“Mais uma vez, muitos economistas estão a precipitar-se ao prever uma saída da Grécia da zona euro. E, mais uma vez, acreditamos que estão errados“, escreve Alberto Gallo, líder da equipa de estratégia em dívida pública e pesquisa macroeconómica do influente banco britânico Royal Bank of Scotland (RBS). Em nota enviada aos clientes, o especialista recorda a incerteza vivida na primavera de 2012 em Atenas e, com base nessa experiência deixa-nos “10 razões por que acreditamos que uma saída da Grécia do euro é um cenário extremamente improvável“.

1. A Grécia é um pequeno problema. Alberto Gallo nota que o produto interno bruto (PIB) de toda a Grécia é comparável ao PIB de cidades como Madrid ou Dusseldorf. Para problemas de dimensão reduzida, não são necessários grandes esforços para que se encontre uma solução, diz o especialista.

2. Há outras formas de aliviar a dívida sem um corte direto. Alexis Tsipras e Yanis Varoufakis ouviram várias vezes, nos primeiros dias à frente dos destinos da Grécia, que um perdão direto da dívida (uma promessa eleitoral) estava fora de questão. Mas o RBS diz que “há outras soluções além de um haircut da dívida” para gerar o alívio de 64 mil milhões de euros de que a Grécia necessita, segundo os cálculos do banco britânico. A troca por obrigações indexadas ao crescimento económico, propostas pelo governo grego, “pode ajudar a Grécia a ganhar flexibilidade no longo prazo e, até, a criar algum potencial de ganhos para os credores”.

3. Para os países do centro da zona euro, os custos de uma saída da Grécia são maiores do que os custos de manter o país na união monetária. Mesmo perder estes 64 mil milhões de euros (menos de 1% do PIB da zona euro) ao longo de vários anos pode revelar-se “um montante pouco significativo comparado com os riscos e as consequências de uma saída”, afirma Alberto Gallo. Em primeiro lugar porque, na opinião do especialista, o euro iria valorizar-se face aos valores atuais se a Grécia saísse, o que penalizaria as exportadoras. Por outro lado, seria criado “um precedente perigoso relativamente a outros países, o que poderia exacerbar possíveis crises no futuro.

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4. A Europa e a Comissão Europeia têm assuntos mais urgentes com que se preocuparem. A situação na Ucrânia e as relações com a Rússia vão continuar a dominar as atenções e a tirar o sono a Angela Merkel. É que, “apesar das sanções, a atividade militar na Ucrânia continua a escalar e não há sinais de que a Rússia esteja disposta a recuar”, diz o RBS. Além disso, os líderes europeus têm presente a sucessão de eleições um pouco por toda a Europa este ano.

5. Os bancos gregos têm acesso à liquidez do BCE e 74 mil milhões ao dispor. Seria necessária uma maioria de dois terços no Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE) para retirar o acesso dos bancos gregos às plataformas de emergência de liquidez. E Alberto Gallo diz que “é improvável que isso venha a acontecer”, pelo que os bancos gregos têm acesso a liquidez suficiente para sobreviver a vários trimestres de necessidades de liquidez.

6. As últimas notícias apontam para uma aproximação entre Bruxelas e a Grécia. É certo que o ministro das Finanças da Alemanha, Wolgang Schäuble, se apressou a negar que esse seja um cenário em cima da mesa, mas várias fontes em Bruxelas disseram na terça-feira que a Comissão Europeia tem um plano para apresentar ao governo grego que passa por uma extensão do atual programa em seis meses. “Há, claramente, uma melhoria no tom dos discursos de ambas as partes, já que há poucos dias víamos uma sucessão de ameaças”, diz Alberto Gallo. “Em especial, a atitude da Grécia tornou-se menos credível à medida que o tempo foi passando, semelhante a um homem que ameaça atirar-se de um edifício mas que, depois, dá um passo atrás”, compara o analista.

7. Há apoio internacional para que se encontre uma solução. Vários líderes europeus mostraram publicamente terem compreensão pela situação da Grécia, com responsáveis de Espanha, Itália e França a expressarem solidariedade, diz o RBS. Até Barack Obama, o presidente norte-americano, afirmou que “não se pode continuar a espremer países que estão a viver uma depressão”.

8. Uma saída da Grécia da zona euro não acontece de um momento para o outro, é preciso votar. Alberto Gallo diz que “seria preciso os países votarem para sair do euro”. E mesmo o BCE precisaria de uma maioria de dois terços no Conselho de Governadores para barrar o acesso dos bancos gregos à ELA (a plataforma de liquidez de emergência), o que equivaleria a uma expulsão da zona euro. “Não está previsto nenhum cenário em que os países podem ser corridos da união monetária”, lembra Alberto Gallo.

9. Os povos não querem que isso aconteça. As últimas sondagens indicam que 70% dos gregos querem permanecer na zona euro. Além disso, 62% dos alemães querem que a Grécia não saia do euro, diz o RBS.

10. A zona euro está cada vez mais unida. Não o contrário. O trabalho feito ao longo dos últimos anos aponta para uma integração cada vez maior entre os países da zona euro. O feito mais notável será, eventualmente, a União Bancária, que já centralizou em Frankfurt a supervisão dos bancos da zona euro. O próximo passo é a união dos mercados financeiros. Alberto Gallo reconhece que tem havido muitas críticas aos líderes políticos, mas considera notável o trabalho já realizado em tão poucos anos. “É um processo lento, mas tem havido progressos”, afirma o especialista do Royal Bank of Scotland.

Alberto Gallo conclui com o seguinte: “A União Europeia é mais do que apenas uma moeda única, é um projeto político de longo prazo. Não esqueçamos que ganhou o Prémio Nobel da Paz há alguns anos“.