O cônsul geral de Portugal em Maputo considera que “faltam resultados nas investigações dos raptos em Moçambique”, quando a capital moçambicana experimenta uma nova vaga deste crime. Este ano já foram raptados três portugueses naquele país.

“Não se veem condenações dos mandantes nem dos mediadores”, observou Gonçalo Teles Gomes, assinalando que as punições em tribunal de agente policiais envolvidos nas redes de raptos “evidentemente não tranquilizam”.

“Queremos pensar que a polícia está empenhada e faz tudo, nós reiteradamente oferecemos a nossa disponibilidade para ajudar o Governo moçambicano a combater esse flagelo”, disse o diplomata, acrescentando que esta persistente vaga de raptos “está a desestabilizar as famílias moçambicanas e expatriadas e a provocar um dano importante na imagem de Moçambique, até em potenciais investidores”.

Comentando a admiração generalizada sobre a incapacidade de as autoridades moçambicanas conterem esta vaga de crime, Gonçalo Teles Gomes disse que ele próprio está “intrigado”.

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“As forças policiais provavelmente tentam fazer o seu melhor, mas não têm chegado a grandes resultados”, insistiu, referindo que “os grupos criminosos perceberam que é um negócio que gera recursos facilmente e rapidamente”, além de se sentirem impunes, atuando no centro da capital, à luz do dia.

O diplomata testemunhou o rapto de um cidadão português, há dois meses, a partir do seu gabinete no Consulado na avenida Mao Tse Tung, no coração da capital.

Na mesma semana, uma portuguesa foi levada na avenida Julius Nyerere, junto da delegação da União Europeia em Maputo e de outras embaixadas e a escassos metros da Presidência da República de Moçambique.

Dos quatro casos de raptos ocorridos em Maputo desde o início do ano, três atingiram vítimas com nacionalidade portuguesa, o último dos quais uma luso-moçambicana de 19 anos, no dia 20 de maio, também no centro da cidade, na mesma manhã em que o Presidente da República, Filipe Nyusi, discursava durante uma cerimónia de graduação de oficiais da polícia, exigindo uma resposta adequada e oportuna ao crime organizado.

As vítimas acabaram por ser todas libertadas e bem de saúde, sem detalhes fornecidos pelas famílias ou pelas autoridades.

“Tentamos dar todo o apoio possível às famílias, a todos os níveis, na negociação, no apoio psicológico, tudo o que é possível fazer em entidades que estão fora do seu país”, referiu Teles Gomes sobre a atuação do Consulado nestes casos.

Durante o desenrolar do último rapto, a Lusa tentou obter reiteradamente informações da Polícia da República de Moçambique, sempre sem sucesso.

O novo Governo moçambicano, empossado em janeiro, declarou o combate à criminalidade organizada como uma das suas prioridades e vários quadros de chefia de forças policiais foram substituídos este mês, incluindo o diretor da Polícia de Investigação Criminal.

As autoridades policiais enfrentam uma pressão crescente da opinião pública, agravada no início de março pelo assassínio a tiro do constitucionalista Gilles Cistac, no centro da capital, num crime que assumiu contornos políticos e que continua por desvendar.

O bastonário da Ordem dos Advogados alertou, no dia passado dia 02, durante a abertura do ano judicial e na véspera do assassínio de Cistac, que a situação da polícia constitui “um dos elos mais fracos” do Estado moçambicano.

“Se não queremos que a alternativa ao Estado de Direito impere, isto é, que a arbitrariedade reine, precisamos de reformar urgentemente a polícia”, apelou Tomás Timbane