O inquérito policial aos atentados terroristas em Paris, a 7 de janeiro, permite concluir com certezas o que há muito já se suspeitava: os atacantes do jornal satírico Charlie Hebdo e o sequestrador de um supermercado judaico conheciam-se e estavam coordenados entre si. A confirmação vem de um simples SMS trocado entre eles e é esta quarta-feira divulgada pelo Le Monde, que teve acesso às conclusões do inquérito aberto pelas autoridades.

Desconhece-se o que o SMS dizia e quão grande era, mas disto há certezas: eram 10h19 quando os irmãos Kouachi enviaram a última mensagem de texto por telemóvel a Amedy Coulibaly. Menos de uma hora depois, Cherif e Said Kouachi chegavam à redação do Charlie Hebdo, em Paris, e assassinavam a tiro 12 pessoas. No dia seguinte, Coulibaly matou uma agente da polícia antes de seguir para um supermercado judaico na zona de Porte de Vincennes, onde manteve diversas pessoas sequestradas durante horas.

A polícia analisou os registos telefónicos dos atacantes e concluiu que a operação terrorista foi preparada com muito cuidado para que nada falhasse. Amedy Coulibaly usou 13 telemóveis diferentes no mês anterior ao atentado e, na linha que recebeu a última mensagem, apenas seis SMS foram trocados entre eles, acreditando os investigadores que este telemóvel só foi usado na parte final dos preparativos.

Antes, na noite de 6 para 7 de janeiro, entre a meia-noite e a uma da manhã, Chérif Kouachi encontrou-se com Coulibaly e terá dito à mulher deste, Hayat Boumeddiene, que saísse de casa. Dias depois, esta era a mulher mais procurada de França, suspeita de cumplicidade com o marido. Ninguém sabe exatamente o que lhe aconteceu, mas acredita-se que fugiu para a Síria.

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O outro Kouachi, Said, só chegou a Paris na manhã do ataque ao Charlie Hebdo. Apanhou o TGV em Reims às 8h31, saiu na Gare de l’Est, entrou no metro e foi ter com o irmão à casa deste. Depois de terem estado na sala a discutir os últimos pormenores, saíram perto das 10h e dirigiram-se à redação do jornal satírico. Segundo o Le Monde, Chérif já vinha vestido completamente de preto de Reims, mas quando saiu de casa do irmão levava um casaco cinzento.

A polícia concluiu igualmente que Coulibaly, antes de se decidir pelo ataque ao Hyper Casher de Porte de Vincennes, tinha pesquisado na internet diversos estabelecimentos comerciais judaicos e verificado os horários de funcionamento dos mesmos.

A simplicidade com que os ataques foram preparados é consequência direta das dificuldades que os serviços secretos franceses tiveram em vigiar os irmãos Kouachi, que já estavam referenciados como potenciais terroristas há algum tempo. Só que os meios estavam a ser canalizados para as pessoas que regressam da Síria e do Iraque para a Europa e a vigilância aos Kouachi parara. E o Governo francês, nota o New York Times, só agora começa a perceber a verdadeira extensão das falhas de segurança que levaram aos atentados.

De acordo com o jornal, um dos vários problemas é o de que, em França, há pelo menos 13 entidades diferentes com capacidade e poder para recolha de informações sobre pessoas suspeitas. Cada uma delas responde a sua autoridade e nem sempre aquilo que uma descobre é dito às outras. Por isso, escreve o matutino, “as falhas de segurança em França são claras, as soluções não”.