A idade não pode murchá-la, nem o hábito envelhecer a sua infinita variedade: as outras mulheres saciam os apetites que despertam, mas ela dá-me mais fome quanto mais satisfeito. Até o mal vil torna-se puro nela e até mesmo os sacerdotes bendizem o ardor da sua luxúria.
A descrição é de William Shakespeare, na voz de Marco António na obra “António e Cleópatra”. Mas era assim que todos os homens olhavam para a rainha do Antigo Egito. Reza a história que a elegância e beleza desmedida tornavam Cleópatra numa perdição para os homens: depois dos irmãos Ptolomeu XIII e XIV – com quem casou por costume egípcio – teve relações ardentes com os imperadores romanos Júlio César e Marco António.
À conta das suas capacidades de sedução aliada aos dotes físico, a egípcia terá conseguido assegurar a manutenção do trono do Egito e a prosperidade do reino. Esta é a história tal como a conhecemos, escrita pelos antigos historiadores romanos e gregos. Mas será história ou lenda?
Aroa Velasco, historiadora especializada no Antigo Egito e responsável pelo site especializado “Papiros Perdidos”, diz que andámos enganados até hoje: ela não era tão bela quanto se julga, escreve o ABC. Aliás, tinha nariz empinado e até um “buço proeminente”. Só que, como os romanos e os gregos não a conseguiam derrubar, inventaram as histórias da sua beleza irresistível com a qual dominava os líderes políticos da época.
Claro que a paixão assolapada que despertava nos homens, que caíam nos seus encantos, gerava também uma série de adjetivos maledicentes, como “rameira”, “lasciva” ou “égua indecente”. E nem sequer são os nomes mais ofensivos, conta Belén Ruiz Garrido, historiadora que realizou um trabalho intitulado “Eu sou Egito. O poder e a sedução de Cleópatra nas artes plásticas e cinema”. No mínimo chamavam-na de “mulher estranha”.
Uma coisa é certa: feia ou extremamente bonita, Cleópatra manteve o reino de pé. E a historiadora Aroa Velasco só tem uma justificação para o sucesso desta mulher: era muito culta. Os especialistas afirmam que a rainha dominava várias línguas, interessava-se por ciência e gostava de literatura. E essa inteligência notável obrigava os homens daquele tempo a inventar histórias de ocultismo e bruxaria em redor da poderosa mulher.
E a vaidade? Velasco diz que não existem provas arqueológicas que possam confirmar ou desmentir o rumor de que Cleópatra era uma apaixonada por cosméticos e outros produtos de beleza, e que entre a suas práticas diárias constava um banho em leite de burra para amaciar a pele. A verdade é que o povo egípcio sempre utilizou esses produtos: se agora têm fins estéticos, na altura serviam acima de tudo para proteger a pele do sol e dos mosquitos. Por isso seria normal que Cleópatra se maquilhasse intensamente: para se embelezar, sim, mas também para se aproximar da plebe e para se proteger do clima mais severo.
Contudo, foi desvendado recentemente um novo hábito de beleza adotado por Cleópatra: o cirurgião plástico David Jack veio dizer que a rainha egípcia esfoliava a pele com leite e frutas e depois passa uma faca por cima da pele para eliminar as células da camada superior da pele. Agora, Jack diz que pode fazer o mesmo: abriu uma clínica onde utiliza ácidos madélico e glicólico em vez da fruta e ácidos salicílico e láctico para substituir o leite. Um tratamento caro, mas que diminui a idade dermatológica em cinco anos.
Será mesmo verdade? Anoa Velasco não pode responder: nunca ouviu falar desta técnica nem tem dados sobre ela. Mas “enquadra perfeitamente no estilo de vida egípcio”, conclui.