” Tânia rejeitou a proposta.

Elizardo Sánchez Santa Cruz,  presidente da Comissão de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional Cubana, encontra-se perto da Praça da Revolução, mas numa informal prisão domiciliária. Uma vez que diariamente vários polícias o impedem de sair de casa.

Esta lista de detidos de uma Cuba que luta “hasta la vitoria, siempre” não para de se adensar, também o fotógrafo independente Claudio Fuentes terá sido preso por querer capturar o momento da iniciativa de Brugueras. A Aliuska Gomes, outra opositora, bastou uma visita da polícia para que o seu nome se juntasse à lista dos que se veem impedidos da liberdade.

Segundo o jornal espanhol, as intenções do Governo cubano são apenas não piorar o ambiente pouco controlável que se instaurou no país depois da abertura aos Estados Unidos da América, abertura essa que só será mantida pelos norte-americanos se Havana respeitar os direitos humanos. A sub-secretária de Estado americana, Roberta Jacobson, já manifestou o seu desagrado pela situação e tem visita agendada ao país.

O país que vive sob o comando dos irmãos Castro tem levado a cabo uma política de desmobilização. Opositores e jornalistas queixam-se de terem recebido mensagens onde se anunciar o cancelamento da iniciativa de Bruguera. Que teria o objetivo de marcar a data do final do embargo e das mudanças que anseia no país, a artista escreveu depois de regressar ao país vinda de Itália:

“Hoje como artista proponho-te, Raúl, a pores a obra ‘O sussurro de Tatlin #6’ na Praça da Revolução. Abramos todos os microfones e escutem-se todas as vozes; que não seja só o ressoar das moedas que nos oferecem para alienar as nossas vidas. Que os microfones não continuem apagados. Aprendamos a fazer algo com os nossos sonhos.”

Mas a empresa de Telecomunicações, Operações e Segurança de Cuba considerou as suas mensagens “subversivas” e as iniciativas provocantes com origem no “desespero de uma máfia anticuba” com sede em Miami a “plataforma com sede no exterior chamada Despierta Cuba.”