desilusão

O próprio Marco Silva o disse no final, já com a partida feita, as ideias assentes e os três pontos no bolso, mesmo que lá tenham entrado a custo. Com o tempo, dizia ele, Tobias Figueiredo “irá controlar melhor aquele lance”. Qual? O que, dava o relógio a décima volta à roda dos minutos, mostrou o central do Sporting a perseguir Guedes e a rasteirá-lo, por trás, quando o avançado, à frente, já só tinha a baliza onde morava Rui Patrício. Apito, falta e cartão vermelho direto, sem conversas ou protestos.

O treinador talvez tenha razão: o Sporting, afinal, vencia por 2-0, o jogo piscava-lhe o olho e o Penafiel inofensivo estava. Portanto, o novato defesa podia apenas ter pressionado o adversário, incomodando-o como pudesse e esperar que a (falta de) pontaria e seu guarda-redes fizessem o resto. Mas não, o central arriscou, falhou, foi castigo e deu a segunda expulsão mais rápida deste campeonato — só Beckeles, do Boavista (aos 9’), demorara menos tempo.

A partida em Alvalade daria mais duas expulsões, ambas no lado do Penafiel que, com 90 amarelos e nove vermelhos, é a equipa com mais cartões amealhados nos relvados. Ao todo, nesta 24.ª jornada, foram nove os pedaços de cartolina encarnados que saíram dos bolsos dos homens do apito. Contas feitas, foram cinco os jogos que não terminaram com 22 jogadores em campo e, por isso, com o molde original do espetáculo que é suposto convencer adeptos a comprarem bilhetes e a sentarem-se nos estádios.

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As expulsões, merecidas ou não, e sobretudo quando punem um acumular de faltas (duplo cartão amarelo), servem mais para afetar o jogo do que para punir os jogadores que deixam de estar no relvado. Talvez por isso a FIFA já se esteja a virar para um caminho de suavizar os castigos: a 28 de fevereiro, o International Board, órgão que decide sobre as regras do jogo, acabou com o chamado “triplo castigo” e aboliu a suspensão que, após uma falta para penálti e um cartão vermelho direto, era até aqui aplicada a um jogador.

O vermelho, portanto, esteve em cinco dos nove jogos da jornada. E num deles, em Arouca, a cor só apareceu, a sério, na segunda parte, em que o Benfica acordou, colocou uma amostra da intensidade que costuma dar às trocas de bola e, aí sim, marcou golos para vencer. Porque não poderá ficar confortável na liderança se continuar a mostrar a lentidão e a falta de desmarcações com que preencheu o seu jogo durante a primeira parte.

destaque

E se os encarnados voltaram para Lisboa com uma vitória, devem um obrigado a alguém. Ou melhor, devem dois, já que Jonas, primeiro, e Lima, por duas vezes, marcaram os golos da vitória. Os agradecimentos devidos já serão vários, pois, dos 60 golos que o Benfica tem marcados nesta liga, 21 vieram dos pés ou da cabeça destes avançados brasileiros. Ou seja, mais de um terço — Lima com 12, Jonas com nove.

Golos também é coisa que Rui Pedro, o que veste o 10 na Académica, tem marcado desde que José Viterbo pegou nas rédeas que Paulo Sérgio deixara a tremer em Coimbra: no trio de partidas com o novo treinador a mandar, e mesmo nunca sendo titular, o médio marcou três golos e a equipa somou sete pontos. Aos 25 anos, o homem que foi acumulando internacionalizações até aos sub-21 (mais de 60) faz por merecer mais atenção, enquanto os estudantes mostram que os problemas estariam mesmo no antigo treinador, que os levou consigo à saída.

Mais um parágrafo, mais linhas sobre golos. Agora por culpa do Sporting, que há uns bons anos que não marcava tantos. Não necessariamente no campeonato — os leões vão com 45, menos 15 que o Benfica e 11 face ao FC Porto –, mas, com os três que conseguiu na segunda-feira, o Sporting chegou aos 80 e já só está a cinco do pecúlio que o clube alcançou com José Peseiro, em 2004/2005. Há dez anos que o clube de Alvalade não rematava tantas vezes a bola para dentro da baliza em 41 encontros (os que já leva jogados esta temporada).

Quem já o fez, muitas vezes e de todas as maneiras, é Jackson Martínez, colombiano que vai a caminho de, pela terceira vez seguida, ser o melhor marcador do campeonato. Foram 17 os golos saídos deste avançado, que se lesionou em Braga e, agora, ainda não se sabe quanto tempo ficará sem tocar num relvado. O bom, para os dragões, foi que a vitória (1-0) no Minho apareceu já sem Jackson em campo, mas com uma prova de que os treinos têm treinado bem certas coisas — o golo surgiu num movimento em que o avançado foge dos centrais, baixa, pede a bola e passa-a para o extremo que aproveita o espaço vago e o desvio de atenções nos defesas contrários. Foi assim que Aboubakar descobriu Cristian Tello, tal como Jackson encontrara o espanhol no clássico frente ao Sporting. Trabalho de casa.

frase

“Não tenho nada contra ele. Dirigi-me de uma forma exaltada no final, disse-lhe que ele não prestava como árbitro e não o cumprimentava mais.” Num jogo com seis amarelos e três expulsões, todas para homens vindos de Guimarães, seria de esperar que Rui Vitória desse palavras ao trabalho do árbitro. Elas apareceram e, pelo menos para variar, o técnico do Vitória falou mais na relação entre ele e o homem do apito e não na que o árbitro teve no jogo.

Não comentou as decisões, os enganos, os erros, as precipitações, nem se alongou no “medo de conduzir a partida”, que chegou a diagnosticar em João Capela. O treinador não gostou da prestação do árbitro, sim, mas talvez tivesse presente, na cabeça, que nessa profissão também se erra e, portanto, pareceu criticar mais o João Capela-pessoa, do que o João Capela-árbitro. Ele que acabou por se deixar levar por um jogo que, aliás, Petit, técnico do Boavista, já tinha antevisto como “rasgadinho”. Foi mesmo.

resultados

Sporting de Braga 0-1 FC Porto
Vitória de Setúbal 1-1 Belenenses
Moreirense 0-2 Académica
Marítimo 2-1 Paços de Ferreira
Arouca 1-3 Benfica
Estoril Praia 1-1 Gil Vicente
Boavista 3-1 Vitória de Guimarães
Rio Ave 1-1 Nacional da Madeira

A conversa já não é nova e, com ou sem expulsões e polémica, o Boavista lá somou outra vitória em casa. Foi a sexta que conseguiu sobre a relva sintética do Estádio do Bessa, onde colheu 19 dos 25 pontos que, para já, deixam a remendada equipa com seis pontos a mais do que o penúltimo classificado.

Em Vila do Conde viu-se um jogo animado, cheio de ataques rápidos graças ao desatino de Rio Ave e Nacional da Madeira a defenderem. Deu em empate e deixou mais à vontade o Belenenses (empate) e o Paços de Ferreira (derrota), que assim não foram castigados por também deixarem fugir pontos nesta perseguição aos lugares que reservam viagens para as competições da UEFA, na próxima época.