A Grécia está confiante que será possível chegar a um acordo com os credores europeus sobre o programa de resgate que permita receber a última tranche do empréstimo internacional até à próxima reunião do Eurogrupo, disse o ministro das Finanças grego em entrevista, onde admite também que o Governo e os cidadãos estão “em agonia” devido aos problemas de tesouraria. Ser ministro das Finanças nesta altura, diz, está entre ser atingido por um raio e a cadeira elétrica.

Numa entrevista ao jornal económico grego Naftemporiki onde aborda as relações com a Rússia e China, a relação com o seu homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, e o difícil estado dos cofres gregos nesta altura, Yanis Varoufakis mantém-se as mesmas posições de confronto, mas num tom mais conciliatório.

O governo está em agonia, como os cidadãos o estão, devido à contração de crédito no mercado que é resultado da política dos credores em relação ao país e às dificuldades em concluir as negociações o mais rapidamente possível. Ao mesmo tempo, no entanto, não vamos condenar o país, como governos anteriores o fizeram, a um aperto de longo prazo aceitando termos e medidas que garantem esse resultado”, disse o governante.

O ministro das Finanças acusa ainda as instituições de discriminar a Grécia e diz que esse comportamento “está a ameaçar o princípio de não-intervenção das instituições na política interna de um Estrado membro da zona euro”. Varoufakis acusa ainda as instituições de inconsistência nas suas posições, dizendo que alguns dos técnicos seguem as suas próprias agendas, que nem sempre coincidem com a vontade política de quem lidera as instituições.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ainda assim, Yanis Varoufakis mostra-se confiante que vai ser possível chegar a um acordo com os credores, que permita o que considera ser uma verdadeira estabilização da economia grega e o fundamental crescimento económico. Esse acordo terá de chegar, mesmo que apenas relativamente às bases, no próximo Eurogrupo, que se realiza no próximo dia 24, tal como acordado a 20 de fevereiro, entre os ministros das Finanças da zona euro.

O plano de cinco pontos:

Para que a dívida pública grega seja sustentável, o governante defende que é necessário que aconteçam pelo menos cinco coisas. Nenhuma delas é particularmente nova, e, como é o caso da reestruturação com reescalonamento da dívida pública, algumas até já foram rejeitadas pelos credores.

Em primeiro lugar, a Grécia continua a defender que é necessário que os saldos primários exigidos pelas instituições sejam mais baixos para que o esforço necessário para se conseguir esse objetivo não provoque mais recessão ou agrave as condições de vida dos mais desfavorecidos. Para isso, diz, a meta para o saldo primário (exclui juros) não deve ser superior a 1,5% do PIB, em vez dos 4,5% acordados pelos governos anteriores.

A reestruturação de dívida continua a ser necessária, defende, mas não necessariamente através de um perdão (ainda que parcial). A ideia continua a ser substituir dívida atual por obrigações ligadas ao desempenho da economia.

Yanis Varoufakis defende também que é preciso que a Europa desenhe um plano de investimento exclusivamente para a Grécia, usando para isso fundos do Banco Europeu de Investimento (BEI) e do novo plano Juncker, que seria sobretudo (mas não completamente) destinado ao setor privado.

Outro dos pontos é a necessidade de limpar os balanços dos bancos, que estão em dificuldades devido ao crescimento do crédito malparado. O Governo grego defende uma profunda reestruturação desses empréstimos, que seriam transferidos para um banco mau criado para o efeito, e geridos com os fundos que ainda existem no fundo grego para a recapitalização da banca.

Por fim, e de forma mais geral, as reformas necessárias para aumentar o potencial de crescimento da economia, reavivar o investimento e promover o empreendedorismo.

Relações com a Rússia e com a China

Na sequência da antecipada visita esta semana de Alexis Tsipras à Rússia, o ministro das Finanças foi questionado sobre uma eventual aproximação à Rússia e à China, na sequência das relações conturbadas que a solução para crise grega “é um assunto para família europeia e tem de ser encontrada dentro do enquadramento institucional da União Europeia”.

“Criar relações mais próximas com países fora da União Europeia e da zona euro, que têm interesses comuns com a Grécia, e a vontade de as promover na base da cooperação, é um capítulo completamente à parte”, disse.

Sobre o cenário de uma saída do euro, Yanis Varoufakis, recusou que isso venha a acontecer e diz que “quem analisar esses planos ou simplesmente discutir a hipótese está a prestar um mau serviço à Europa”.

A relação com Schäuble e os rumores de demissão

“Todas as reuniões foram realizadas debaixo de um excelente ambiente e com a franqueza exigida pelas circunstâncias. Como já lhe confessei, é uma honra para mim ter conhecido e negociado com uma pessoa que é capital na história da União Europeia. Gosto de acreditar que neste enquadramento ele poderia visitar a Grécia tanto antes como depois de um acordo dignificante ser atingido que restaurasse a visão de Europa dos cidadãos gregos como um local de prosperidade e democracia, comum a todos os europeus”, disse.

Sobre a sua demissão, o governante grego diz que “nem por um instante” pensou em abandonar o cargo. “Quando aceitámos a responsabilidade de governar, todos os nossos colegas e camaradas, sabíamos que estávamos a tomar posse com condições apertadas, que tinham como objetivo derrubar o primeiro Governo de esquerda. Nestas circunstâncias, o papel de um ministro das Finanças é algo entre um raio e uma cadeira elétrica. Tendo isto em conta, nada me surpreendeu”.