O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, deixou claro que se prepara para anunciar alterações no Executivo que lidera até ao final de junho. “Antes que acabe este mês terei de tomar algumas decisões”, avançou à imprensa em Bruxelas, acrescentando que estas mudanças serão para “aproveitar a possibilidade de recuperação e criação de emprego”.

Um dia antes destas declarações de Rajoy, já o secretário de Estado das Relações com as Cortes e segundo porta-voz do Governo espanhol, José Luis Ayllón tinha dito à imprensa que as mudanças preparadas pelo chefe de Governo espanhol deverão ser vistas não em quantidade mas em qualidade. “Não acredito que uma remodelação cosmética seja uma remodelação. Não acredito que seja unicamente chapa e pintura. Não são precisas muitas mudanças”.

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Esta última frase (“não são precisas muitas mudanças”) serviu para reforçar junto da imprensa espanhola a tese de que Rajoy se prepara para substituir a sua número dois, a viceprimeira-ministra e porta-voz do Governo, Soraya Saénz de Santamaría. Também o ministro da Educação, Cultura e Desporto, José Ignacio Wert, deverá abandonar o cargo para passar a ser o embaixador espanhol na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Outro cenário possível é que o ministro da Saúde, Alfonso Alonso, passe para o lugar de porta-voz do governo.

Não é por acaso que, para além das mexidas no governo, também se fala de alterações no PP. Na mesma ocasião, em Bruxelas, Rajoy disse aos media que tem dois chapéus: o de primeiro-ministro e o de presidente do Partido Popular (PP). E as preocupações que este último chapéu representa não são de somenos. As eleições autonómicas de 24 de maio representaram um rombo considerável para os conservadores, a quem não valeu o facto de terem sido o partido mais votado. Isto porque, apesar da vitória, perderam a maioria em todas regiões, tornando-se assim reféns de possíveis acordos e coligações pós-eleitorais entre os outros partidos – os socialistas do PSOE, os esquerdistas do Podemos ou o Ciudadanos, de centro-direita.

“Fazer o PP mais atrativo”

José Luís Ayllón, o segundo porta-voz do governo espanho, traçou o objetivo dos conservadores após as reformulações que se avizinham: “Fazer o PP mais atrativo”. Uma versão light da frase de António Pires de Lima que remonta a 2006, altura em que ainda não era ministro da Economia e quando a liderança de José Ribeiro e Castro incomodava alguns setores do CDS/PP: “O CDS precisa de ser sedutor e sexy”.

O tal “PP mais atrativo” poderá surgir pela via da comunicação. Segundo nota o El País, Rajoy pretende que as políticas promovidas pelo seu partido e aplicadas pelo seu governo sejam promovidas mais eficazmente. Tal pode representar um quadratura do círculo: ao mesmo tempo que pretende fazer mudanças consideráveis, o PP quer passar uma ideia positiva do mandato que iniciou em dezembro de 2011. Foi o próprio Rajoy que confirmou essa intenção. “Não convém mudar o que funciona”, disse, argumentando que tal seria “um erro descomunal, monumental e muito grave”. O El País escreve que Rajoy e a sua equipa estão confiantes num crescimento da economia espanhola para lá dos 3% e na criação de 800 mil postos de trabalho até ao final do ano.

Só que esse PP “atrativo” pode ser sinónimo de um PP com outra liderança para além de Rajoy. Uma sondagem da Metroscopia apurou que mais de metade dos eleitores dos conservadores preferem que o partido concorra às eleições legislativas de novembro com um novo presidente. Uma das hipóteses aventada pelos consultados deste estudo é precisamente Soraya Saénz de Santamaría – a porta-voz do governo que Rajoy se prepara para despromover.

Eleições no final de Novembro

A data das eleições ainda não é definitiva (fala-se em 22 ou 29 de novembro), mas o primeiro-ministro espanhol já disse que recusa um cenário de eleições antecipadas: “Ainda há mandato para continuarmos a fazer coisas”, disse, também em Bruxelas. “As medidas que tomámos começam a dar os seus frutos, estamos num momento de recuperação que há que aproveitar.”

Rajoy encontra-se neste momento em Bruxelas, onde está a decorrer uma cimeira entre os países da União Europeia e os da América Latina e da Caraíbas – ao todo, são 61 nações que ali estão representadas pelos seus líderes. O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, deu preferência às celebrações do Dia de Portugal e não compareceu em Bruxelas, pelo que o país está representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete. E é também na capital belga que, à margem da cimeira da UE com a América Latina, Angela Merkel, François Hollande e Alexis Tsipras se vão reunir para discutir a situação grega na noite de quarta-feira.