“Vamos deixar os entretantos e partir para os finalmentes”
Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) em “O Bem Amado”
A primeira telenovela a cores produzida pela Rede Globo, em 1973, foi também a primeira a ser exportada para outros países. A Portugal chegaria apenas 11 anos depois, através da RTP, mas bem a tempo de deixar a sua marca. O discurso absurdamente pomposo do político corrupto Odorico Paraguaçu, prefeito da cidade fictícia de Sucupira, fez nascer alguns bordões cómicos, sendo que a junção de “entretantos e finalmentes” ficou para a história.

https://youtu.be/a4wT5asPcvM?t=48

“‘Tô certo ou ‘tô errado?”
Sinhozinho Malta (Lima Duarte) em “Roque Santeiro”
A prova de que a expressão resistiu às três décadas que separam “Roque Santeiro” da atualidade está na forma como o público que assistia no último domingo à gala dos Globos de Ouro, organizada pela SIC e pela Caras, reagiu quando Lima Duarte, agora com 80 anos, a recordou em palco. Nem sequer faltou o abanar das pulseiras que despertava o som da cascavel e que, muitas vezes, antecedia a famosa pergunta.

“Nos trinques!”
Timóteo d’Alembert (Paulo Betti) em “Tieta”
Ainda hoje será possível ouvir alguém referir-se a outra pessoa que esteja bonita ou bem vestida como estando “nos trinques”, uma expressão roubada a Timóteo d’Alembert, uma das personagens mais divertidas de “Tieta”. Mas esta foi uma telenovela tão marcante que acabou por enriquecer com outros bordões o léxico diário de portugueses e brasileiros. Como “Eta lelê”, da própria Tieta, ou “Mistééério” da personagem Dona Milú.

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“Na chon!”
Dona Armênia (Aracy Balabanian) em “Rainha da Sucata”
Aqui não se trata tanto de uma expressão cuja utilização tenha sobrevivido ao tempo mas antes de uma que toda a gente reconhece. Em “Rainha da Sucata”, era constante a demanda de Dona Armênia em derrubar o prédio construído num terreno seu, dizendo que o ia colocar “na chon”. A personagem (que, recordemos, também tratava os três filhos por “meus filhinhas”) fez tanto sucesso que a Globo voltou a dar-lhe vida dois anos mais tarde noutra telenovela, “Deus nos Acuda”.

“É justo, é muito justo, é justíssimo.”
Coronel Belarmino (José Wilker) em “Renascer”
Se fosse necessário provar o brilhantismo do saudoso José Wilker, falecido há pouco mais de um ano, bastaria contar a história de como surgiu a expressão mais conhecida da telenovela”Renascer”, onde interpretava a personagem do Coronel Belarmino. Foi, ao que consta, numa cena em que o actor se esqueceu da fala. Wilker não ficou atrapalhado: improvisou, a frase pegou e “é justo” tornou-se numa forma simples de concordar com alguém sem lhe conceder razão.

“Stop, Salgadinho!”
Lucineide (Regina Dourado) em “Explode Coração”
Apesar de ser uma telenovela que tocava em assuntos sérios, como o preconceito contra ciganos ou o desaparecimento de crianças, “Explode Coração” tinha uma vertente cómica forte, cortesia, sobretudo, do casal Lucineide e Salgadinho (Rogério Cardoso). As discussões entre ambos eram comuns e ruidosas e, geralmente, acabavam ou começavam com o célebre “Stop, Salgadinho!” a que não raras vezes Lucineide acrescentava “Take it easy, me poupe, me economize”.

“Oxente, my god.”
Dona Altiva (Eva Wilma) em “A Indomada”
Muitos dos habitantes da cidade fictícia de Greenville, criada para a telenovela “A Indomada”, misturavam palavras em inglês e português, juntando-lhes ainda uma boa dose de sotaque nordestino. Poucos, no entanto, o faziam com a classe e o talento da vilã Dona Altiva, um enorme papel de Eva Wilma. A exclamação “Oxente, my god” — tal como a sua frase final “I will be back, me aguardem” — tornou-se um bordão tão conhecido que foi recuperado 15 anos mais tarde em novo papel da mesma actriz, na telenovela “Fina Estampa”.

“Cada mergulho é um flash.”
Odete (Mara Manzan) em “O Clone”
Se há telenovela que ficou conhecida pela quantidade de expressões que tornou célebres foi “O Clone”, criada por Glória Perez e exibida pela SIC em 2001. No Brasil ainda é frequente ouvir a frase da personagem Odete (Mara Manzan) “cada mergulho é um flash” para falar de um sítio muito frequentado por gente famosa. A juntar a esta, sobreviveram algumas outras, como “espectaculosa”, para uma mulher que dá nas vistas ou”não é brinquedo não”, para uma situação difícil.

“Eu sou chique, bem.”
Márcia (Drica Moraes) em “Chocolate com Pimenta”
Transmitida pela SIC em 2004, “Chocolate com Pimenta” bateu, na altura, recordes de audiências de vários anos. De tal forma, aliás, que o canal repetiria a transmissão da telenovela menos de um ano depois do seu final, noutro horário. Muito desse sucesso deveu-se à personagem Márcia que, apesar das origens humildes, não perdia uma oportunidade para se afirmar “dona e proprietária” do seu salão de beleza. Segundo ela, isso fazia de si “chique, bem”.

“Deite que eu vou lhe usar.”
Coronel Jesuíno (José Wilker) em “Gabriela”
No remake de 2012 de “Gabriela”, cuja versão original foi a primeira telenovela transmitida em Portugal, o Coronel Jesuíno, interpretado por José Wilker, fazia jus ao seu estatuto de patife despudorado usando, frequentemente, esta frase especialmente machista. “Deite que eu vou lhe usar” ficou para a história da trama e não só: aproveitando a fama da expressão, o artista Thiaguinho lançou, no ano seguinte à novela, a canção homónima.

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